sexta-feira, 23 de novembro de 2012

O CAMISK

Recentemente, em um post na comunidade de Alkania, no Fetlife, várias garotas demonstraram interesse por uma peça de roupa descrita como uma das vestimentas nos livros de GOR.

As kajiras da saga nem sempre recebiam o direito de usar roupas. Era comum que permanecessem nuas, presas pelos tornozelos, sobretudo imediatamente após serem capturadas. Embora as mulheres livres odiassem o Camisk, por associa-lo à escravidão, uma vez que eram tornadas kajiras, o Camisk era visto quase como um premio. Alguns Slavers entregavam camisks às kajiras, para que pudessem usar a possibilidade de tira-los delas, como uma arma para o treinamento. O medo de perder a única peça de roupa, e de ser a única escrava nua, entre as outras garotas vestidas em seus camisks, fazia com que elas pensassem duas vezes sobre seu comportamento.


O Camisk é algo muito simples de se confeccionar. Nos livros é muito comum que as próprias kajiras, mesmo as que não tem qualquer experiência com isso, façam seu camisk. Ele é descrito como um retângulo de tecido com um corte simples para a cabeça, lembrando um poncho, embora seu corte seja reto. O Camisk, então, fica aberto lateralmente na maior parte de sua extensão, apenas sendo acinturado por uma corrente ou uma tira de couro ou de tecido, passada duas vezes pela cintura e amarrada. O comprimento do camisk típico, é na altura dos joelhos. Porém é comum que os Masters e os Slavers optem por fazer com que suas kajiras usem os camisks em um comprimento menor (como é o caso da citação que logo mais farei), seja para sua própria apreciação, ou para torná-las mais atraentes e aumentar seu valor de negociação. Existem camisks de vários tecidos e diversas cores. Alguns são mais simples e outros são feitos com sedas nobres e bastante caras. É bem comum que o tecido usado seja fino e parcialmente transparente. Mesmo os mais simples, são considerados bastante sensuais. É muito facil ter acesso ao corpo de uma kajira coberta por um camisk. A tradição Goreana de fazer com que as kajiras usem saias e nem sempre tenham permissão para usar roupas íntimas (sobretudo em eventos) é inspirada no mesmo princípio pelo qual os Goreanos dos livros amam o camisk. É esperado que uma kajira esteja disponível ao toque do Master.  E o fato de ela não estar totalmente nua, desperta a curiosidade e o desejo masculino.

Usar ou não o Camisk?

Depende exclusivamente do desejo de cada Master para sua kajira. Os Goreanos não pretendem adotar toda a cultura dos livros. O foco está nos princípios. Os detalhes, normalmente ficam a critério de cada Livre. Uma garota em uma saia e um corset, e mesmo em saltos altos, se eles lhe forem permitidos, pode estar perfeitamente bem vestida e provocante aos olhos de seu Master, e ainda assim, estar disponível a seu toque. E o que importa, não é ser agradável a ele em todos os sentidos?
Porem, eu pessoalmente acredito que toda kajira deveria ter a experiência de ter vestido um camisk, a não ser que seu Master realmente prefira que ela não o faça. O fato é que, quem já se vestiu assim, pode falar com mais propriedade sobre as sensações que uma vestimenta tão frágil e delicada pode causar. Cada mulher é única. Algumas se sentirão absolutamente confiantes em um camisk e vão vivenciar o prazer da liberdade que só se encontra na coleira. Outras vão vivenciar o impulso de tentar inutilmente fechá-lo mais do que é possivel, e de tentar adaptar seus movimentos para que ele não revele demais, entrando em contato com certos dilemas da submissão, e isso pode despertar a reflexão e ser um ótimo exercício de autoconhecimento. Outras não sentirão nada de especial no camisk, mas o fato de estarem vestidas como as kajiras são descritas, pode abrir um leque de possibilidades de diferentes tipos de provocações, fantasias e desejos. Seja como for, é sempre uma experiência rica e interessante.


