quinta-feira, 31 de julho de 2008

24/7



Nao sei se todos estavam lá pelos mesmos motivos pois haviam muitos motivos para estar lá. Essa festa que parece juntar tribos e reunir pessoas queridas e seus desafetos em uma inesperada harmonia, tem razao de ser. Alguns foram pelas palestras, pela oportunidade de aprender tecnicas e discutir teorias. Outros foram pelos amigos, para rever, para conhecer, para cultivar... Tem os que foram para ver e realizar cenas em um ambiente apropriado. E tambem tem os que foram porque sabiam do tamanho e peso do evento e nao podiam ficar de fora.

Eu fui, e irei todos os anos que me for possivel pelo mesmo motivo. Para comemorar uma data e marcar presença como o que sou. Para comemorar e exaltar o Sadomasoquismo da maneira que me cabe. Vou pra mostrar que existimos e somos muitos. E somos sim, normais, apesar de todo Sadomasoquista ser um tanto incomum.

Foi uma festa eufórica de abraços e sorrisos. Tive a chance unica de "palestrar" entre amigos queridos. É verdade que eu carregava em mim algumas ausencias... pessoas que nao puderam estar alí, ou que optaram por nao estar, mas que em mim, estavam.

E em meio a uma cena que assisitia, captei um olhar de menina. Ela observava a cena e a absorvia com paixao. Ela cantava baixinho o nome de Sade nessa musica tao conhecida por nós, que alí estavamos. É nesse olhar que mora o motivo. Nesse olhar que diz "é isso que amo e que quero" se justificou completamente a minha presença nesse evento tao bonito.


=)


"Sade dit moi
Sade donne moi
Sade dit moi qu'est ce que tu vas chercher?
le bien par le mal
la vertu par le vice
Sade dit moi pourquoi l' 'evangile du mal?
quelle est ta religion ou` sont tes fide`les?
Si tu es contre Dieu, tu es contre l'homme.
Sade dit moi pourquoi le sang pour le plaisir?
Le plaisir sans l'amour.
N'y a t'il plus de sentiment dans le culte de l'homme ?
Sade es-tu diabolique ou divin?"

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Verdadeira


Que é isso que escondes na bolsa sabiamente parda
Quando passo silenciosamente desconfiada
E te vejo, aparentemente serena?
Uma dor? Um vício? Um dilema?

Que traz sob o sorriso vago, melancolicamente treinado
Em teu espelho, confidente único
De tuas verdades que em vão procuro
Um desespero? Um medo? Um absurdo?

Que paixão secreta te move a alma
E te molha os olhos, e te rouba a calma
Que pinta no rosto ao sair de casa?

Ate teu andar é torto e tu és direita
Que medo de não ser aceita
Justifica tamanha ilusão?

Se ser boa e bela é sacrilégio
Travestir-se de sombra é privilegio
E é vantagem, em um mundo cão

Destruíste meu soneto
Criaste em mim o ímpeto
De ultrapassar quartetos e tercetos

E sou poeta, pra mim a métrica
É solução... roubaste-me a razão?

Te vejo tímida, e a tua timidez contrasta
Com tuas vestes libertinas, tua cruz de prata

Te quero inata!
Te tenho incerta...
Te tenho ausente...
Te quero inteira.

Indecentemente... verdadeira!

sábado, 19 de julho de 2008

De novo a história de O.....

Não agüento mais... simplesmente não consigo... me recuso a ouvir mais uma vez gente citando a historia de O como se fosse uma das grandes obras da literatura e ficar quieta.

Tudo bem que tem seu valor histórico, para o publico restrito dos romances eróticos sadomasoquistas... Mas será que fui só eu que achou que a mensagem geral da historia não fala lá muito bem do SM?

Se vc ainda vai ler, abandone esse post.... pois me sinto compelida a falar um pouquinho dos dois finais...

Pois bem.... se vc já leu, sabe muito bem que toda a trajetória da personagem O termina numa dessas duas situações: o abandono ou o suicídio.

Os dois dominadores que a tiveram, o namorado e Sir Stephen, a abandonam no final. A personagem segue, cada vez mais se despindo de seu ego até que em um dos capítulos, aparece mascarada, entregue a quem quer que a queira, despida de qualquer traço de personalidade ou de qualquer restrição, ou sintoma de vontade e desejo próprios. Tornou-se por fim, a submissa mais submissa de todas as submissas. É comparada a um animal (isso não sou eu que faço, é a autora). Um casal na festa, discute em sua presença se fariam ou não uso dela, e ela, muda, aguarda a decisão, em sua fantasia de coruja. Porque rosto, já não tem. Gente, já não é. Perde qualquer conexão com sua própria humanidade. Os dominadores mais durões dirão: Louvável!!! Mas se é tão louvável assim, porque ao chegar ao auge da submissão ela é abandonada à própria sorte?

