sábado, 24 de dezembro de 2011

SETE - Parte 4 - Naya, Nina e Becky


A semana que se seguiu foi cheia de acontecimentos. Eu tive pouco tempo para digerir tanta novidade. Mas a verdade é que isso, de alguma forma, era exatamente o que eu precisava.
Todos os dias eu acordava na casa três e descia para a masmorra. Tony era uma companhia cada vez mais interessante. Com ele eu treinava meus comentários ácidos e sarcásticos, que ele sabia retribuir como um verdadeiro Mestre. Mas também era verdade que boa parte do tempo eu apenas ouvia suas canções, e conversávamos amigavelmente sobre qualquer assunto que aparecesse. Ele passou a ser uma espécie de confidente. Era sem dúvida, meu maior aliado até então.
Na hora do almoço, recebíamos a visita de uma garota. Por um dos corredores nunca explorados por mim, descia naya, totalmente nua, e se dirigia à cozinha da masmorra. Não muito tempo depois, ela retornava a nossa presença trazendo uma bandeja prateada em mãos. Ela caminhava de maneira sensual. Os longos cabelos negros e brilhantes brincavam de cobrir e revelar os belos e volumosos seios da escrava. Seu andar era hipnotizante. A dedicação com a qual ela parecia realizar cada movimento me encantava.
- Serei assim – eu dizia ao Tony – quando eu pertencer ao JOSHUA.
- Não sonha alto demais... Não se pode ter tudo – ele respondia.
Naya ajoelhava-se aos pés de Tony. E dos seus lábios saia a mais sutil e delicada das vozes.
- Greetings, Master Tony. Naya pode te servir hoje?
Era engraçado ver o olhar satisfeito do homem que dizia abominar a liturgia.
Após Tony ter almoçado, a garota pedia permissão e as chaves para abrir minha cela e me levar algo para comer. Ela me servia de uma forma um pouco mais leve, mas igualmente delicada. E ali, encostada nas barras, ao meu lado, também fazia sua refeição.
Todo final de tarde, eu ouvia os passos de meu Dono chegando na masmorra. Mas de alguma forma, até o Senhor Ventríloquo já não era uma ameaça tão grande assim. Depois de ter provado uma pequena dose do sadismo do Tony, eu me peguei, mais de uma vez, desdenhando a dor. E até pedindo por mais.
Senhor Ventríloquo dizia que era o orgulho masoquista crescendo em mim. Algo que ele, particularmente, detestava. Mas que ele mesmo me confessou, era grande atrativo para muitos Sádicos e Dominadores, o JOSHUA, inclusive. Para o Senhor Ventríloquo, a fragilidade era estimulante. Ele causava a dor, física e emocional porque assim conseguia fácil acesso à essência vulnerável da feminilidade. Ele causava o “perigo”, o desconforto, para enxergar o ser entregue, e dependente de sua proteção. A verdade é que com o mesmo zelo com que ele se dedicava a criar a dor, ele também protegia cada uma de suas meninas. Por isso encomendava os imensos relatórios. Ele é um dos Sádicos mais responsáveis que já conheci. Ele estudava cada submissa em que tocava. Aprendia sobre sua vida e seu histórico médico. Testava a sanidade e a inteligência emocional de cada uma. Além de mim, havia mais duas garotas que portavam coleiras com suas iniciais. Quem as olhava juntas, imaginava que talvez fossem irmãs. As duas eram orientais e tinham corpos parecidos, com a única diferença que enquanto nina usava os cabelos em um corte reto, às vezes até mesmo jogado de lado, cobrindo parte do rosto, rebeca usava uma franja grossa e bem regular.
Conforme eu ia me tornando uma masoquista cada vez mais forte, mais o Senhor Ventríloquo tinha a necessidade de ter mais de uma garota a sua disposição. A verdade é que ele estava perdendo o interesse em mim. E a partir do dia em que eu consegui não derramar nenhuma lágrima durante a sessão, ele não mais me usou sexualmente. nina era sem dúvida a garota de sua preferencia. Uma escrava dócil, submissa ao extremo, mas com pouca resistência para qualquer tipo de sofrimento. Era fácil magoá-la. E ele obtinha muito prazer ao fazê-lo.
Eu estava contente. Tudo estava seguindo de acordo com o meu plano. Nesse ritmo, logo ele me devolveria ao JOSHUA e eu poderia viver tudo aquilo que havia sonhado. É verdade que eu temia o ciúmes da angel. É verdade que eu também temia o tipo de relato que o Senhor Ventríloquo faria ao JOSHUA sobre mim. Mas se eu não fosse ideal pra ele apenas por ter desenvolvido resistência a seu tipo de sadismo, não haveria nada desabonador a ser dito sobre mim. Apesar dos conselhos desanimadores de Tony, eu me sentia a cada dia mais próxima do meu objetivo.
Porém, certa tarde, o Senhor Ventríloquo não desceu à masmorra. Ao invés disso, mandou que eu subisse ao seu quarto à noite.
- Senhor? Estou aqui – disse. E ajoelhei-me a seus pés com as pernas separadas, exatamente como Nina havia me instruído para fazer.
- Ótimo, scalet. Você se lembrou de dar noticias a seus pais?
-Não, Senhor. Serei punida?
- Por mim não. Mas quero que ligue para eles agora mesmo. Pode usar meu telefone.
-Sim, Senhor.
Ele permitiu que eu me sentasse na cama. Tirei o telefone do gancho. Era difícil discar. Eu me sentia já tão mudada... E voltar a entrar em contato com o mundo baunilha não era uma tarefa das mais fáceis. Eu sentia culpa por estar ali. Sentia-me suja por ter que mentir para os meus pais. Se as vezes eu me pegava acreditando que cada um tem o direito de viver sua vida da maneira que escolher, quando eu pensava o quanto minha escolha poderia machucar minha família, minha falsa noção de liberdade caía por terra.
- Alô?
- Pai? Que saudade!
- Filha, você está bem? Sua mãe tentou ligar algumas vezes e...
- Estou, pai. Desculpa. Eu viajei com uns amigos e me esqueci de avisar. Mas eu estou bem. E como estão vocês?
- Tudo seguindo muito bem... Melhor que o esperado. Mas tenho algo pra te contar. Eu recebi uma proposta muito boa por aqui. Estou pensando seriamente em não voltar para o Brasil. Eu sei que você logo termina a faculdade. E andei pensando... Eu quero que você considere a possibilidade de vir morar aqui na Irlanda, conosco.
- Pai, mas, eu não posso voltar tão cedo. Eu tenho planos...
- Eu sei, eu sei que é meio inesperado. Mas você terá tempo pra tomar a decisão correta. Eu enviei um valor a mais pra sua conta, este mês. Já deixe separado para as despesas com a viagem caso você queira vir. Eu entenderei se você não vier. Mas quero que saiba que todos nós sentimos sua falta. E eu me preocupo muito com você. Mas se você tem um bom motivo pra não vir...
- Pai... Eu... Na verdade eu tenho alguns motivos pra não ir agora...
- Sei... Imagino que estejamos falando de um amor.
- Talvez. Mas não é bem isso. É difícil explicar. Mas eu estou bem. Eu tenho... pessoas..
- Pessoas? Você quer dizer amigos?
- Sim... Amigos.
Ele riu
- Filha, você sabe que você não precisa ser sempre tão impessoal, não sabe? Chamar amigos de pessoas! Só você! Onde quer que você esteja eu quero que você saiba que eu confio muito em ti. E que tem algo que você deveria fazer.
- O que? O que eu deveria fazer?
- Divirta-se. Você tem mania de levar tudo a sério demais. Você está em São Paulo?
- Obrigada pai. Foi um bom conselho. Mas, agora eu tenho que ir. Devo passar ainda um tempo viajando, mas logo eu ligo pra dar noticias. Beijos, pai. Te amo muito.
- Beijos. Te amo mais! Fica bem!
Eu desliguei o telefone e não consegui conter o choro. E me permiti chorar na frente do Senhor Ventríloquo. Eu temia o que isso podia fazer com ele. Eu estava sentada em sua cama, frágil, vulnerável. O que eu sentia era uma mistura de culpa, saudade, desejo e tensão. Eu chorava porque eu não era igual às garotas da minha idade. Chorava porque meus sonhos e meus desejos eram condenáveis. Chorava por que mentir para o meu pai tinha tirado um pedaço de mim. E também porque compreendia que na cultura em que eu vivia, alguém como eu dificilmente seria aceita e respeitada pelo que é. Uma submissa, jamais seria vista nesta sociedade como alguém normal. Especialmente uma que entrega seu corpo e sua dor, que faz e aceita que façam com ela tudo o que for necessário para que um homem perceba sua submissão. Aos olhos do mundo, eu era uma traidora da moral, uma rebelde, e, pior que isso, alguém que não pertence, não se encaixa, não cabe em nenhum rótulo ou previsão. Eu era uma estranha. E naquele momento, essa noção me fazia muito mal.