O Camisk descrito nos livros

"He also purchased a large quantity of rough cloth. From this, as I later saw, camisks were made, a simple slave garment. When chained in a wagon, to the ankle bar, girls are commonly unclothed. When the tarnsmen struck, the girls had been freed from the wagons, to be driven into the thicket.  The camisks had been burned with most of Targo’s other goods. The camisk is a rectangle of cloth, with a hole cut for the head, rather like a poncho. The edges are commonly folded and stitched to prevent raveling. Under Targo’s direction the girls, happily, cut and stitched their own camisks. The camisk, I am told, normally falls to the knees, but Targo made us cut ours considerably shorter. I made mine poorly. I had never learned to sew. Targo was not satisfied with its length, and he made me shorten it still more. Mine was then no longer than Lana’s, or the other girls."
(Captive of Gor)

The common camisk is a single piece of cloth, about eighteen inches wide, thrown over the girls head and worn like a poncho. It usually falls a a bit above the knees in front and back and is belted with a cord or chain
(Nomads of Gor)


Outras vestimentas femininas

Alem dos camisks, várias outras vestimentas e acessorios são descritos nos livros. As mulheres livres na maioria das vezes usam os Robes of Concealment, que são roupas extremamente pesadas e fechadas, e véus escondendo o rosto.

Para vestir ou enfeitar as kajiras, além dos camisks são destinados vários tipos de sedas, correntes, cordões, e flores. As vestimentas femininas mais conhecidas em Gor são:

Camisks
Robes of Concealment
Siriks
Clad Kajir
Ta-teera
Common Slave Livery
Slave bells

Pretendo assim que possível, enriquecer esse post com a descrição desses e de outros itens. Mas espero já ter contribuído com um estímulo para a pesquisa.

Well wishes, Masters
girls, seve with fire!

tavi de ÁSGARÐ

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Virtual



Enquanto teclava inocentemente e lia tuas veladas provocações, me contive. Mas quando deixou teu desejo por mim explícito, não tive dúvida quanto ao que fazer. 

Escorreguei para a ponta da cadeira e aceitei a força dos meus instintos. E mesmo assim, de longe, eu estava pronta pra te receber em mim. A magia com a qual me tens enredada é ainda a mesma. O poder de fazer meu sangue correr mais rápido dentro de mim, ainda é teu. Separei minhas pernas e pus uma delas sobre a mesa. Deixei minhas costas tocarem o macio encosto da cadeira. Minhas mãos percorriam meu corpo exatamente como eu sei que você faria, e era impossível não gemer. Por várias vezes apertei minhas coxas e o bico dos meus seios, imitando a tua forma de faze-lo. Você aguardava uma resposta qualquer, que nunca vinha. Eu estava ocupada sendo surpreendida pela revolução que comandas no meu corpo, regendo-me, assim, mesmo que à distancia... Mesmo sem querer... Mesmo sem se dar conta de que eu gozei pra você.



  

sexta-feira, 6 de julho de 2012

SETE - Parte 10 - Final

Caros leitores. O meu objetivo em trazer ao conhecimento aquilo que por tanto tempo permaneceu oculto, se cumpre agora, em momento oportuno. Chegou a hora de alguns de vocês entenderem que o BDSM não se limita ao que tem sido dele publicado. É importante que, não todos, obviamente, mas alguns que notoriamente se destacam pela excelência de suas práticas, estejam preparados para que a essência desse estilo de vida não se perca, dando lugar a outras coisas, também importantes e bem quistas por todos nós, mas do ponto de vista das relações de Dominação/submissão, irrelevantes.
 O ser humano é e sempre foi multifacetado. A nossa alma necessita da satisfação de várias faces do que somos. Equilíbrio. Sim! Certamente. E é por isso que muitas vezes o comportamento do outro nos surpreende. O homem de meia idade, sentado num cubículo empresarial, focado, dia após dia, nos deveres de sua profissão e neles apenas, raramente escapa de ser flagrado, mais cedo ou mais tarde, em grandes bebedeiras ou envolvido em escândalos de tão grandiosas proporções, que nos é custoso acreditar.

 Isso ocorre quando sobrecarregamos a compreensão de um lado de nossas demandas essenciais, e privamo-nos de aceitar e vivenciar tudo o que vai na direção oposta, dando a nós mesmos a oportuna desculpa da coerência. Sim, havemos de agir com coerência! Porem é coerente que todo ser que tenha a habilidade mental para isso, interesse-se em ir a fundo no autoconhecimento, mergulhando em um mar incerto e menos lógico do que era de se supor: a mente!