Talvez eu tenha entendido errado, mas me parece que o titulo poderia muito bem ter sido “Ascensão e Queda de O” ou “O em Decadência”. O segundo final que o livro propõe ainda me da mais argumentos para teorizar assim. "O", após ser abandonada teria se suicidado, com o consentimento de Sir Stephen. Bela dominação. Aplaudam a Pauline! Digam, subs de plantão que adorariam estar nas mãos de um homem assim! Eu, vou continuar dizendo que gosto sim, da obra, mas que para mim ela não exalta as relações D/s, e sim, propõe a seguinte questão, que alguns leitores parecem não perceber:

Será que uma entrega que desumanize o ser entregue é desejável? Será que no momento em que uma submissa torna-se DE FATO objeto, destituído de vontades e desejos próprios, ela não se torna ao mesmo tempo um ser dispensável? Será que os dominadores querem de fato governar alguém sem paixões próprias? Ou será que mesmo aqueles que desejam alguém que os obedeça, esperam algum desafio, alguma restrição, algum foco de incêndio passional que mostre que aquela com quem estão também sente, quer, tem princípios independentes?:

Vi tanta coisa acontecer nesses 4 anos em que tenho tido a chance de ver e viver o BDSM. Vi tanto absurdo feito em nome da dominação... E aqui, me abro com quem teve a paciência de me ler até agora, para um relato pessoal. Quem anda comigo já ouviu essa historia certamente. Eu a repito a todos com quem tenho amizade, pois isso é algo pelo que nunca mais quero passar na minha vida.

Eu tive uma amiga. Dessas amigas que agente ama, ouve, chora no colo. Em geral, sou reservada, pouco falo de mim. Ela me ganhou, quebrou minhas barreiras e eu era extremamente grata por te-la em minha vida.
Ela tinha um Dono.
O Dono se indispôs comigo por eu ser próxima a alguém que ele acreditava ter feito mal a ele.
O Dono a proibiu de ter qualquer contato que fosse comigo.
Ela me ligou. Contou o que ele tinha dito
Eu ri. Era um absurdo. Esperei que ela risse também.
Mas ela chorava.
Demorei pra entender porque ela chorava. Eu devia estar em “negação”
Ela me disse que me adorava, mas que deletaria meu nome de suas listas de amigos e não mais me ligaria.

Desliguei o telefone. Naquele me momento eu também me desligava de vários conceitos que antes tinha sobre dominação e submissão. Eu me refiz em bases mais solidas. Eu nunca mais fui a mesma.

O Dono de minha amiga já é ex dono. Eu e ele conversamos sobre nossos problemas e refizemos nossa amizade. Ela eu vejo muito esporadicamente, no meu MSN onde a aceitei de volta. “Oi, tudo bem?” “Tudo, e vc?” “Tudo ótimo”. A isso se resumiu minha amizade com minha confidente dos velhos tempos. O mundo dá voltas. Sinto saudades. Talvez um dia venhamos a retomar um contato maior. Talvez...

Mas aqui... aqui termina a inocência. Aqui eu velo a "O" em mim. Aqui eu renego amizade com as "Os" da vida. Aqui eu digo, quero gente de verdade. E tenho amizade com submissas, sim... porque não? Eu ainda acredito que existem submissas com princípios que não se vende, não se dá e não se entrega!




Ah, quase esqueci... alguem reparou que a letra "O" tem a mesma forma do numero zero?

;)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Caminhos...

Tenho uma tendência à procrastinação. E quem pode me condenar por isso, se vivo em um mundo tão rico de escolhas e possibilidades. Tão absolutamente imprevisível, e tão rico em experiências, que ao invés de aproveitar esse privilegio, as vezes contemplo tudo, e tanto, que termino paralisada. E eu não sou a única.
Minhas melhores amigas também sofrem desse mal. Mulheres feitas, independentes, empreendedoras que também são assaltadas por essa letargia da escolha. Caminhos, muitos deles, se põe a seus pés, se bifurcando e se abrindo em tantos atalhos que entontecem, cegam, seduzem... O grito é o mesmo grito de Alice, lá em seu país das maravilhas...

“- Um lado irá fazê-la crescer, e o outro irá fazê-la diminuir.
“Um lado do que? Outro lado do que?” pensava Alice consigo mesma.
- Do cogumelo - respondeu a Lagarta, como se Alice tivesse perguntado em voz alta, e já no momento seguinte, a Lagarta havia desaparecido.
Alice permaneceu pensativa, olhando para o cogumelo por um minuto, tentando compreender quais eram os dois lados da planta, e como ela era perfeitamente redonda, sentiu-se em meio de uma difícil questão. Entretanto, por fim a menina esticou seus braços o mais que pode em torno do cogumelo e cortou um pedaço da borda com cada mão.
“E agora? Qual é qual?”