Senhor Ventríloquo tocou meu pescoço. Levantei a cabeça. Imaginei que ele fosse me deixar sem ar, mas ele apenas retirou de mim sua coleira. E me deitou em sua cama, ao seu lado. Essa noite ele passou comigo. Não houve sexo, e não houve dor. Mas conversamos sobre tudo que havíamos feito. Sobre a hipocrisia desse mundo. Sobre ele e sobre mim. E sobre o JOSHUA, também. Já era impossível não tocar no nome dele. E foi falando nele que eu adormeci nos braços do Senhor Ventríloquo, um ser humano fantástico e tão incompreendido quanto eu; um Sádico emocional eficiente e responsável. E toda a dor que ele já havia me trazido, essa noite inesperada curou. De manhã ele me disse:
- É hora de você voltar para o JOSHUA.
-Eu sei. Perdi a graça para o Senhor, não perdi? – eu sorri.
- Você bem que tentou – ele respondeu – Mas eu ainda teria dois ou três truques na manga pra ver sua carinha de choro.
- Então... Mas então por que...
Ele me interrompeu:
- O JOSHUA te quer de volta. Ele me disse que viria hoje.
- Ele vem? Vem por mim? Eu não acredito no que estou ouvindo!
- Não se anime tanto assim. Você não sabe o que ele tem pra te oferecer. Talvez não seja como você imagina. Agora vá se arrumar.
Tomei um banho rápido e quando retornei para o quando, o Senhor Ventríloquo já tinha partido. Em seu travesseiro, um bilhete endereçado a mim dizia “Encontre o JOSHUA na masmorra. V.”
Enquanto eu caminhava ansiosa, lembrava-me da suavidade de naya. Eu imitava seu jeito de andar, seu tímido e contido sorriso. Mas alguns passos depois eu já era eu mesma. Scarlet. Com meu andar confiante, minha alegria mais intensa, e um desejo mais forte do que eu, que já me controlava totalmente.
Ele já estava no hall. Me esperava ao lado do X de madeira. Ajoelhei-me a seus pés. JOSHUA ofereceu sua mão para que eu me levantasse. Eu me senti absolutamente entregue quando ele encostou-me na madeira. Li outra vez o mesmo texto: “Mea Culpa. Mea Maxima Culpa” logo acima do X. Mas agora essas palavras pareciam ter ganhado um novo sentido.
-Não olhe para trás – ele disse.
- Não vou olhar, Senhor.
Tudo me excitava. O ambiente pouco iluminado, o cheiro delicioso e inconfundível de couro, o toque frio do chicote, acariciando minhas pernas... E a respiração de Joshua em meu pescoço. Fechei os olhos. Então senti os primeiros golpes atingindo minha pele. Era incrível. Quando era ele quem me atingia, não havia separação entre a dor e o prazer. Tudo vinha dele. Tudo parecia perfeito. Poucas pessoas são capazes de entender o que eu senti.
Ouvi passos se aproximando. Alguém assistia à cena. Mas isto de forma nenhuma me afetou.
O som dos golpes era cada vez mais intenso. E ecoava por toda a masmorra. Eu tentava conter o meu desejo de puxá-lo pra mim e implorar para que me tomasse, ali mesmo, com a urgência de quem não consegue conter seus impulsos. Eu queria que ele soubesse que meu sexo estava molhado, que eu estava pronta, e que eu faria qualquer coisa que ele desejasse. Ele então segurou meus cabelos e disse em meu ouvido:
- Scarlet, eu sei o que você quer.
JOSHUA puxou minha mão para trás e deixou que eu o tocasse. Ele também estava pronto, tão excitado quanto eu. E essa constatação era tudo que eu precisava.
- Dono... me toca? Deixa eu me virar?
Mas então JOSHUA me soltou como se solta um brinquedo que não se quer mais.
- Dono? Eu nunca disse que eu era seu Dono. Ainda você não tem minha coleira em seu pescoço. E novamente se atreve a me chamar assim?
- Desculpa, Senhor. É que... O Senhor Ventríloquo me disse que o Senhor me queria de volta. Eu pensei que agora eu já...
- Vire-se – ele ordenou.
Então eu a vi. Ela estava aos seus pés, ajoelhada. Nua. E mais bela do que nunca. E em seu pescoço o nome JOSHUA brilhava.
A um simples comando de seu Dono, Angel o despiu. E beijou seu membro rígido. Ele se forçou na boca delicada de sua escrava que o sugava com avidez. Ela parecia saber exatamente como aumentar o seu prazer. E também quando parar para prolongar o momento e a minha tortura. Ela me olhava com ousadia. E fazia com ele tudo o que eu só poderia sonhar em fazer. Foi a ela que ele entregou seu gozo. Ela bebeu cada gota, com voracidade. Ele então mandou que ela nos deixasse a sós.
- Scarlet, eu preciso saber se você ainda quer continuar.
- Eu quero. É difícil me machucar hoje em dia – respondi.
- Que bom – ele disse – Mas importa que você tenha total consciência de que se quer pertencer a mim, o caminho será longo. E mesmo assim, não existem garantias. Tudo vai depender muito da natureza que eu encontrar em você. Mas não fique aí tão séria, criança. Hoje à noite haverá uma festa. Logo estaremos quase todos reunidos. Você tem pessoas para conhecer. Melhore esse rosto. Faça isso por mim.
JOSHUA arrumou meus cabelos com as mãos. Era impossível eu não me sentir grata por esse ínfimo, mas tão raro gesto.
Tony não demorou a descer. E logo a bela naya cuidou de que fossemos servidos. Após a refeição, os dois Senhores permaneceram no Hall do X e JOSHUA sugeriu que eu fosse ajudar naya com os afazeres.
A cozinha não era muito grande. Naya me apresentou a despensa, rapidamente. Mostrou-me onde encontrar taças de cristal de todos os tamanhos e formatos, louças para diferentes ocasiões, guardanapos de pano, bandejas, talheres e tudo o que podia ser necessário. Mostrou-me também a lista do que deveria ser preparado para a festa. Não era uma grande variedade, mas tudo parecia sofisticado e trabalhoso. Felizmente, naya era um tanto eficiente na cozinha. E logo nina e rebeca juntaram-se a nós, agilizando o trabalho.
- Naya, qual a ocasião? – perguntei.
Ela respondeu sorrindo enquanto preparava um suco.
- É o aniversario da minha Dona.
- Dona? Então entre os Sete existe uma mulher?
- Qual o problema nisso? Miss Catsy é mais apta a Dominar do que muitos homens.
- Não estou duvidando. É só que... Eu não imaginei. Estou realmente surpresa. BDSM pra mim ainda está muito ligado com o erótico, com o sexual.
Naya lançou-me um olhar quase ofendido.
- Ah, scarlet. Por que você pensa que servir outra mulher não pode ser erótico? É erótico. Eu também a sirvo sexualmente.
- Então você ...
Naya riu.
- Sim. Eu gosto de mulheres. Apenas de mulheres. Sempre foi assim.
Rebeca passou com taças nas mãos, por trás de naya, roçando seus seios nas costas dela, com um sorriso malicioso nos lábios e disse:
- É isso mesmo scarlet... e a naya vive se aproveitando das pobres e inocentes escravas heterossexuais...
Nina puxou o cabelo de rebeca:
- Comporte-se!
Olhei para naya. E começamos a rir.
- Não liga, scarlet. Se eu fosse tirar casquinha de alguém, com certeza não seria da becky, que é a mais sem sal daqui!
-Eu? Sem sal? Posso não ter seios lindos e imensos como os seus, mas tenho mais atitude do que você e a nina juntas.
- Então deixa eu entender – eu disse – a naya é lesbica. E vocês duas são heterossexuais?
As três riram. Nina explicou:
- Olha, nós servimos. Somos escravas. Nós vamos fazer o que nos for ordenado. Mas se você perguntar pra mim, eu não gosto de mulheres me tocando. Já a becky...
- A becky gosta de qualquer coisa! – disse naya.
- Mas e você? Scarlet... scar-let... Isso é nome de putinha ninfomaníaca.
-Becky! – disse nina- Já te falei pra não usar esses termos.
Eu ri. E demorei um pouco pra responder.
- Eu gosto de gente. Eu poderia amar um homem, ou uma mulher. Eu não limitaria meus sentimentos a um gênero. Mas atualmente, o sentimento que eu tenho em mim é submissão. Isso é maior até que o amor. Mais nobre. Menos egoísta. E é um homem que me tem.
As meninas aplaudiram, jocosamente.
Nesse momento, angel entrou na cozinha. E sua presença nos calou. Passamos o resto da tarde em silencio, eu, a bela naya, nina e rebeca, cumprindo as ordens de angel, que, eu descobri com o tempo, estava um degrau acima de nós na hierarquia das escravas dos Sete.
(continua...)