A mente é um filtro de potencial e de desejos. Não é ela quem nos eleva, mas sim ela que, por vezes, sabiamente, nos limita. E é essa limitação que nos permite viver com coerência, ainda que superficial.

Ter vontades e quere-las, uma a uma, satisfeitas, e ainda assim quere-las contrariadas para atingir o ápice do desejo, em geral projetado no agente causador da frustração: este é o drama e o mistério da coleira. A coleira é a liberdade de assumir a própria incoerência. A ausência dos desejos próprios, e a anulação relatada por certos membros do que conhecemos como “o meio”, não condiz com os processos internos pelos quais passa quem se submete. Ora, os desejos não são algo que se pode anular pela vontade. Os desejos próprios de uma submissa permanecem e a eles, acrescentam-se outros, tantas vezes na mesma direção mas em sentido oposto. Eles se chocam e é esse choque que termina por minar e perverter os relacionamentos no BDSM, quando na verdade, isso deveria ser aceito como uma das incoerências inevitáveis, e administrado, caso a caso, pelo TOP da relação.

 Uma típica incoerência é a necessidade tão recorrentemente feminina de ser objeto, opondo-se à sua necessidade humana de ser amada. E infelizmente vai chegar um momento em que a submissa terá que escolher entre a coleira e a chance de ser o mais sublime objeto de afeição. E digo, sem medo de errar, que praticamente todas elas farão essa escolha vez após vez, optando pela submissão, até que chegue o momento oportuno, em que optarão finalmente pelo amor, pela vida em comum, pelo sonho de um sentimento que resista a tudo, inclusive ao tempo. O erro, caros amigos, é faze-la ter que optar.  Isso não invalida seus desejos submissos. Esse é o caminho natural da vida e das essências. Ainda que o homem precise da variedade e jamais abra mão de suas aventuras, não é incomum que ele encontre também nele o desejo de eleger uma femea a uma posição de destaque. Esta ficará e será a testemunha da existência das tantas outras que passarão. Ela será sua segurança. Ela satisfará sua necessidade inata de ser, não apenas o procriador, mas também o provedor natural. O homem é tão incoerente quando a mulher. A incoerência masculina de querer ser, para umas apenas predador, e para outras, segurança e proteção, é fascinante!

 Me custaria muito ver pessoas que tem um potencial tão maior que o mediano para esses fins, perdidas entre práticas eventuais ou abandonadas à tortura de não aceitarem suas próprias incoerências. É justo que haja abrigo. É necessário que quem quer ir mais além encontre também espaço. A comunidade dos amantes de couro e dos fetichistas pode ser envolvente. Mas essa convivência sempre deixará alguns poucos com a sensação de que ainda não se encontraram no mundo. Daí a importância das menores confrarias, para que não se perca a essência do que somos, entre tantas outras necessidades de tão distintos pequenos outros mundos que se formam ao nosso redor.

 Não pretendo ir mais a fundo em minhas teorias, neste relato. Me reconheço um aprendiz. Mas essa pausa se faz necessária para que entendam a minha motivação ao pedir à Scarlet que trouxesse ao conhecimento de alguns o que temos vivido. É pra que saibas que é possível. É pra que não se deixes intimidar pela falsa aparência de que o teu sonho é utópico. Eu o vivo, e posso dizer que ele é tão real e palpável quanto o corpo nú da mulher que nesse exato momento está aos meus pés.

 No mais, deixo o texto em boas mãos.

 Saudações

 JOSHUA


*** 

 Angel entrava e saía da cozinha do galpão, fazendo perguntas sobre o andamento dos preparativos, e apressando as meninas. Nina, becky e naya estavam suadas e abatidas, mas cumpriam suas funções com dedicação. Eu me sentia mal por não ajudar, mas Armand havia determinado que eu estivesse impecável para o encontro com o Druída.

 A festa seria a mais importante que eu havia presenciado. Essa noite estariam reunidos, os SETE e a grande maioria dos escravos oficiais. O Dungeon estava sendo decorado pelo escravo da Mistress Vera, o trovador, com velas artesanais de excelente qualidade. Tony preferiu ele mesmo cuidar da música ambiente e me surpreendeu com um repertório clássico, atípico de suas escolhas habituais.