Pois é, minhas queridas amigas. Eu também queria saber. Mas o fato é que o tempo das respostas fáceis já se foi. Hoje em dia, cada escolha é uma aventura, uma incerteza. Cada sim implica em milhares de nãos. E dizer não, dói. Uma escolha nem sempre é liberdade. As vezes uma escolha é uma privação. E caminhamos, escolhendo tanto, pensando tanto, buscando tanto nosso caminho claro e definido, que quando chegamos onde queríamos, nos colocamos a repensar se era isso mesmo, se valeu a pena, se os atalhos que nos negamos a tomar não esconderiam em si exatamente aquilo que nos motiva, que nos faz viver de verdade.

Ou talvez, talvez agente possa, com muita sensibilidade e um baita de um jogo de cintura, driblar as escolhas e viver entre o sim e o não, nos permitindo as incoerências, saboreando as contradições de nossa amada vida moderna.

terça-feira, 15 de julho de 2008

SEX SHOP



Entro. Destemida.
Sorrio e digo bom dia à recepcionista, uma moça já vestida e tatuada adequadamente para passar a impressão de que entende do que fala. Toco meu piercing como que para ter certeza que ele continua lá. Ok. Piercing em posição. Sou do meio. Veterana. Sigo tranqüila.
A morena tatuada se aproxima lentamente enquanto olho as fantasias... enfermeira, diabinha, dominatrix... Ela acha a brecha pra puxar aquele papo explicativo:

- Essa ia ficar linda em você. Você tem um jeito de mulher mais confiante... mais... dominadora!

Eu rio, discretamente.

- Tem alguma de empregadinha?

Enquanto ela se inclina procurando a fantasia, diga-se se passagem, um pedaço de pano ruim se fazendo de avental e um vestidinho preto curtíssimo, desses que tenho uns 20 jogados no armário, eu vejo a tatuagem mal feita em sua batata da perna. Duas anjinhas, se beijando, com as pernas entrelaçadas. A brincadeira acaba de ficar mais interessante...

Rejeito a fantasia... sigo para o corredor de cosméticos. Cremes, óleos e todo tipo de gel com todo o tipo de efeito.

- Esse aí...
- Esquenta – interrompo – acido faz isso
Rimos...

- Ah, esse é fantástico... óleo de massagem..
- Comestível... tenho alguns... Tem de manga?
- Hummm.... não... morango... laranja... kiwi vc conhece?
- Hum rum... já tenho também. Só falta mesmo o de manga.
- Esse vou ficar te devendo.

Vejo as camisinhas. De vários sabores, modelos, marcas e tamanhos. A que brilha no escuro, a estriada, para seu prazer. Tudo parece continuar inalterado no cenário dos preservativos. Vejo que a morena sorri imaginando que tem uma novidade:

- Uma coisa interessante é que temos também a camisinha feminina. Não sei se já ouviu falar. E está em promoção por 12 reais apenas!
- Ah, sim, a reality? Essa que vende em farmácia mesmo?
- Vende? Já? Não sabia...
- Sim. Tem na Drogasil, por seis reais.
- Ah... – ela sorri desconcertada.

- Por acaso você tem meia arrastão?
Os olhos dela se enchem de um brilho feliz.
- Tenho, tenho sim. Muito boa a marca... veja...
Eu olho... olho...
- é boa... mas eu quis dizer arrastão 7/8
- Nossa... dessas no Brasil eu nunca vi!
- Eu compro sempre...É até fácil de achar mas imaginei que como estava aqui podia já levar algumas....
Ela baixa a cabeça... e arruma o piercing do umbigo.

Largo as meias no balcão e caminho para o fundo da loja... e encontro enfim, a ala sadomasoquista do estabelecimento. Agora sim estou em casa. Mas ela insiste em me seguir. Meus olhos que já brilhavam de prazer agora molham em um sadismo delicioso. Vejo os chicotes, se é que se pode chamar aqueles produtos mal acabados de chicotes... e vejo ao meu lado a morena tatuada, malhada, bronzeada e perfurada... provavelmente já enfadada de tantos filmes pornôs de baixo orçamento. Confiante, segura de que nada mais haveria no mundo fascinante dos acessórios eroticos que a pudesse impressionar. Meu sorriso já é de gato de Alice, a vendo prestes a entrar um mundo tão alem de sua imaginação.