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

SETE- Parte 3 - Tony


Usar a coleira do Senhor Ventríloquo foi uma experiência desgastante pra mim. Depois de me usar pelo tempo que quis, ele me mandou pra casa e me instruiu para que esperasse ele entrar em contato. No dia seguinte, as nove da manha ele já havia me enviado um e-mail com algumas tarefas a serem realizadas. Tive que escrever pra ele, logo no primeiro dia, cinco relatórios. Cada um cobria uma área de minha vida. Ele também me enviou perguntas um tanto embaraçosas de responder. Pra ele, tudo importava. Desde o meu nível de instrução até uma descrição detalhada das peças de roupa que eu usava com mais frequência.
Nos três dias que se seguiram, por volta das 5 da tarde, eu recebia a mesma mensagem no meu celular. “Agora! V.”, dizia o texto curto e direto. Lembro-me que enquanto dirigia para o galpão, mais de uma vez precisei encostar o carro por alguns minutos, para me acalmar.
O Senhor Ventríloquo me explicou que agora eu não mais teria acesso ao galpão pela casa de JOSHUA. Além dela, no grande terreno sob o qual a masmorra se escondia, havia seis outras pequenas casas brancas, posicionadas na forma de um círculo. Eram sete locais de descanso e com um pouco mais de conforto e privacidade, para os sete membros da confraria. No centro do terreno, cercado pelas sete casas brancas, havia um extenso gramado, e em seu núcleo, um espaço cimentado e muito agradável, lembrando uma pequena clareira. A casa do Senhor Ventríloquo ficava à esquerda da casa de Joshua. A da direita pertencia ao Tony, que era o único dos sete que de fato ali residia. Ele passava mais tempo entre a masmorra e a guarita colada ao portão principal, mas não abria mão de ter um local só seu também, como qualquer outro integrante dos Sete.
Em cada uma das casas, uma escada levava a um túnel de acesso ao hall principal do galpão. Eu tinha recebido ordens para assim que minha entrada no terreno fosse permitida, dirigir-me à porta da casa do Senhor Ventríloquo e aguardar que ele a abrisse. Era o Tony quem abria o portão principal. A Rotina era irritante. Eu entrava, caminhava até a casa de número 3, e passava no mínimo vinte minutos aguardando que meu Dono viesse me receber.
Depois, ele mandava que eu me despisse e colocava a coleira em meu pescoço. Pela guia eu era conduzida até uma das salas da masmorra. O que se passava ali eram repetições do nosso primeiro e conturbado encontro, com pequenas variações. Era sempre doloroso e humilhante pra mim. Ele sempre me causava algum tipo de desconforto. Eu conheci a dor de ter clamps apertados em meus mamilos; de ter cera quente derramada pelo meu corpo... Isso não era o mais difícil. Eu tinha uma maneira muito particular de lidar com a dor. Aprendi que a dor tem um efeito estranho em mim. Mesmo odiando as mãos da qual ela vinha, eu conseguia encontrar certo conforto. Às vezes a dor corria no meu corpo como se me acariciasse. Havia um prazer inusitado. Eu já esperava por isso. Lembro de já ter me provocado dor em momentos difíceis. Ela sempre foi parte de mim. E muito mais uma aliada do que uma inimiga. Restava quase nenhuma dúvida em mim de que eu era uma masoquista. Mas eu nunca antes tinha tido a experiência que me garantisse que a dor poderia me dar prazer, mesmo que provocada por outra pessoa, que não eu mesma.
O pior de tudo era o que ele fazia com minha mente. Ele sempre dizia exatamente as coisas certas pra me fazer chorar. E ele adorava o meu choro. Minhas lágrimas o excitavam quase que instantaneamente. E ele sempre terminava seu pequeno show com o mesmo número, no qual eu não passava de uma escrava sexual sendo usada com sadismo. Por várias vezes cheguei a me perguntar se fazia algum sentido submeter-me a tamanha degradação em nome de um sentimento estranho por alguém que nem mesmo me queria. Mas a imagem do JOSHUA ainda reinava soberana no meu pensamento.
Meu Dono me mandava pra casa por volta das dez horas. Eu chegava, tomava um banho, e tentava inutilmente descansar. O sono não vinha fácil. O Choro sim. E quando eu finalmente conseguia dormir, eu acordava mil vezes no meio da noite, sobressaltada. No dia seguinte, eu levantava cedo, comia pouco e ligava o computador à espera de algum sinal do JOSHUA. Mas desde que fui entregue por ele a outro homem, ele não havia me procurado uma vez, sequer. Já o Senhor Ventríloquo nunca falhava em ordenar por e-mail que eu trabalhasse em algum relatório de sessão, ou respondesse suas perguntas invasivas.
Eu estava absolutamente exausta e foi por isso que no quarto dia eu me deitei um pouco, à tarde e adormeci. Quando acordei, meu coração batia acelerado. Já estava escuro. Passava das 20 horas. Joguei o cobertor pra longe e peguei meu celular no criado mudo. A mensagem estava lá. “Agora. V.”. E ela havia chegado novamente às 17 horas.
Me troquei o mais rápido que pude, entrei no carro e apressadamente me dirigi ao terreno. O Portão principal estava trancado, e o local, silencioso. Eu toquei a campainha diversas vezes até ouvir finalmente os passos pesados de Tony. Ele riu e falou comigo através do portão:
-Então a princesa resolveu aparecer? Tarde demais. É melhor você voltar pra casa.
-Não! Tony... Tony, por favor, me deixa entrar. Aconteceu uma coisa, eu não pude chegar antes.
-Eu fui informado de que poderia te deixar entrar às 17:30. Não às 21 horas.
-Eu sei... Eu não consegui. O Senhor Ventríloquo ainda está aí? Me deixa falar com ele. Eu preciso explicar.
Tony parou uns instantes, pensativo. Olhou pra mim como se olha para uma criança que acaba de fazer arte.
- Ok, a princesinha tem sorte. Seu Dono ainda está aqui. Mas ele está na masmorra. Eu te levo até lá. Siga-me.
Tony andava rápido. Eu, com meus saltos e meus passos pequenos, quase precisava correr pra alcança-lo.
Ele abriu a porta da casa branca de número dois. Era um cenário interessante. Móveis vitorianos com detalhes em madeira escura e esculpidos com belíssimas formas pareciam brigar com cadeiras em ferro, estilo “art nouveau “ provocando uma falsa sensação de caos divinamente projetada. O bom gosto de Tony podia ser controverso, mas era certamente corajoso e genial.
Chegando ao galpão, pude ver o paletó claro do Senhor Ventríloquo pendurado em um cavalete. Eu e Tony ouvimos o gemido de uma garota.
- É melhor você aguardar. Vem. Vou te deixar em uma das celas.
- O que? – eu disse, sem tentar esconder meu descontentamento.
-Não seja boba. Eu não vou ficar aqui o tempo todo cuidando de você. Alias, nem aqui fico. Não tem nada de interessante pra ver. Teu Dono anda precisando variar o roteiro – ele respondeu, já abrindo uma das grades de uma cela no hall principal e apontando para que eu entrasse.
- E você fala assim de todos os seus confrades? Com esse desdém todo? – provoquei, enquanto me ajoelhava para entrar na cela.
- Somos todos Sádicos, Dominadores, e alguns de nós são Dominadores e Sádicos ao mesmo tempo. Você esperava o que? Que eu elogiasse aquele terninho ridículo dele?
Eu estava surpresa. Ele continuou:
- Não se assuste. Um pouco de competitividade é estimulante no universo masculino. Isso não quer dizer que eu o odeie. Eu respeito muito o Senhor Ventríloquo. Respeito muito qualquer TOP daqui. E você devia me entender. O universo feminino só parece mais sutil. Mas a competitividade é ainda maior. Você mesma mal chegou e já tem um desafeto.
- Desafeto? Como assim, Tony?
- Ah, você não sabe ainda – ele riu - Isso vai ser divertido.
Tony trancou a grade da pequena cela em que eu estava e saiu do hall. Trocou algumas palavras com o Senhor Ventríloquo e voltou pelo corredor que levava até sua residência.
Não demorou até que meu Dono viesse falar comigo.
- Scarlet. Eu serei breve e direto com você. Alguém morreu? Você teve que socorrer alguém?
- Não, Senhor – respondi.
- Qual foi o motivo então, do atraso?
- Eu... Eu dormi, Senhor, e perdi a hora.
- Veja... Sendo assim eu não posso deixa-la sem uma punição.
Notei um breve sorriso em seus lábios.
- Sim, Senhor. Eu entendo.
Ele andou uns instantes pela sala. Eu, ainda dentro da cela, de joelhos, na meia luz da masmorra, via apenas metade de seu corpo, enquanto ele caminhava de um lado a outro, e continuava me informando de suas decisões.
- Eu li em um de seus relatórios que seus pais não moram no Brasil. É verdade?
- Sim, Senhor. Eles voltaram para a Irlanda no ano passado.
- Certo. E li também que você está de férias da faculdade.
-Sim, Senhor. É verdade.
- Pois bem. Como punição, você vai passar suas férias aqui. Assim além de puni-la, não corro mais o risco de ter que esperar por você.
Eu senti como se o ar me faltasse.
- Senhor. Mas eu não posso. Meus pais vão ligar em casa. Vão querer saber o que aconteceu comigo.
- Você liga pra eles e diz qualquer coisa.
- Mas eu não tenho roupas. Não trouxe nada comigo. Nem produtos de higiene. Eu quase não tenho nada na bolsa... E nem no carro.
- Não se preocupe. Posso providenciar tudo isso pra vc.
- Sim, Senhor – eu disse, assustada, mas sem argumentos para mais contestações.
- Você irá dormir na casa três. Sem correntes ou algemas. E ficará com um jogo de chaves em seu poder. Mas assim que você ouvir o despertador, descerá para a masmorra e entrará nesta mesma cela em que está agora. Sempre que o Tony puder estar no galpão ele irá trancá-la e você ficará presa em sua cela. Caso seja necessário que você ajude em alguma coisa no terreno ou na masmorra, o Tony te avisará.
Olhei a minha volta. A cela mais parecia uma jaula. E eu, um animal, acuado e confuso, cada vez mais distante da imagem que eu tinha de mim mesma.
Passei a noite sozinha na cama quente e confortável do Senhor Ventríloquo. Tomei um banho demorado em seu chuveiro. Sequei-me com suas toalhas macias. Comi algo de seu frigobar e assisti a um filme de sua coleção. Ele me deixou completamente à vontade ali. E disse que em sua ausência, eu seria responsável pela casa. Brinquei dizendo que eu podia fazer uma bagunça ali. Ele respondeu que eu podia fazer o que quisesse, mas se algo o incomodasse, ele saberia exatamente como me punir. A casa estava segura comigo.
Dormi bem. Descansei tudo o que precisava. O despertador tocou às 8 da manhã. Imediatamente, desci as escadas e caminhei pelo corredor até chegar à masmorra, e entrei em minha jaula escura, fria e apertada. O contraste entre a noite e o dia era uma tortura maior do que passar o tempo todo ali.
Tony não demorou pra descer.
- Bom dia, princesinha. – ele disse, enquanto trancava a porta de minha jaula.
Não respondi. Tony permaneceu no hall, fazendo alguma coisa em seu notebook e fumando compulsivamente.
Eu, quieta e encolhida, esperava o tempo passar e lembrava-me do JOSHUA. Não o JOSHUA frio e distante que havia me rejeitado, mas o homem brilhante, o guia, o mentor que eu havia tido, por tanto tempo, me explicando e me conduzindo pacientemente em um mundo desconhecido e encantador.
Percebi que alguém entrava no galpão. Ouvi seus saltos batendo e as vezes até mesmo raspando no solo. Tony a cumprimentou.
- Bom dia, angel. Que você veio fazer aqui?
-Vim ver a garota. Onde ela está?
Tony apontou para a minha cela.
Angel curvou-se pra falar o que queria, olhando nos meus olhos.
- Eu não disse pra você entender que você não pertencia ao JOSHUA? O que eu digo pra você, pelo jeito, não faz a mínima diferença, não é?
Eu não sabia o que dizer. E havia aprendido com meu pai que quando a gente não sabe o que dizer, é melhor não dizer nada. Mas aparentemente a minha mudez a enfureceu ainda mais. Ela parecia estar a ponto de arrancar os próprios cabelos.
- Escuta, garotinha mimada, você pensa que vai ter tudo o que quer. Mas não vai. Não se eu puder impedir. As coisas por aqui não funcionam assim.
Tony a interrompeu
- Angel, o JOSHUA sabe que você está aqui?
- Isso é entre eu ele – ela respondeu