 O Senhor Ventríloquo não demorou a descer. Usava um terno claro tão elegante que fez nina corar assim que o viu. 

 - Boa noite, Scarlet – ele acenou com a cabeça.

 Eu repeti seus movimentos.

 A mesa havia sido colocada no centro do Galpão. Era redonda e eu contei apenas sete cadeiras. Pouco a pouco, os Sete foram chegando e acomodando-se em seus lugares. O clima era de confraternização, porem não sem algo tenso no ar. Miss Catsy e Armand conversavam animadamente quando ele mandou que eu me ajoelhasse a seus pés. Ali permaneci, ao lado de naya que massageava os pés da Dona. Mistress Vera sugeriu que todos os escravos fossem chamados para enriquecer as discussões, e enquanto JOSHUA e o Druída não chegavam, discutimos vários tópicos polêmicos e aprendemos um pouco com o discurso apaixonado de Mistress Vera. Armand parecia um tanto formal. Era óbvio que ele se sentia bastante deconfortável. Mesmo assim, Tony conseguiu quebrar o silencio do meu Dono com suas brincadeiras.

 - O Romeozinho está mais engomado hoje do que de costume.

 - Nem todos tem a sorte de nascerem tão desleixados a ponto de sentirem-se apresentáveis em jeans escuro e camiseta como você, Tony – ele respondeu.

 Os dois riram. O clima se tranquilizou por uns minutos, e o entrosamento do grupo era notável. Até mesmo angel parecia envolvida nas conversas, explicando apaixonadamente seus pontos de vista. Ela não era tão ruim assim. Eu entendi que sua posição de liderança nos serviços exigia certo distanciamento. Mas além disso, quando não se sentia ameaçada, ela parecia ser uma mulher bastante agradável. Por vezes me peguei trazendo argumentos para suportar as idéias de angel. E ela também fez isso por mim.  Éramos mais parecidas do que era de se esperar.

Já passava das oito horas quando JOSHUA e o Druída desceram para o galpão. Armand fez um sinal para a Miss Catsy e ela ordenou à naya que trouxesse uma cadeira para mim. Sentei-me ao lado de Armand e ele me beijou com desejo.

- Você é minha, scarlet. Nem que eu precise te raptar daqui.

 Sorri. Eu sabia que era verdade.

 Foi estranho ver meu pai chegar e ser cumprimentado pelos livres e pelos escravos. Todos pareciam tê-lo em alta consideração. Acho que nunca havia olhado para ele como um Dominador. Mas algo em mim se orgulhava de saber que era isso que ele sempre havia sido.

Armand e Druída se cumprimentaram rapidamente com um aperto de mãos. E então, ele voltou-se pra mim. Era a primeira vez que eu abraçava meu pai, consciente de quem e o que ele era.

 - Senti saudades, filha. É bom te ver aqui.

 - É estranho e bom te ver aqui também, pai – falei.

 Angel puxou a cadeira para que JOSHUA se sentasse. A um sinal do JOSHUA, as meninas levantaram-se do chão em que permaneciam ajoelhadas e enquanto o trovador acendia as velas que estavam sobre a mesa, as garotas deixaram escorregar por seus corpos as sedas que os cobriam. Apenas braceletes, brincos, maquiagem sóbria e saltos altos adornavam as garotas que dirigiram-se à cozinha. O que se seguiu foi um banquete para a visão e o paladar, servido com maestria por angel, nina, becky e naya. A conversa fluía com leveza e humor. Era, afinal, o reencontro de pessoas que tinham uma historia e uma ligação muito especial. O galpão, antes um tanto impessoal, agora adquiria um novo sentido. Era quase como se ganhasse vida na presença dos Sete.