- Você tem algum flogger?
- Um o que?
- Chicote de tiras...
- Não.. mas temos esse, estilo tiazinha.
- A chibatinha?
- Sim, acho que sim.
- Tem alguma longa? Mais resistente? Chibata de verdade?
- Não... de verdade acho que não.
- Tem paddle?
- O que?
- Palmatória.
- Tipo... de madeira mesmo?
- Borracha... ou madeira mesmo. Você tem?
- Não.
- Tem longo?
- Consolo?
- Não, chicote. De 3 metros.
- Nossa. Não.
- Tem cane?
- O que?
- Deixa pra lá...

Eu sei, eu realmente deveria ter ido devolta à selaria, mas eu não queria escandalizar ninguém... É, não queria, mas a oportunidade se lançou a meus pés como uma submissa desesperada por coleira, e eu não poderia, de forma alguma, dizer não a ela.

A morena suspirava baixinho. Se fosse outra, a essa altura já teria me abandonado no meio de todo aquele couro mole, mas não. Ela permaneceu. E se permaneceu até então, senti que talvez houvesse nela o mesmo orgulho e o mesmo brilho no olhar que havia em mim. Talvez ela também fosse uma apaixonada pelo conhecimento alternativo, e buscasse, tanto quanto eu, despertar nas pessoas uma certa admiração, um certo reconhecimento pela experiência de vida em um cenário ainda tão restrito e criticado. Porque não é qualquer um que ama o sexo e o desejo a ponto de contra todos os preconceitos e constrangimentos, ir em busca de aprender sobre filmes, dildos, óleos de massagem, fantasias e chicotes. Nem toda mulher sabe prender meia na liga, embora a maioria saiba muito bem criticar uma mulher que saiba prender meia na liga... Somos raras, que se atrevem a provar antes de dizer “não gosto”, tesouros que sabem ter prazer de tantas formas, pérolas que aceitam o novo e que sabem exatamente como tocar outras pérolas, e também desvendar os mistérios do sexo oposto, e que gozam de verdade. E que se não gozam, reclamam e pedem mais. E nem sabemos as vezes que somos perolas, porque àquelas que nos cercam, ensinamos a nossa liberdade, e transmitimos esse dom, como se um dom se transmitisse, e fazemos o impossível: Quebramos as pedras do preconceito, da limitação, e da cultura.

Ou talvez fosse outro o motivo. Mas o fato é que ela continuava ali.

Peguei uma algema... ela corou... era coberta de pelúcia rosa. E pra piorar não trancava. Fui compassiva. Não disse nada.

Suspirei... Ela sorriu solidaria.

- Bom... mas temos coisas boas...
- Cordas para bondage?
- Não trabalhamos com corda.
- Aparelhos de eletroestimulaçao?
- Isso não. Mas já ouvi falar.

Então fiz o que uma mulher deve fazer quando se sente completamente desestimulada. Caminhei para o corredor dos vibradores, na mesma velocidade que se caminha para a forca.

- Esse, o que faz?
- Potencia máxima! E tem essa pontinha pra estimular o clitóris.
Liguei... doía até na mão e fazia um barulho dos infernos.
- Esse outro aqui.... é seguro?
Apontei para um consolo preto de proporções imensas, descrito como acessório de dilatação sexual.
- É sim... se usado com carinho, né?
Como meu estilo não é exatamente carinhoso, passei para outro.
- Esse aqui você enche de água e poe para congelar. É o nosso best seller!
Era bom, realmente... mas eu já tinha. E fui olhando. E era tanta coisa, mas as idéias eram as de sempre. Devo ter olhado uns vinte tipos quando algo me chamou a atenção.

Ele era de tamanho médio. Cor da pele. E se destacava como um mistério no meio de tanto pau revolucionário.

- Esse. Esse aqui... o que faz? Fala?

Ela riu.
- Não. É um modelo antigo. Um consolo de borracha, tamanho médio.
- Mas ele não faz nada?
- Não. Nem vibra nem nada.
- Sei, mas... e como usa?
Os lábios dela finalmente então se moveram satisfeitos
- Esse você introduz onde preferir e imita os movimentos mecânicos de uma relação sexual tradicional.
- Uma o que?
- Uma relação sexual tradicional.
Achei original.
- Vou levar. Quanto é?
- 15 reais.
- Passa no debito pra mim?

E assim, fiz minha mais recente aquisição em uma sex shop. E a compra foi perfeita. Como um bom sexo baunilha. Primeiro eu tive prazer. Depois foi a vez da vendedora. Nada de estrepulias, nada de meia nove pra encurtar caminho. Eu tive meu momento, ela teve o dela.

Mas claro que.... isso estava tradicinal demais pra mim. Ela me levou até a porta e puxou um assunto qualquer. Conversa vai, conversa vem, eu resolvi leva-la pra casa experimentar o meu novo brinquedinho sexual...

tavi