- Eu acho melhor você voltar pra cima.
- Tony! Isso não é justo - ela esbravejou. - Você sabe que eu faço tudo pelo JOSHUA. E agora ele fica todo encantado porque chega uma garota do nada e aceita servir ao Senhor Ventríloquo! Eu tinha que dizer pra ela que se ela pensa que vai jogar com ele, é melhor ela abrir os olhos. É bem melhor ela se por em seu lugar. Ou vai ter uma grande inimiga.
- O JOSHUA está encantado comigo? – eu perguntei, sem conseguir esconder o sorriso.
Os dois me olharam.
- Hey, scarlet, você não está ajudando – disse o Tony, e olhou para a angel – E você, suba agora mesmo!
- Ah, você agora dá ordens pra escrava do JOSHUA? – ela disse, com arrogância.
- Pois bem, se quer ficar, fique. Vai ser um prazer contar pra ele que você esteve aqui sem autorização.
Ela estalava os dedos, irritada e tensa. Permaneceu ali por mais alguns segundos, em duvida. Finalmente decidiu subir. E deixou-nos novamente a sós.
Tony ficou em pé, com ar de riso, aguardando que ela se retirasse. Cruzou os braços demonstrando clara indignação pela atitude de angel. E só relaxou quando o irritante barulho dos saltos sessou completamente.
- Ah, as loiras! Princesinha, o que você faz quando uma loira te joga uma granada?
- O que?
- Puxa o pino, e joga de volta pra ela!
Nós dois rimos. Eu, de dentro da cela. Ele, voltando a digitar no computador.
Por uma meia hora, permanecemos ali. Sentia-me profundamente entediada e desconfortável. O silencio me fazia mal. Eu questionava minhas decisões. Eu questionava as atitudes daquele a quem eu de fato pertencia. Mas então me lembrava das palavras da angel. Eu o tinha agradado. JOSHUA estava positivamente surpreso por eu estar ali. E isso tornava tudo mais fácil de suportar. Mesmo assim, eu estava inquieta.
- Tony, não tem nada que eu possa fazer? Você deve estar com fome. Tem algum lugar onde eu possa ir comprar algo?
- Não. Não há necessidade. E tem local, aqui em baixo, pra preparar as refeições. E depois, a naya está aqui essa semana pra cuidar disso.
-Quem é a naya?
- Escrava de um dos Sete. É bom você se acostumar com o ambiente. Não vai ter muita chance de sair daqui tão cedo...
Eu passava as mãos pelos cabelos, ansiosa.
- Eu sei. Eu sei, Tony. É só que é tão quieto por aqui.
- Nisso eu posso ajudar – ele disse – gosta de música?
- Quem não gosta? –eu respondi – Quer dizer, depende do tipo de musica...
Ele pôs um barulho qualquer pra tocar. Eu ri do seu gosto musical. Ele pareceu ofendido. E falou uns quinze minutos sobre tudo que gostava de ouvir. Em geral, gostávamos das mesmas coisas, exceto pelo fato de ele se prender um tanto em bandas de rock experimental falidas. Ouvimos vários clássicos. Cantamos alguns deles juntos. Até discutimos algumas letras. E assim fomos, manha adentro, do metal ao alternativo, do punk ao pop rock, e ele continuava, revelando um ser surpreendentemente sensível que morava escondido atrás de suas rudes feições. Por algum tempo, eu esqueci que era uma escrava jogada em uma jaula qualquer. Eu estava realmente me divertindo. E eu sentia como se tudo isso criasse um laço de amizade entre nós. Ele se dava a conhecer. As pessoas expõem muito do que são quando falam daquilo que admiram. E eu também permitia que ele me entendesse um pouco mais.
- Ouve essa – ele disse – é sobre BDSM.
Eu ri.
- Não. Não é. Isso é “bad”, do U2. É sobre cocaína.
- Pra mim, é sobre o que eu quiser. E eu quero que seja sobre BDSM.
Sorri. Isso refletia muito de seu jeito alitúrgico e independente de pensar. Eu senti que eu e ele poderíamos nos tornar grandes amigos algum dia. Mas então ele mexeu novamente no computador e disse:
- As arrecadações não andam bem...
E abriu a porta da jaula. E me puxou pra fora dela.
- Deixa eu olhar você... Você devia ter descido nua, você sabe, não é?
- Tony? O que você está fazendo?
Ele tocou a minha coxa. E foi tirando minha roupa, como se eu fosse um boneco qualquer.
- Tony. Pára. Por que está fazendo isso?
- O Ventríloquo disse que se eu precisasse eu poderia. A arrecadação está baixa... Eu acho que tenho um trabalhinho pra você.
Tony colocou sua máscara e me levou para uma sala da masmorra. Ali, além de uma cama relativamente grade, suspensa por correntes, havia alguns computadores e um equipamento de filmagem. Ele os ligou, um a um. Uma luz forte foi virada em minha direção. Cobri os olhos com as mãos. Ele então ligou a câmera, conectada a um dos computadores.
- Não se preocupe. Não vou filmar seu rosto.
Então percebi do que aquilo tudo se tratava.
- Não. Tony, eu não quero. – eu disse, firmemente - O JOSHUA me disse que não seria feito nada que não fosse consensual. Eu não quero ser filmada. Eu não quero minha imagem na rede. Isso eu não aceito.
- Tudo bem – ele disse- Mas você entende que eu terei que te levar pra fora do terreno, e não de volta a sua cela, certo?
- Como assim? Eu não quero ir embora. Eu só não quero ser usada pra isso.
- Mais alguma exigência, princesa? Entenda, aqui você não faz as regras. Aqui você é escrava. Você tem sim, o direito de entregar sua coleira a hora que quiser. Mas se ficar, você faz o que for determinado. Não fosse assim, qual seria a diferença entre uma escrava e uma namoradinha baunilha? Você aqui não é namorada de ninguém. Então decida. Fica e se submete. Ou exerce seu direito de não ser mais escrava, e vai embora.
Fiquei muda alguns instantes. Tony pegou uma máscara da prateleira e jogou pra mim.
- Coloca isso. Vou checar o que eles querem ver hoje.
Eu pus a máscara negra no meu rosto. Era inútil mentir pra mim mesma. Eu não ia sair dali. Ia ficar enquanto o JOSHUA quisesse que eu ficasse.
Enquanto digitava, Tony me explicou que não era qualquer pessoa que tinha acesso ao site que ele dirigia. Apenas conhecidos do JOSHUA. Fetichistas em geral, pessoas que apesar de não terem sido escolhidas como membros do seleto grupo dos Sete, tinham um perfil aprovado para assistirem algumas das práticas. Todos eles contribuíam para que os vídeos continuassem sendo gravados. Eram, em sua maioria, empresários, administradores ou ainda profissionais liberais bem sucedidos o suficiente para deixar, todo mês, significativa contribuição. Eles não sabiam do grupo e nem de suas regras, mas conheciam o fato de que existia um local que reunia todos os recursos para que eles pudessem ter contato visual com suas fantasias. Muitos dos que assistiam aos vídeos, não teriam a coragem suficiente para assumir e vivenciar seus maiores desejos. Assistir aos vídeos era o mais perto que eles chegariam de sua satisfação.
Havia 15 pessoas online. Na tela, Tony pôs o meu nome e fez aparecer vários nomes de práticas. Os users começaram a votação. Em poucos minutos, o aplicativo mostrava o resultado.
- Asfixia erótica... interessante... faz tempo que não pedem por isso.
Tony não falou muito. Estávamos os dois mascarados, mas eu notei a transformação no seu olhar enquanto ele colocava com rapidez e precisão, clamps apertados nos meus mamilos. Não era a primeira vez que isso era feito em mim, mas o Senhor Ventríloquo costumava se satisfazer em apenas coloca-los. Tony os puxava pela corrente que os unia. A dor era intensa e indescritível. E ele não parava até que eu tivesse a sensação de que minha pele iria se romper de tanto que ele a esticava. Ele me empurrou para a cama e mandou que eu deixasse as pernas abertas. Meus tornozelos foram amarrados. As cordas foram presas em ganchos nas paredes da sala, de forma que era impossível que eu reaproximasse meus tornozelos. Também meus punhos foram envoltos por cordas, e presos da mesma forma. Meu corpo formava um X e eu estava tão vulnerável quanto era possível alguém estar. Tony tomou a câmera em mãos e filmou meu corpo, totalmente exposto. A sensação de estar imobilizada e indefesa fez meu coração disparar. Eu senti que o pânico tomava conta de mim. Eu tentava inutilmente me soltar. Eu não pensava mais. Eu reagia, como reage um animal na iminência do ataque. Ví que Tony sorria satisfeito enquanto filmava meu desespero. Após alguns minutos, ele saiu do meu campo de visão, fazendo crescer meu medo. Eu gritava por ele. Eu pedia pra ele voltar. Pra não me deixar sozinha ali. Eu chorava e implorava por ele. Pior do que estar presa, era o medo de ser deixada alí, sem ter alguém pra me defender dos inúmeros riscos e perigos irreais que atormentavam minha mente.
Ele então voltou, já sem suas roupas e soltou as cordas que prendiam minhas pernas. Eu com elas, o puxei pra mim e cruzei os tornozelos em suas costas.
-Solta minhas mãos... por favor, Tony. Por favor...
- Não. Gosto delas assim.
-Então fica... fica comigo... não sai daqui... não me deixa...
Eu o apertava entre minhas pernas, como se quisesse seduzi-lo. Meu corpo, quase inconscientemente se movia contra o dele. Eu queria senti-lo perto, muito perto. Eu queria sentir qualquer coisa que tirasse a minha mente do fato que eu estava presa àquela cama e que ele podia, a qualquer momento, deixar de ser minha única proteção. Eu precisava ser desejada. Eu precisava que ele desejasse muito estar ali. Eu apertava meu sexo contra o dele como quem implora. E o olhava com desejo. Eu não fingia. Apenas me perdia entre o que era pânico e o que era vontade. Tudo se fundia.
- Eu te quero! – eu disse - Eu quero te sentir em mim.
Ele atendeu meu pedido. E eu senti um súbito prazer. Um prazer estranho e obscuro. Eu era uma escrava. Se eu tivesse implorado para ele se afastar, ele provavelmente não teria me dado ouvidos. Mas seja ou não por uma defesa minha, eu me entreguei ao instinto. A volúpia podia ser minha única opção. Mas foi isso que senti enquanto ele se divertia no meu corpo. E quando ele pôs sua mão pesada no meu pescoço, me sufocando, pouco a pouco, o prazer apenas aumentou. Eu tentava inutilmente puxar o ar, que não mais vinha. Ele apertava meu pescoço com firmeza. Eu estava quase em transe. E o gozo que eu senti, era do tipo que começa na mente, se espalha pelo sexo e pelo corpo todo, devagar, até que enfim explode, causando espasmos e longas contrações involuntárias... Meu rosto estava quente e provavelmente corado. Eu estava atordoada. Algumas lágrimas escorreram molhando minha máscara. Ele gozou junto comigo. Olhando nos meus olhos, absolutamente embriagado pelo estado em que ele havia me deixado.
Depois ele desligou a câmera. Olhou para a tela e sorriu.
- Acho que depois disso não teremos muito problema com as arrecadações desse mês.
Eu sorri também.
Ele se aproximou e tirou nossas máscaras. Deitou-se do meu lado e me abraçou. Eu encostei meus lábios nos dele. Ele então me beijou longamente.
- Tony... posso te pedir uma coisa?
- Peça!
- Desamarra meus pulsos...
Ele riu. E me libertou. Eu sentei na cama.
- Fica comigo aqui um tempo – ele disse.
- Não – respondi friamente – Já fiz o que eu tinha que fazer. Agora me leva pra cela. E me tranca.
- Pensei que você tivesse gostado...
- Eu gostei. E agora acabou. Eu também pensei que você tivesse gostado de nossas conversas.
- Eu gostei – ele disse.
- E quando elas acabaram, você me trouxe pra cá e me amarrou.
- Eu fiz o que eu tinha que fazer.
- Ótimo! Agora faça outra vez o que você tem que fazer. Me leva pra cela como o bom e obediente servo que você é. Ou eu vou adorar contar pro Senhor Ventríloquo que você me manteve na cama mais do que era necessário.
Tony me olhou perplexo, quase machucado, por alguns instantes. Depois sorriu e eu vi uma certa admiração em seu olhar.
Enquanto ele trancava a cela, o interfone tocou.
- Fala, Ventríloquo! Sim... Sim, tudo certo por aqui. Mas devo dizer que ela tem uma personalidade igual à dele. Talvez até melhor. Foi uma escolha incrível. Ok... Pode deixar.
Quando Tony desligou, eu precisei perguntar.
- Eu sou igual a quem? Ao JOSHUA, não é?
Tony riu.
- Talvez. Mas quer saber, princesinha. Isso é péssimo pra você. Isso quer dizer que você nunca será dele.
(continua...)
 