 Por um momento eu os admirei. JOSHUA e sua invejável eloquência. Ventríloquo e sua elegância. Miss Catsy e seu jeito amável e maternal. A inteligência e experiência de Mistress Vera eram cativantes. Tony era o elemento rude e inato, que parecia ter um talento incrível pra dizer o que, sem sua espontaneidade por vezes constrangedora, jamais seria dito, e ficaria engasgado, minando os relacionamentos dali. Não demorou pra que eu percebesse que o Druída era visto por todos como uma espécie de pacificador. E o Armand, sem dúvida alguma, com seus mistérios e seu jeito sedutor, era a magia que faltava para fechar a equação. Eles eram fantásticos quando juntos. A harmonia era algo que se sentia no ar daquele subterrâneo. Como os diferentes instrumentos de uma orquestra, eles se completavam, e eu tive medo de não ser tão boa quanto eles. Eu tive medo de que o que quer que eu tivesse a oferecer, jamais chegasse aos pés da essência agregadora de meu pai. Mas eu confiava no julgamento de JOSHUA. E era nisso que eu pensava, quando ele falou:

 - Bem. Estamos finalmente reunidos. Os Sete. É uma grande honra pra mim ver amigos tão queridos à mesa nesse local que é a segunda casa de cada um.

 -E a primeira e única, no caso do Tony – provocou Armand.

 Eles riram. JOSHUA retomou antes que o assunto esquentasse.

 - Brincadeiras a parte, eu sei o quão especial isso é pra cada um. Mas essa noite um de nossos membros de despede do grupo. E eu imagino que não deva ser fácil, Druida, desvincular-se desse lugar e de sua história aqui. Mas as portas do terreno estão sempre abertas pra você, meu amigo. E assim será enquanto eu estiver por aqui. Proponho um brinde ao Druída e seus novos caminhos.

 E os Sete brindaram e depois silenciaram-se. JOSHUA continuou:

 - Creio que todos já tenham uma noção de que Scarlet, aqui presente, filha do nosso companheiro, o Druída, é a minha indicada a preencher seu lugar.

 Eu corei. E olhei pra baixo. Mas Mistress Vera tocou meu queixo com a ponta dos dedos e os levantou. E disse discretamente:

 - Essa honra, quem recebe não é a escrava. Levanta teu olhar!

 Fechei os olhos por um instante. E quando os abri novamente, eles não mais miravam o chão.  

 - Há uma proposta de que ela seja aceita entre nós?

 Tony imediatamente levantou a mão. JOSHUA acenou com a cabeça, em reconhecimento.

 - Há apoio à proposta?

 Armand agora levantou a mão.

 Alguém se coloca contra ou tem alguma informação que a desabone?

 Os integrantes permaneceram em silencio. JOSHUA então virou-se pra mim.

 - Scarlet, é tua vontade tornar-se a partir de hoje, membro ativo dos Sete?

 Meu pai, do outro lado da mesa, me olhava diretamente, e acenou com a cabeça em concordância. E então abriu o mesmo sorriso que eu vira em seus lábios quando eu me formei no colégio, ou quando eu tocava no piano uma canção pela primeira vez. Ela estava orgulhoso de mim. Eu sorri por dentro e por fora.

 - Sim, JOSHUA. É de minha vontade tornar-me a partir de hoje, membro oficial e ativo dos Sete.

 - Você se compromete a honrar todos aqueles que aqui te recebem como aliada?

  Eu me comprometo a honrar todos aqueles que aqui me recebem como aliada.

 E então o mesmo sorriso que eu via em meu pai, se formava nos lábios de JOSHUA.

 - Bem-vinda, Scarlet. Sinta-se em casa. Você agora é uma de nós. Algumas informações ainda te serão passadas. Mas de agora em diante, este lugar também pertence a você.

 É indescritível o que eu senti ao ser abraçada e verdadeiramente acolhida por pessoas tão respeitadas por mim. A amizade entre elas era real. Sim, havia espaço para uma certa competitividade. E de tempos em tempos, os integrantes dos Sete eram, direta ou indiretamente, postos à prova. Mas esse processo era necessário para que a pureza das intenções fosse mantida. E ao chegar a essa conclusão, eu sorri por dentro. Eu estava a cada dia compreendendo melhor o JOSHUA.

 Depois houve riso, e música, e dança. E bom vinho. E escravas sorridentes contando piadas pra entreter. Enquanto JOSHUA dava um show de sofisticação dançando com sua angel, Armand me puxou pela cintura e colou seu corpo no meu de forma brusca. Eu senti a adrenalina correndo por mim.

