domingo, 1 de março de 2009

Maldito Vinícius!


O amor é lindo!
Será?
Bom, nem sempre né? Quem me le bem sabe que não acredito em perfeição.
Outro dia, conversava com uma amiga sobre poetas, e ela me contou o quanto se encantava com Vinicius de Moraes.
Ela dizia:
- Nossa! Ta aí um homem que realmente entendia as mulheres!
E suspirava.

Eu baixei a cabeça tentando decidir se contava ou não pra ela sobre o que eu realmente penso desse “cidadão”
Pensei... pensei... mas como ela, suspirante, já declamava o manjadasso Soneto da Fidelidade, resolvi me calar.

Vinicius... Vinicius...

Vinicius casou-se nove vezes, e dizia que se casaria quantas vezes fossem necessárias. Também costumava dizer que o uísque era o melhor amigo do homem. É dele a frase tão celebrada por aí: “As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”. Entretanto, vê-se pelas fotos do poeta, que ele mesmo não era exatamente o que se pode chamar de um ser humano vaidoso. É tido por aí como um homem que entendia as mulheres.

Bom, creio que ele realmente entendia o suficiente, de mulheres, e principalmente, de palavras.
E como poeta, é difícil escrever dele alguma critica negativa. Talvez possa-se dizer que ele passeava demais entre estilos, como alguém volúvel, incerto, ou simplesmente como quem não se compromete. Um odiador de rótulos? Pode ser. Um oportunista? Sabe-se lá! Mas mesmo eu, com toda minha relutância, não consigo negar: O cara era bom no que fazia!

O que me chateia é quando ele é amado por motivos... duvidosos....

Se se ama um cafajeste, diga-se: Ah, Vinicius! Aquele cafajeste! Como o amo!

Mas não se diga dele “Que romantico!!!!” “Que homem fiel e estável”

É claro que se pode discutir o sentido da palavra “romântico”, mas aí a historia é outra...

Eis que acordo bem. Tudo dá certo. Me sinto bela e jovem... sei que tenho todo o tempo do mundo. Transpiro hormônios e necessidade de aventuras. Sonho com um sedutor qualquer pra me tirar da rotina. Leio um poema de Vinicius. Levo na brincadeira. Sorrio. E saio de casa feliz.

Eis que acordo mal. O cabelo não vai pro lugar. Me preocupo com o futuro. Busco colo e estabilidade. Leio um poema de Vinicius e penso: Hoje seria o dia que esse filho da puta me daria um belo pé na bunda!

Concluo. Vinicius é definitivamente o meu cafajeste favorito.
Seus poemas são como lindos e bem construidos castelos... de areia.
Seus poemas são como um remédio pra dor de cabeça. Servem apenas em situações especificas. Não adianta tomar um Doril quando teu problema é náusea, ou cólica menstrual. Doril e Vinicius, só servem pra certos dias, certos humores... Fora disso te deixam na mão. E se você reclamar ainda te sorriem dizendo: Mas, querida, você sabia. Tava tudo na bula!

Bom, não contei pra minha amiga nada disso. Voltei pra casa. E escrevi um e-mail pra ela que copio aqui, pra todos os adoradores do “poetinha” (não é maldade minha não...era assim que ele era conhecido). E, direta que sou, escolho logo o Soneto da Fidelidade pra expressar o que eu entendo das palavras do Vinicius. Segue o e-mail

Querida xxxxxx,

Quando você recitou pra mim o Soneto da Fidelidade, confesso que fiquei em duvida se eu e você interpretamos o conteúdo da mesma maneira. Te conhecendo como conheço, me pareceu estranho que você, que louva os amores eternos, os casamentos bem sucedidos, fã número 1 de bodas de ouro e que busca pra ti, um romance sem fim, se encantasse justamente com esse grupo de quartetos e tercetos. Desculpe-me se eu estiver sendo obvia. E desculpe também a informalidade na interpretação.

Soneto da Fidelidade


De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

(Ou seja: Entenda, existem no mundo encantos maiores que o teu, mas eu serei bem zeloso e atento para que mesmo frente eles, eu ainda prefira você, com a ajuda de Deus!)

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

(Ou seja: Entenda, esse amor não será um mar de rosas. Existe um pesar e existe pranto! Vai ter aquele dia em que eu vou acordar e pensar: Que que eu to fazendo aqui com essa mulher?)

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

(Ou seja: Prepare-se. O fim de quem ama é ficar sozinho. Não me culpe quando isso acontecer com você. Você já foi avisada!)

Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

(Ou seja: Nosso amor vai durar só um verão, um peíodo, Não te prometo nada. Pra sempre é muito tempo, e eu tenho vários amores pra viver! Quando acabar, vê se se contenta com a lembrança do que tivemos. Eu certamente me contentarei. Que seja infinito APENAS enquanto durar!!! )

***
Eu sei, amiga... você deve estar se perguntando
Mas e quanto a “eu sei que vou te amar... por toda a minha vida eu vou te amar” – Isso também foi ele que escreveu.
Ah, eu sei... tem homem que fala tanta coisa por uma paixão... e para vive-la... “em cada vão momneto” e lógico “infinitamente, enquanto dure”.

tavi