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

SETE - Parte 2 - JOSHUA



Os dias até a data do encontro marcado demoraram a passar. Era julho. Eu estava de férias da faculdade e não tinha muita coisa pra fazer. Eu não trabalhava. Apesar de morar sozinha, meus pais me enviavam dinheiro suficiente para que eu não tivesse nenhuma preocupação além dos meus estudos.

A maior parte dos meus familiares são Irlandeses. Eu nasci no Brasil mas sempre me senti como uma estrangeira. Eu não me lembro honestamente de ter me sentido parte de nada nem na infância, nem na adolescência. Meu nome incomum e minha aparência celta também não eram de grande ajuda. Eu sempre era chamada de branquela, ou de foguinho, por conta de ter herdado os cabelos ruivos do meu pai. Depois de um tempo, o que era defeito passou a ser visto como qualidade. Os garotos da faculdade eram bem mais gentis comigo do que as crianças do colégio. Mas por algum motivo, eles não me interessavam. Meus namorados eram sempre homens mais velhos, e com muito mais experiência.

Quando eu conheci o JOSHUA, eu tinha acabado de terminar um caso de sete meses com meu professor de Ética na faculdade. O JOSHUA achava aquilo fascinante. Ele vivia dizendo que o único motivo de eu ter me envolvido com esse professor havia sido a ironia de se ter um caso com alguém que defende justamente a ética. Ele me via como uma contestadora natural, e dizia que devia ser o sangue Irlandes. O JOSHUA acreditava muito nos símbolos, nas ironias, nos sonhos reveladores, nos atos falhos como prova dos nossos desejos mais reais. Por duas vezes, no telefone, eu sem querer chamei o JOSHUA de pai. Eu explicava que tinha sido por que eu andava com saudade do meu pai, ou porque tinha acabado de falar com ele. Ele dizia que eu tinha feito isso porque na verdade era assim que eu o via. Eu ria. Mas ele levava isso muito a sério.

Eu me deixei envolver pelo JOSHUA. Ele me lia de uma forma tão incrível. E completava minhas frases com uma facilidade irreal. Aos poucos, ele foi me revelando o seu mundo. E me ensinou muito sobre BDSM. Eu disse a ele que sempre tive desejos estranhos, mas que ele tinha sido a única pessoa com quem eu conseguia me abrir completamente. Provavelmente ele seria o único homem que eu respeitaria tanto a ponto de achar digno da minha submissão.

Quando faltavam apenas duas horas para o encontro, tomei meu banho e me arrumei. E foi pra ele que eu me vesti. Eu pertencia a ele, independente das bobagens que a angel havia dito. O Joshua tinha 47 anos. Eu podia não ser exemplo de beleza, mas eu sabia me fazer bela. Eu tinha certeza que quando eu chegasse, com meu vestido preto, meus cabelos soltos, perfumada e me ajoelhasse diante dele, ele me aceitaria. E nos meus sonhos, eu voltaria pra casa com um grande sorriso de satisfação e portando uma coleira com o nome dele.

Mas não foi tão simples assim. O bilhete dizia para eu estar às 20 horas, e às 20 horas eu estava, no local combinado. Não posso descrever aqui nenhum detalhe do percurso que fiz para chegar, mas tenho autorização pra dizer que não levei mais de meia hora para estar na porta, como combinado.

E foi ele quem gentilmente abriu a porta do meu carro.

O JOSHUA é um homem encantador. Fisicamente, tem aspecto comum. De estatura mediana, cabelos escuros, olhos castanhos... Nada que pudesse chamar muito a atenção em um primeiro olhar desatento. Mas quem o observa por um pouco mais de tempo, logo percebe nele uma postura perfeita, um estilo quase clássico, um jeito sereno e confiante de executar cada movimento com fascinante precisão. Sua forma de se vestir não era em nada pretenciosa, mas em cada detalhe, da camisa cinza de tecido grosso até o brilho dos sapatos, notava-se a qualidade e o bom gosto.

- As chaves, por favor. – foi a primeira coisa que ele me disse, pessoalmente.

A segunda foi o meu nome. Ele tocou meus cabelos. Correu os dedos neles. E disse:

- Scarlet. Vou te chamar assim, tá bom? Scarlet. Eu não tenho certeza se vai ser sempre assim. Mas por enquanto, será.

Entreguei as chaves a ele, sem qualquer hesitação. E sorri, timidamente.

Ele sorriu também. E enquanto me conduzia pela porta, jogou-as pro Tony, que passava por ali.

- Traz o carro pra dentro. Não quero problemas.

E andamos mais um tempo pelo extenso terreno até chegarmos a uma pequena casa branca, de alvenaria, ainda mal acabada, mas muito bem decorada. Os móveis eram poucos, mas de notável qualidade. A sala era de bom tamanho. No chão, alguns belos tapetes davam um ar confortável. Dali, se abriam duas portas. Com o tempo, descobri que uma delas dava entrada para o escritório de JOSHUA, e a outra para a suite que ele mantinha ali.

Sentamos no sofá. Bebemos um suco de frutas que ele insistiu em me servir. E conversamos, por horas, sobre a vida, sobre acaso e destino, sobre nosso passado e nossas origens, sobre desejos e sobre o nosso encontro. Às vezes ele parava de falar e tocava meu rosto. Eu baixava o olhar. E então ele continuava, como se nada tivesse feito.

- Sabe, eu quis que você viesse porque gosto de você. Sinto que eu posso confiar... E pode ser que você seja exatamente o que eu preciso. Eu vou conversar sobre isso com vc. Vou te explicar tudo que você precisa saber. E você sempre vai ter a minha orientação. Scarlet, esse local, não é só um terreno. Essa é a realização de um sonho. Um sonho que não é só meu, e que eu jamais poderia ter realizado sozinho. Tem pessoas de minha extrema confiança que são peças chave pra tudo isso.

- Os Sete! – eu disse, quase sem notar.

Ele riu.

-Sim. Os Sete. Vejo que você e a angel conversaram um pouco mais do que deveriam.

-Não, ela não disse nada, Senhor. Ela disse que não cabia a ela me contar. Bem, mas os Sete são o Senhor, a angel, o Tony, e quem mais?

- Angel? A angel é minha escrava. Nenhuma escrava poderia ser parte dos Sete. Ela não é TOP. Não é dominante. Isso não seria admitido aqui. Mas você acertou quanto ao Tony. Ele é uma peça chave nisso tudo. O Tony é um velho amigo meu. Uma pessoa fantástica... E ele já foi um empresário muito bem sucedido, Scarlet.

Eu ri. Foi incontrolável. Era difícil imaginar o Tony como algo mais do que o manobrista do JOSHUA.

- Scarlet, a vida é cheia de surpresas. O Tony perdeu muito dinheiro após aceitar entrar em uma sociedade com pessoas mal intencionadas. Construiu um império por mérito, e o perdeu por confiar nas pessoas erradas. E isso é algo a se temer, não acha? Confiar, contar com outra pessoa parece ser sempre o que nos levanta, e o que nos derruba, não acha?

Eu tive medo de ter visto um brilho estranho em seu olhar. Mas JOSHUA continuou e eu logo esqueci essa sensação.

- Depois do fracasso dele no mundo dos negócios, eu o apresentei a outro mundo, no qual ele foi muito melhor sucedido. Ele fechou sua companhia e veio trabalhar pra mim. Ele projetou o galpão e todos os seus equipamentos. Foi uma parceria quase perfeita. Eu tinha o dinheiro e a idéia. Ele tinha o tempo, e o conhecimento necessário. Antes de qualquer coisa, ele é um engenheiro espetacular.

- Ele é também seu escravo?

- O Tony? Não! – Ele riu – Veja, Scarlet, quando a gente conhece o BDSM, temos a impressão de que todo Sádico é naturalmente um Dominador. Ocorre que o Tony é o filho da mãe mais Sádico que eu já conheci na vida. Mas ele não é Dominador. Não é esse o fetiche dele. Ele acha essa coisa de Dominar uma grande perda de tempo. Se eu desse duas mulheres nas mãos dele, e dissesse que ele seria responsável por ensina-las qualquer coisa que fosse, ele me chamaria de maluco. O Tony quer estar no plano físico. E isto apenas basta. O prazer dele é causar dor. Pouco importa se a mulher em questão o chama de Senhor ou de palhaço, desde que ele possa, fisicamente, subjuga-la.

-Ele é mais Sádico que o Senhor?

- Muito mais. Eu nem sou tecnicamente um Sádico. Eu apenas uso a dor como elemento de controle. A dor pra mim é só um meio, não um fim, entende? Eu gosto do efeito que ela tem em pessoas como você...

-Sim, Senhor. Entendo.

- Resumindo bem, assim como o Tony, outras pessoas de nossa confiança foram chamadas. Não bastava ser amigo e TOP. Era importante que cada TOP tivesse algo que nos fizesse melhores. Não importava o que fosse. Uma qualidade, um saber, uma profissão... Todos precisavam ser necessários. Todo precisavam dedicar algo ao bem comum. A masmorra levou um ano para ser construída e completamente equipada e decorada. Durante esse ano, Tony e eu escolhemos e investigamos os candidatos. Com o tempo, recebemos novos membros. Pessoas que você terá a chance de conhecer, se tudo sair como eu imagino. Também era necessário que os TOPs escolhidos compartilhassem do sonho de se ter um local para a vivencia de nossos fetiches e desejos. E que também desejassem essa confraria. Por ultimo, importava que aceitassem a minha liderança.