- Louco! Agora não. Meu pai está por perto.

 Ele riu.

 - Tá bem, mocinha. Vamos esperar seu pai dormir. E depois, você nem tem ideia das maldades que eu vou fazer com você. – ele me soltou, mas não antes de segurar meu cabelo em suas mãos, e puxa-los só pelo prazer de me fazer gemer. 

Depois, Armand foi conversar com Miss Catsy que amarrava as  mãos de naya no X. Fiquei olhando pra ele, e nem percebi que meu pai se aproximava de mim.

 - Posso ter a honra dessa dança? – Disse o Druída.

 - É claro – respondi, delicadamente pousando meu braço em seu ombro.

 Uma valsa tocava ao fundo. Deslizamos pelo galpão em busca de alguma privacidade.

 - Eu quero que você saiba quão linda você está. E eu quero que você saiba o quanto eu me orgulho de você.


- Tem certeza? Sabe, foi difícil pra mim entender... Você é meu pai. Eu passei por certas coisas aqui... Eu fui escrava do Ventríloquo! Fui rejeitada pelo JOSHUA vez após vez. Passei dias em uma jaula aqui embaixo. Fui usada pra subir as arrecadações do site. Eu não consigo entender como um pai permite que uma filha passe por coisas assim.

 - Eu sabia que essa conversa com você não ia ser fácil, pimentinha. Mas o fato é que você sempre teve escolha. Sempre pode sair a hora em que desejasse. Se você não se foi, é porque algo dentro de você sabia que isso era o certo pra você. Eu acredito no que eu vivo. É fácil dizer que se acredita no que se faz, e simplesmente pirar quando seus filhos seguem o mesmo caminho. Se você realmente acredita que o certo é seguir sua natureza, você sente orgulho quando alguém tão importante também descobre esse estilo de vida. Essa é a minha verdade, filha. E não me ofende que ela seja a sua verdade também.  

 - É um belo discurso, Druída. Mas se ele é real, por que é contra eu pertencer ao Armand?

 - Filha... eu te conheço. Você foi criada por mim. O Armand teve varias mulheres e as administrou muito bem, mas nenhuma delas era como você. Eu sei o que vai acontecer.

 - Então me diz o que sua bola de cristal revela – provoquei.

 Ele me olhou por uns instantes como se estivesse em duvida se devia prosseguir. Por fim, continuou:

 - Quanto tempo você acha que vai levar até que você assuma o controle total do seu relacionamento com o Armand? Como você acha que ele irá se sentir vendo pouco a pouco isso acontecer? E você? Como vai se sentir depois de virar esse jogo? Um homem como o Armand pode controlar dezenas de escravas medianas. Mas não uma mulher como você. Não por muito tempo.

 - Pai... Eu o amo. E é esse sentimento que me domina. Sim, existem escravas que se dão por completo por serem fracas. Mas nem todas são assim. Não é minha fraqueza. É minha força que me faz ser dele. É a força do meu sentimento. Eu o amo. E isso é pra sempre.

 Ele riu.

 - Ok... para de pregar. Eu não vou me opor a isso.

 - Sério? Está falando sério? Eu tenho tua aprovação pra ser dele?

 - Sim, sim... você tem minha aprovação. Mas saiba que você não me convenceu. Eu ainda acho que isso não dará certo.

 - Como é possivel saber? Agora ele me tem tão completamente. Eu preciso viver isso, pai. Nunca existem garantias.

 Ele acenou em concordância. E me olhou por um longo tempo.

 A música cessou. E antes que começasse a próxima, fui levada até o Armand pelas mãos do Druída.

 - Conduza esta garota, Armand. Eu já fiz a minha parte. Mas saiba, ela foi treinada pra dar trabalho. E pra não ser guiada por ninguém que não tenha mãos de ferro e coração de ouro.

 - Coração de ouro? Druída, esse termo é quase tão arcaico quanto você. Os tempos mudaram. É uma honra pra mim conduzir esse desafio. E eu estou pronto pra ele. E pode ter certeza. Eu amo a scarlet. Eu vou cuidar muito bem dela.

 - Eu sei. Mas é esse meu medo, Armand. Exatamente esse.

 - Chega de conversa! – eu falei – e virei-me pro Armand. Vai me conduzir ou não, nessa dança?

 - É exatamente disso que eu estou falando, Armand. Não se deixe enganar por esse jeitinho inocente – riu o Druída.

 E Armand e eu valsamos mais uma vez enquanto os outros TOPs jogavam cartas e divertiam-se relembrando histórias de reuniões e plays passadas. Em algum canto mais escuro do galpão, Tony beijava becky e a torturava, arrancando dela gemidos de dor e prazer. Algumas cenas isoladas se seguiram. O Trovador teve as costas chicoteadas pela sua Mistress. Agulhas atravessaram a pele dos seios de nina, formando um belo desenho enquanto ela se contorcia de dor. Mas o clima era de informalidade. A confraternização seguiu seu rumo leve e tranquilo, apesar dos poucos gritos de dor...

 Pouco depois da uma da manhã, o Druída retirou-se para a casa que sempre havia ocupado. A casa que passou a ser, depois de sua partida, o meu refúgio particular no terreno. Mas a verdade é que a maioria das noites eu passo na cama de Armand.

 Depois da partida do Druída, houve uma play mais formal. Eu servi a Armand até o meu limite físico. O Som de seu cinto e suas palmatorias era ensurdecedor. Eu fui levada ao choro, mas ele não teve piedade. Eu estava sendo punida pelo mal comportamento de dias atrás; E ele estava, embora não quisesse admitir, provando pra si mesmo, que tinha o controle de sua escrava em suas mãos. Ele me tomou pra sí na frente de todos da confraria. Eu não conseguia sentir vergonha. Eu era livre. E gozei livre. Porque esse era meu direito de escrava. Ele me invadia com seu membro e ainda dentro de mim, me cortava a pele. Depois me puxava pra ele e o movimento tratava de abrir os cortes. Eu sangrava e era levada pelo cheiro do sangue e pela força com que ele me penetrava, a um ecstasy mágico. O sangue escorria pela minha pele e tocava a dele. Eramos um. Eu era dele não por ser, pra ele, bottom. Eu era dele porque eu era parte dele. E ele era parte de mim. Eu não pertencia a uma classificação. Eu pertencia àquela loucura toda que só ele era capaz de fazer nascer em mim. O frenesi, o desejo em desespero, o prazer no ponto máximo de sua potencia.... seu membro que dentro de mim latejava e crescia ainda mais a ponto de me preencher por inteiro. Ah, nem sei se eu era escrava, ou se era simplesmente mulher. Mas aquilo era tudo que eu sempre havia sonhado. Ele gozou dentro de mim e isso, mais ainda que o meu próprio gozo, foi o auge da minha realização.

 Voltei pra casa, para o meu dia a dia. Armand me visitava com frequência. E às vezes trazia Miss Catsy e a naya com ele. O Tony também se tornou uma presença constante em casa. Os outros eu via mais nos fins de semana que passávamos no terreno, para termos tempo e estrutura pra vivenciar nossos desejos e realizar nossas controversas praticas. Alguns escravos se foram. Novos surgiram. Mas era sempre um prazer incrível estar ali.

 Em uma quarta feira à noite, JOSHUA me ligou e pediu que eu fosse à casa um. Cheguei no terreno por volta das nove. JOSHUA me aguardava atrás de um tabuleiro de xadrez.

 - Scarlet, joga comigo. Eu preciso saber com quem eu estou lidando... – ele disse, com certa tensão.

 Eu ri

 - Você sabe que eu não vou deitar o meu rei, não sabe?

 - Eu sei – ele disse.

 E jogamos. Foi o jogo mais tenso da minha vida. Mas depois de diversas horas de muita concentração, eu ganhei.

 E é assim, viver enquanto grupo, sob a liderança de um homem como o JOSHUA. Todos só tem a ganhar. Eu, swicher, escrava de Armand, tenho orgulho de ser uma integrante oficial e ativa dos Sete. E tenho vivido momentos inacreditáveis. Tudo aquilo que tanta gente sonha, eu sinto. Todo o prazer. Toda a intensidade. Nada menos que isso me seria aceitável.