- É uma história muito interessante, Senhor. Mas normalmente quem quer confraria não quer liderança. – interrompi.

-Sim. É verdade, Scarlet. Mas também é verdade que a única liderança real não é imposta, mas a que ocorre naturalmente. Líder não é quem se proclama, e sim quem assume a função por mérito. Não existe nenhum tipo de relacionamento de igual para a igual, se você reparar. Nem entre irmãos, entre cônjuges, nem entre colegas de mesma função. A hierarquia existe independente de notarmos ou não a sua existência.

E foi então que JOSHUA disse as palavras que me convenceram completamente de que ele era um líder natural:

- Scarlet, você nunca se perguntou por que tem tanta gente que sonha, sonha alto, e mesmo tendo todas as condições de realizar seu sonho, não o faz?

-Sim, Senhor. Isso é muito comum.

-Comum – ele repetiu – muito comum. Mas um sonho não se realiza nas mãos de pessoas comuns. Eu tenho meus defeitos, mas tem algo sobre mim que poucas pessoas sabem. Scarlet, eu sou constante o suficiente pra ter a estabilidade de não perverter os meus ideais. E eu sou um Dominador. O BDSM é a minha bandeira. Não aquilo que vemos por ai o tempo todo, mas o BDSM que é raro. Não falo de nada trivial. Falo de algo imenso, daquilo que mora nas fantasias mais utópicas dos que são conhecidos como grandes Sádicos, Dominadores, masoquistas... O meu sonho é grande. E eu não aceitaria nada além do melhor. Ocorre que, além disso, eu sei enxergar o potencial das pessoas. Sei achar entre muitos, a pessoa certa pra ocupar cada papel.

O telefone interrompeu a explanação. Mas ele não precisava dizer mais nada pra que eu o considerasse digno da liderança.

- Sim. Sim, Tony. Chegou? Já estamos indo.

JOSHUA tomou minha mão:

- Venha comigo.

Em um canto da sala, eu não tinha notado escondida atrás de um pequeno biombo, uma escada. Descemos por ela e JOSHUA abriu as grades que a separavam de um imenso corredor.

Fui transportada imediatamente para um cenário que apenas havia visto em filmes, até então. O corredor era largo e escuro. Cada passo ali ecoava, e eu sentia meu corpo quase dormente. Me dei conta de que ninguém sabia que eu estava ali e que eu estava completamente nas mãos daquele homem que eu nunca havia visto antes. Eu não sabia sequer o nome dele, e mesmo assim, eu caminhava por aquele estranho corredor que eu sabia, terminava no galpão no qual a esposa dele, angel, havia sido usada como um brinquedo, por ele mesmo, pelo Tony, e de certa forma, também por mim. Tive medo. Mas não atrasei o passo. Seguimos até o fim do corredor.

O galpão ficava inteiro abaixo do nível do solo. As paredes e o chão eram ásperos e escuros. A iluminação era toda artificial, de forma que, uma vez tendo entrado, era impossível diferenciar noite e dia.

- Bem-vinda à masmorra. – ele disse orgulhoso. – este é o hall principal. É aqui que a maior parte da diversão acontece.

Eu olhava a minha volta e sentia um arrepio percorrer meu corpo. Ao mesmo tempo, eu estava eufórica. Eu precisava andar por aquele local improvável livremente. Eu precisava correr e tocar cada objeto, entrar em cada sala, explorar o novo mundo que se abria diante de meus olhos. E JOSHUA percebeu essa necessidade em mim, e deu um sinal pra que eu o fizesse.

A Primeira coisa que toquei foi o X de madeira, pregado à parede do hall principal. Fechei os olhos. Aquilo parecia um sonho. Mexi nos vários modelos de chicotes, chibatas, relhos e palmatórias, pendurados à parede. Sentei-me nos bancos de alvenaria. Entrei e saí das pequenas celas, algumas das quais só me permitiam a entrada se eu raspasse os joelhos no chão. Explorei algumas das salas cujas portas largas davam para o hall principal. Nelas, eu via cavaletes e vários tipos de armações que eu nem sequer compreendia. Nas paredes, muitas vezes se encontravam ganchos e grilhões. Várias algemas, mordaças, clamps, esporas, vendas, coleiras e guias enfeitavam uma estante. Em outra, se achava todo tipo e tamanho de cordas. Outra ainda, expunha velas de vários formatos. Eu estava no local mais excitante em que já havia pisado, e totalmente imersa em uma deliciosa sensação de descoberta. JOSHUA sorria, absorvendo cada cena, cada expressão de surpresa e desejo que havia provocado em meu olhar.

- Aposto que já está se imaginando sentindo um chicote na pele... Ou então se imaginando com ele em suas mãos, acertando uma submissa, sem muita piedade...

Eu não acreditava no que tinha ouvido. Então ele também achava que eu era Switcher?

- Por que diz isso? O Senhor sabe que não sou Switcher. Sou sua. Sempre fui.

-Minha? Como assim, minha? Sei do teu respeito por mim; do teu reconhecimento. Mas você não é minha.

Toda a minha alegria deu lugar à decepção.

- Eu sou sua! Eu sou.

JOSHUA pareceu perder um pouco da sua tranquilidade habitual

- Eu não vejo nenhuma coleira com meu nome no teu pescoço. É um grande atrevimento você se dizer minha. Entre as minhas escravas nunca houve uma Switcher. É uma preferencia minha. Eu poderia até ser Dono de uma garota com tendências divididas se eu tivesse vontade. Mas até agora, nunca tive.

-Mas não é isso que eu sou. Eu quero servir. Te servir. Minha submissão é real. Tem sido real.

- Scarlet, pare de dizer isso. Você não me pertence. Não é exatamente isso que eu tenho em mente pra vc.

-Então me mude. Se acha mesmo que eu não sou submissa, o Senhor pode me mudar. Me ensina. Eu sou dedicada a ti. Eu tenho sido. Eu sou sua escrava. Eu posso ser melhor. Eu tenho te servido. E aqui dentro de mim, não importa o que o Senhor diga, eu sou sua.

Meu rosto estava molhado. Ele calmamente me abraçou e acariciou meus cabelos até que eu me acalmasse um pouco. E então ele disse sem que sua voz se alterasse em momento algum:

- Quem você pensa que é, criança linda, pra me dizer o que fazer?

Afastei-me dele. Eu não entendia aquela frieza. Eu estava perdida e confusa. Sempre havia sido uma pessoa orgulhosa. Mas meu orgulho e minha dignidade já estavam arranhados, e mesmo assim eu não me importava. Eu só conseguia sentir medo de que ele não me quisesse. Eu nunca havia sido recusada antes, por ninguém. Eu o odiei por isso, ao mesmo tempo em que o admirei ainda mais.

- Scarlet, ser minha não é fácil assim. Você subestima a importância de ter minha coleira em seu pescoço. Você fez muito pouco ainda. Digamos que eu esteja errado sobre você. Que você seja, de fato, uma submissa pura. Ainda assim, eu não colocaria meu nome em você, nem te teria como minha, antes de ter certeza de que você tem condições de me servir, nos meus moldes. Até onde você iria por mim?

- Eu faria qualquer coisa, Senhor. – limpei os olhos com um movimento brusco – qualquer coisa.

Ele riu. Depois pareceu pensativo por alguns momentos. Ouvimos passos ecoando por um outro corredor que também terminava no hall principal. A imagem de um homem alto e notavelmente magro surgiu, aos poucos, saindo das sombras. Tentei me recompor. Passei as mãos pelo rosto e pelo cabelo, rapidamente.
O homem vestia um terno branco, impecável. E se movia de uma forma que eu achei um tanto teatral. Permaneceu ali, com um sorriso estranho no rosto, por alguns segundos.

- Ventríloquo? Demorou pra descer... Como vai, meu caro?

- Bem... Muito bem. Um pouco cansado. Precisando dar uma relaxada por aqui.

Os dois se cumprimentaram com satisfação. Dava pra ver que tinham grande consideração um pelo outro. E então, o homem de terno claro olhou pra mim.

- Está é a bambina de quem falou, JOSH?

-Sim, é ela. Mas houve uma mudança de planos. E agora eu tenho uma proposta pra ti.

-Diga!

-A Scarlet aqui vai fazer qualquer coisa por mim. Será que você quer ficar com ela por uns tempos?

- Não é melhor você dá-la ao Tony? Você sabe que eu não gosto muito dessas custódias divididas...

- Não há nada dividido nesse caso, a não ser o tempo. Você tem total autonomia quanto a ela no tempo que ela ficar contigo. A peça é sua. Só me peço que me devolva quando eu quiser, e que me relate qualquer particularidade. E eu não devo clamá-la tão cedo.

Eu estava absolutamente ultrajada, dividida entre a palavra que tinha dado, de que faria de fato qualquer coisa por ele, e o meu amor próprio. Ventríloquo caminhou a minha volta, lentamente.

- Neste caso... Eu aceito a garota. E o agradeço. Mas você sabe que eu não gosto que me imponham limites. A usarei como eu desejar.

- Justo – disse JOSHUA. – E perfeitamente claro.

JOSHUA fez sinal para que eu me ajoelhasse. Eu o obedeci, furiosa.

Ele então disse que a qualquer momento eu poderia simplesmente ir embora. Que tudo só faria sentido enquanto eu realmente quisesse estar ali. Que o BDSM só existe enquanto há consensualidade. Também me foi explicado que a moral sadomasoquista é diferente. Que o que muita gente considera absurdo ou vulgar, no meio pode ser considerado belo. Os valores são outros. E o que mais importava, e era esperado de mim, era somente a minha entrega.

- Scarlet, te apresento o teu Dono, Ventríloquo. Você deve se referir a ele como Senhor Ventríloquo. Faça tudo que ele mandar por mim, certo? E tire essas faíscas dos olhos. Não me agrada nada feito de má vontade.

Eu engoli minha raiva. E baixei o olhar.

-Sim, Dono. – respondi, não conseguindo resistir a fazer esta pequena provocação.

No mesmo instante, recebi o primeiro tapa no rosto que levei na vida. Meus braços chegaram a tocar o chão com meu movimento. E o autor do tapa, não era o JOSHUA.

- Scarlet... Scarlet... Você não ouviu o que o JOSHUA falou? Você é minha agora. E a sua primeira regra é: Se chamar outro homem de Dono, o seu rosto vai arder.

Era muita informação pra mim... Aquele lugar, os Sete, a delicia de me ver em uma masmorra, a rejeição do JOSHUA e agora, o controle de outro homem sobre mim. Eu não conseguia mais pensar claramente. Minhas emoções se misturavam. Ventríloquo riu da minha confusão.

JOSHUA e o meu estranho Dono conversaram por algum tempo. Após isso, JOSHUA se despediu dele, e seguiu pelo seu corredor, deixando-nos a sós, na masmorra. E ela, agora, não me parecia mais tão fascinante. Era apenas um galpão tão frio e assustador quanto o homem de terno branco que tirava meu vestido.

- Vamos ver agora se essa bambina foi um bom presente.

Senti suas mãos frias percorrerem o meu corpo. Ele apertou meus mamilos com tanta força que eu gritei de dor. Ele olhava nos meus olhos e sorria, com prazer. E apertava mais. Foi meu primeiro contato direto com o olhar de prazer de um verdadeiro Sádico.

Fui então puxada por ele e debruçada em um dos bancos de alvenaria. Ouvi o barulho do zíper de sua calça se abrindo. E senti seu membro encostado em mim. Eu chorava muito e ele perguntou:

- Quer ir embora?

-Não – respondi- Não, Senhor.

- Tem certeza? Se você ficar eu vou por isso tudo em você. E eu não gosto de nada convencional. Não vou fazer nada que não te faça sentir dor e gritar pra mim... É melhor você desistir...

- Não. Não vou desistir- eu disse, já soluçando.

- Ótimo. Então engole esse choro.

Eu tentei me controlar. Respirei fundo e me acalmei um pouco.

Mas então ele me penetrou por tras com violência, se forçando dentro de mim. Meu corpo resistia aumentando ainda mais a dor. Ele se impunha, aproveitando cada atrito, cada resistência a favor de seu prazer Sádico, até estar inteiro em mim. Eu voltei a chorar compulsivamente enquanto ele se movia cada vez mais rápido. Fechei os olhos. Eu achei que fosse acabar logo... Mas aquilo parecia não ter mais fim. Ele parava, falava comigo coisas que eu já nem entendia mais. Depois voltava a me torturar com mais força e mais vigor ainda, entrando e saindo do meu corpo exausto. Virei o rosto. Notei acima do X de madeira os dizeres: “MEA CULPA. MEA MAXIMA CULPA”. Fixei ali o meu olhar. Deixei que o Ventríloquo fizesse uso de meu corpo. Mas decidi que minha mente não estaria ali. Me concentrei em mim. No meu novo papel. E apesar da dor e da humilhação real que eu sentia, tinha uma parte estranha minha que se orgulhava de estar, apesar de tudo, ali.

(continua...)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

SETE



SETE

PARTE I - O Teste

A fantasia e a realidade caminham juntas. Nossas escolhas são todas impulsionadas pelo mundo secreto de sonhos e expectativas que existe em cada um de nós. Não falamos muito dele. Muitas vezes fingimos satisfação com o que é real e concreto, porque amamos a boa repercussão de nosso trabalhoso marketing pessoal. Mas lá no fundo, em alguma esquina escura de nossas mentes, sabemos que cada pequena decisão tomada, é na tentativa de ficarmos um pouco mais perto daquilo que é tão grande, tão ousado e tão inovador, que teríamos certo constrangimento em assumir como nosso maior desejo ou objetivo.

E se eu te dissesse que no coração do que conhecemos como o meio BDSM, há sete pessoas que assumiram seus desejos mais intensos e criticáveis, e que, juntas, elas reuniram recursos e apoio suficiente para transformarem suas fantasias em realidade? Você acharia que estou mentindo?
Seja como for, essas pessoas existem. Se são reais ou apenas personagens de uma trama, fica somente a teu critério. O quanto de verdade ou de ilusão estão contidas nas linhas deste relato, não me foi permitido revelar. A minha atribuição limita-se a simplesmente narrar, com fidelidade, o que tenho vivido nestes últimos anos. É possível que alguns nomes tenham sido trocados. E é claro que o que escrevo é sempre limitado pela visão através da minha própria lente. E o que você enxerga no meu texto é criação sua. Ainda que cada linha tenha realmente acontecido, você verá apenas o que escolher. Há realidade em cada ficção. Há ficção em cada verdade. E não existe nada absoluto no mundo que conhecemos.


**
Eu pertencia ao JOSHUA. No meu pescoço não havia coleira. Eu nunca havia nem dito nada a este respeito, mas eu sabia que eu era Dele. O meu quarto estava iluminado apenas pela luz do computador. Ele mandou que eu aceitasse a chamada de vídeo.

A imagem estava escura. Aos poucos percebi que se tratava de um galpão.

Pelo fone, a voz inconfundível:

- Tem certeza que você quer ver?

- Quero! – respondi imediatamente. Eu estava bem orientada. Eu sabia que seria um caminho sem volta. Eu estava certa do que eu queria.

A câmera foi virada em outra direção. Eu pude ver a silhueta rude de um homem que andava para longe da minha visão. Ele estava sem camisa e vestindo uma calça escura. Era um homem pesado. Conforme ele caminhava de volta, reparei no excesso de pelos e senti um certo asco. Ele trazia consigo, puxada por uma guia, uma mulher magra e delicada. Tinha cabelos loiros e lisos. Estava totalmente nua. Era bonita, pelo que eu podia ver. Ela rastejava no chão áspero, seguindo aquele homem estranho.

Em sua boca, notei uma mordaça simples e aparentemente bem apertada.

O homem, de forma bruta e com movimentos rápidos, a segurou pelos cabelos e a deixou de joelhos.

- Pode parar, Tony, aí mesmo – disse a voz suave e decidida de JOSHUA. – Agora aguarde o meu comando.

E então, ele me disse:

- O nome dela é angel. Achei que ela seria a pessoa perfeita pra você observar. Ela está aqui porque quer. Teve escolha. Você acredita em mim?

- Claro. Nunca duvidei de suas palavras.

- Ok... Agora quero que você me fale novamente de seus fetiches. Você disse que gostaria de sentir o peso da minha mão no seu rosto, não disse?

- Sim - eu respondi.

Ví que Tony balançou a cabeça positivamente, como se acatasse uma ordem de JOSHUA. Ele levantou o queixo da garota e eu pude ver seus olhos claros e incomuns. Em seguida, um tapa atingiu a face delicada. Depois mais um. E mais outros dois vieram.

- Você também disse que queria saber como seria um spanking. Que apenas tinha visto fotos, nestes sites que você frequenta, não é mesmo?

- Sim... sim, eu disse, mas...

Antes que eu pudesse terminar a frase, Tony puxou a garota pelos cabelos, a debruçou em uma mesinha e se ausentou. Retornou depois com uma palmatória de madeira nas mãos. Vi quando angel mordeu os lábios. Deve ter sido depois do quarto ou quinto golpe. Eu já estava ofegante... Eu não sabia se era certo eu continuar olhando. Mas eu não conseguia nem mesmo desviar o olhar da tela, por um segundo que fosse.

- Eu quero que você goze pra mim enquanto assiste – JOHSUA falou.

No mesmo instante, deixei minha mão escorregar pela coxa até que eu pude sentir o quanto eu estava molhada. Eu via aquela garota frágil e delicada recebendo os golpes... sua pele ficando vermelha e marcada. Eu via o prazer nos olhos do estranho homem que executava sua pena... E eu sabia que o grande Juiz, aquele a quem eu pertencia, tinha feito de mim seu júri, e apenas uma palavra minha poderia libertá-la da dor.

Na medida em que os golpes continuavam, eu me sentia cada vez mais perto do gozo. Eu podia ouvir os gemidos da garota, abafados pela mordaça, se intensificando. Poucas vezes eu havia me sentido tão excitada. Eu me tocava de um jeito mais forte que de hábito. Meu prazer e os movimentos do meu corpo, tudo em mim era mais forte e mais real.

- Põe o microfone mais perto da sua boca. Eu quero te ouvir – ele disse
E eu fiz o que ele mandou... E continuei.

- Continua e me ouve. Agora vou te dar uma escolha. Você manda a cena parar e te passo o endereço daqui. Sei onde você mora. Estamos bem próximos. Em pouco tempo você pode estar aqui e vai finalmente me conhecer. E eu vou fazer com você o que você tanto me pediu. Exatamente como o Tony está fazendo com a angel agora.

Tony agora a açoitava com um chicote um pouco mais longo. E entre um golpe e outro ele a tocava.

- A escolha é sua. E você tem dois minutos para fazê-la. Mande o Tony parar tudo e venha pra cá, pra ser usada por mim. Ou então você pode continuar vendo e dar mais ordens. E tudo que você mandar, ele fará, com ela.

Eu não conseguia pensar direito. Por mais de um ano eu me sentia e agia como uma escrava para o JOSHUA. Mas ele nunca tinha marcado um encontro comigo. Por várias vezes eu havia pedido. Ele sempre me dizia que não era hora. Minha dedicação havia sido imensa. Se ele mandasse, eu não dormia apenas pra satisfazer os seus desejos. Nunca fingi. Nunca priorizei a mim e ao meu prazer.
Mas os gemidos daquela garota, e o poder que ele tinha entregue a mim, eram extremamente sedutores.

- 30 segundos. Escolha! Agora! Não pare de se tocar e escolha.

Eu não sabia o que fazer. Eu estava tão perto de um orgasmo.... E foi um ato totalmente impulsivo que me fez dizer:

- Tony... Tony.... eu quero que você vire a angel pra câmera, para que eu possa ver os olhos dela enquanto você a usa com força.

Tony olhou para o JOSHUA, que consentiu com um aceno de cabeça. Então ele sorriu pra câmera, e fez exatamente como eu tinha ordenado. E ele foi tão bruto quanto eu tinha imaginado que ele seria. Ele a penetrou de uma vez, sem nenhuma preocupação. E eu pude ver os olhos molhados de angel. Ela era realmente linda. E realmente delicada. E o sofrimento a deixava ainda mais desejável. Eu não pensava em mais nada... eu só apreciava cada movimento. E os nossos gemidos se fundiram. E eu me sentia tão quente por dentro... E o melhor gozo que eu tinha sentido até então, tomou conta do meu corpo inteiro...


**


Passaram-se duas semanas da chamada de vídeo. JOSHUA nunca tinha ficado tanto tempo sem entrar em contato comigo. Eu não podia telefonar. Eu não me atreveria. Mas já estava ficando impaciente. E eu sabia que isso tinha alguma coisa a ver com a minha decisão.

Na sexta feira, por volta das 4 da tarde, eu estava vendo um filme antigo quando a campainha tocou. Quando eu abri a porta, uma garota sorriu pra mim. Eu levei menos tempo pra reconhecer do que pra acreditar...

- Angel? É você, não é?

- Oi. É um prazer te conhecer!

Fiquei parada por alguns segundos.

- Eu posso entrar? Não vou ficar muito tempo...

-Pode, claro. Entra.

Eu estava absolutamente desconfortável, mas ao mesmo tempo aquela visita era bem interessante. Ela olhou em volta como se fizesse notas mentais do que via.

- Você está lendo Sade? – ela perguntou, folheando o livro que eu tinha deixado em cima da mesa.

- Sim...

- Faz sentido – ela sorriu. E sentou-se no sofá ao meu lado.

- Olha, eu queria te pedir desculpas sobre aquela noite... Eu não sabia muito bem o que eu podia pedir...

-Pedir? –ela riu. Você não pediu nada pra ninguém. Você deu sua ordem com segurança.

-É. Na hora eu me senti segura, mas eu não queria te machucar.

-Me machucar? Você realmente acha que era eu quem estava sendo torturada ali? Não seja boba. Eu fui parte. Mas quem estava sendo torturada ali era você.

- Eu? Do que você está falando?

- Ah, foi claramente um jogo sádico do JOSHUA com você. Ele te fez escolher entre dois dos seus maiores desejos. Eu diria até que foi um teste.

-Um teste? Teste de que?

- Garota, você é o que a gente chama de SWITCHER no meio. Switcher é quem tem as duas tendências. Dominação e submissão. Se bem que o teu caso está mais pra Sadismo e masoquismo...

As palavras dela me feriram imensamente. E me irritaram também.

- Eu estou familiarizada com o termo. E eu não sou switcher. Eu sou submissa. Já faz tempo que eu tenho obedecido a todas as ordens do JOSHUA.

- Bem, eu o obedeço há cinco anos, desde que nos casamos. Isso sem contar os anos de namoro.
Eu fiquei perdida. Se angel era a esposa do JOSHUA, como ele pode deixar o Tony fazer tudo aquilo com ela?

- Desculpe. Eu, não sabia.

- Não tem problema. Isso não importa. Mas pro seu bem, pra você não sofrer depois, é bom você entender que o JOSHUA não é seu Dono. Ele é, por enquanto informalmente, o seu mentor. É bom que você o obedeça. Ele é autoridade máxima entre os Sete. Não por ele ser Dono de todos, mas porque todos reconhecem o conhecimento e o discernimento dele.

-Os Sete? Os sete o que?

-Olha, eu não estou aqui pra te explicar tudo. Na verdade eu só vim te entregar uma mensagem.

Angel tirou da bolsa um bilhete e me entregou. Abri imediatamente. Dentro dele, estava escrito um endereço, uma data e um horário.

- Você vai?

- Sim. Sim eu irei. – respondi prontamente.

- Ótimo. Eu já estou indo então.

E antes de sair pela porta, ela virou-se novamente pra mim e disse:

- Você deve ser muito especial.

Eu sorri. E perguntei:

-Você vai estar lá?

- Eu não sei. Eu nunca sei. – ela respondeu. E atravessou a rua.

Fechei a porta. E sorri. Eu iria finalmente conhece-lo.


(continua...)

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sexta-feira, 13 de maio de 2011

SPOTLIGHT


Eu sou o iluminador, atento e pronto.
Perto do palco, sempre. De frente pra ele
Tudo aquilo que sei, eu esqueço
O que a noite trará, desconheço...
É verdade que o roteiro já me foi apresentado
E que os atores, nas coxias, são todos meus amigos...
Ah, mas quando lanço no escuro teatro a luz do dia
Não há texto que persista, ou que resista ao momento
Cada instante é novo e único, no palco e fora dele
E vem você e me fala em representar emoções?
Em cumprir um papel? Em fixas atribuições?
Lêem-se textos, decoram-se idéias,
Repetem-se os poemas...
Só se transmite o que se sente
E isto não se pode prever.


Eu direciono a mente
É a minha sombra que reflete
A minha luz que compromete
Na cena, a doce canção à meia luz
No claro incontestável, é diferente.
E a Prima Dona, sem o meu brilho, que seduz
É só mais uma adolescente.
Eu mudo tudo! Eu escolho.
Sou eu que excluo ou acolho
A cor que eu lanço em tua face
É que te faz grande ou forte
Lenta ou triste, pálida, louca ou cruel...
Tanto, que o mal que me fazem
Não é mais que delírio meu
Só te dói o tapa que recebes, que tu aceitas
O rosto é teu. Todo teu!
Se te amo, é que escolho ter em ti a luz suprema
O amor que te dedico, o que explicito
Sou eu sempre. E sempre sou eu.

tavi de ÁSGARÐ 04/2011

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

TEIAS SOCIAIS



Quem já criou um perfil BDSM no Facebook? Vejo cada vez mais gente do meio por ali. É sempre interessante conhecer um novo comunicador ou rede social. Eu hoje tenho twitter, orkut, facebook, fetlife, formspring, MSN, skype e alguns outros, menos conhecidos.


Você já conhece alguém que tenha passado algum tipo de inconveniente por causa dos novos recursos de algum deles?


Lembra quando saiu o recurso do orkut que mostra os visitantes recentes do seu perfil? Foi no mínimo interessante. Da noite para o dia, milhões de flagrantes desconfortáveis de curiosos e afins.... Puxa, tem até uma certa justiça poética envolvida. Naquele dia, graças a Deus, eu não havia visitado nenhum perfil que eu não devesse. Mas tremi na base, de medo de ter visitado algum perfil baunilha com meu perfil SM. Escapei dessa vez. Uma atualização vingadora feita e eu, ao menos, saí ilesa.

Mas aí vc para pra pensar e... Não. Não é justo. Não é certo. Tem algo de muito pervertido nisso.

Porque o carinha que criou essa atualização certamente não foi visitar o perfil da ex namorada nos dias que antecederam a mudança. Ele teve tempo. Você não. Aquela atração secreta pelo seu colega de trabalho ficou muito longe de continuar secreta quando ele viu teu rostinho lá, em seus visitantes recentes.

Gente, isto apenas já seria motivo pra uma paranóia geral.


Mas teve mais... muito mais.

Sabe aquela amiga “mui amiga” que tirou uma foto com vc pra por no orkut? Ela saiu maravilhosa, mas vc, com um pouquinho menos de sorte, saiu com um olho aberto e um fechado e com cara de espirro? Pois bem. Ela publicou a foto. E vc nem ligou, afinal, vc não ia contar dessa foto pra ninguém. E ninguém iria ficar indo de perfil em perfil, procurando fotos suas engraçadas nos perfis de seus amigos.


Mas, nem tudo são flores.


Certo dia surgiu uma atualização que dá oportunidade a todos da sua lista de simplesmente clicarem em “Fotos COM você”. E assim, quem quis, não só viu como deu publicidade a uma foto emo que vc tirou completamente bêbado, e que nem lembrava que ainda existia, no perfil de um primo distante.


Não... não parou por aí...


E chegamos então em minha tragédia pessoal.


Eu criei o meu MSN na condição de comunicador, não de rede social.
Ou seja, meu objetivo era conversar com meus contatos e não por meus contatos em contato.


Um dia descobri que eu tinha um perfil do qual nem sabia da existência. No meu MSN baunilha, eu converso também com meu Dono. De alguma forma doida, o MSN criou essa falsificação de orkut e me obrigou ou me induziu a entrar de forma que eu nem dei atenção. Um dia acabei vendo a foto do meu pai do ladinho da foto do meu Dono. Pois é... contatos baunilhas e SM, misturadinhos. A foto do meu namorado, com o nick SENHOR ÁSGARD, ali, pra quem quisesse ver.


É verdade que estou em um processo muito lento de deixar de esconder meu lado SM para minha família. Estou porque me colocaram nessa situação, não por escolha. Nada a ver com as redes sociais. Mas enfim... se eu não estivesse já tão ferrada, isto poderia ter me ferrado.

Mas pra mim, o mais revoltante, foi descobrir que as frases que a gente coloca no MSN em um momento único, de raiva, ou em uma explosão de alegria que não se pode conter, ficam pra sempre gravadas pra quem quiser fazer uma retrospectiva da sua bipolaridade. Tá bom é verdade que vc pode explorar o seu perfil de consensualidade duvidosa e descobrir como fazer pra mudar isso. Mas isso é coisa pra quem está sempre por dentro das atualizações ou pra quem só usa um comunicador, e uma ou duas redes sociais. Quem é que vai checar toda manha seu orkut, seu formspring, o twitter, o skype, o fetlife e outros tantos, pra saber exatamente o que foi mudado aquele dia, e, o quanto da sua privacidade vc perdeu (loser!!!!!) sem nem sequer ter sido informado?


O importante é vc saber:


1- Uma vez na internet, pra sempre na internet. Seja foto, frase, texto... O que se publica, não é nosso. É como filho. A gente cria pro mundo.


2- Se vc não quer que alguém saiba, não faça. Mas se fizer, faça ao vivo. Acredite, é mais discreto.


A gente vive em tempos interessantes. A privacidade acabou. E os produtos e serviços que nos são oferecidos “gratuitamente” no mundo de hoje, são meio x-men demais...


Eu me sinto como se alguém me oferecesse uma bala de menta. Eu aceito, porque eu gosto de balas de menta. Só que enquanto eu estivesse chupando, ela pudesse a qualquer momento, se transformar em um pedaço de jiló. Ou numa coxinha. Eu até gosto de coxinhas... eu só não quero sentir gosto de coxinha quando o que eu aceitei foi uma bala de menta, entende? É assim que me sinto com todas essas atualizações.


Ouvi dizer que agora, sempre que vc fizer uma pesquisa no google, o que vc digitou fica marcado. Se vc digita lá “garotas de programa” e alguém entra na tua pagina da google e clica em “pesquisas recentes deste usuario”, aparecerá tudo que vc pesquisou nos últimos dias....


Ok, ok... é mentira... eu não ouvi falar isso não.... mas vai dizer que não ficou um pouquinho assustado? Rs. É... pode acontecer...

BE PREPARED!!!!!!!!!!

=)

tavi