Bem, aqui concluo minha missão e encerro meu relato, esperando ter conseguido transmitir um pouco da riqueza dessa experiência, embora eu saiba que só passando pelo mesmo que eu seria possível a alguém compreender toda a  beleza e o tormento de se viver assim.

A todos que por ventura vierem a ter contato com esse relato, fica o meu carinho, e o meu desejo de que a nossa história, a história dos Sete, possa trazer à luz novas idéias, novos planos e, quem sabe, até mesmo, um novo caminho.

 Scarlet 



 *********



NOTA: Creio que seja desnecessário dizer que eu permiti que a Scarlet saísse vitoriosa no xadrez. Era importante criar nela essa sensação de independência e superioridade, para que ela venha a agir de acordo com meus planos para o futuro dos SETE.

Mas na dúvida, melhor confirmar o que devem ter percebido sobre mim. Posso ter muitos defeitos, mas eu nunca perco um jogo de xadrez!


JOSHUA



FIM

sábado, 17 de março de 2012

SETE - Parte 9 - JOSHUA, Tony e Druída


Eu devo ter praticamente invadido a casa um.


- Você sabia disso! Como você pode fazer isso comigo?

- Você está na minha casa, escrava. Veja como fala.

- Eu confiei em você, JOSHUA. Você não podia ter escondido isso de mim!

Tony, que estava na clareira com uma nova escrava, ouviu a gritaria e seguiu para a casa um.

- JOSHUA, está tudo bem? Precisa que eu escolte a princesa de volta pra casa do Romeozinho?

- Não Tony. Armand está aqui. Está tudo sob controle. Scarlet está tendo um pequeno problema em absorver algumas informações sobre o Druída.

Tony imediatamente assumiu uma certa moderação em seu tom de voz.

- Então ela sabe?



JOSHUA sinalizou que sim.



- Deve ser um pouco complicado pra você compreender, princesa. Seu pai é um Dominador muito respeitado por todos nós. E um grande amigo. Eu e o JOSHUA o conhecemos há muitos anos. Muito antes disso aqui existir. Ele foi parte da idealização desse lugar. Tudo que aqui foi construído carrega muito das idéias dele. O Druída é uma das pessoas mais inteligentes e mais teimosas que eu conheci. Você se parece muito com ele.



Eu não consegui sorrir.



- JOSHUA, você me deve uma explicação – exigi.



Armand, que assistia a tudo, calmamente sentado no sofá, levantou-se e caminhou em minha direção.



- Scarlet, eu não sei como você descobriu. De qualquer forma, você não ficou simplesmente me esperando, como eu mandei que ficasse. Você entrou na casa de um TOP, transgredindo minha ordem, gritando e exigindo explicações.



Eu o olhei, assustada. Armand passou a mão pelo meu rosto e me beijou demoradamente. Depois, quando eu menos esperava por isso, agarrou meus cabelos e me puxou pra baixo, obrigando-me a permanecer ajoelhada, com o rosto praticamente encostado no tapete. Eu senti a sola do seu coturno em minha face. Olhei pra cima, furiosa, e notei a expressão de Armand, gloriosa, refletindo seu poder. Eu queria odiá-lo. Eu estava frágil. Eu precisava de um abraço do homem. Ao invés disso, quem ali interagia comigo era o Dominador. E ele fazia questão de expressar seu poder sobre mim de forma até mesmo simbólica. Eu entendi que lhe era extremamente importante que eu olhasse de uma posição mais baixa. Não havia como eu descer mais do que aquilo. A distancia hierárquica entre nós estava muito bem marcada. O conforto de que eu necessitava, me havia sido negado. Eu era escrava. Ele soube fazer com que eu me sentisse exatamente assim, perante os membros mais importantes do grupo do qual eu era também faria parte. Eu queria sentir tanto ódio dele. Mas o amei por isso. O amei ainda muito mais do que antes.



- Você quer entregar sua coleira agora?

- Não, Senhor. Eu não quero.

- Beije os pés de JOHUA. E peça perdão.



Eu o fiz, sem pensar muito. Eu estava magoada e com milhões de duvidas a serem sanadas. Eu nem sabia mais se era minha vontade ser parte dos sete. Mas eu pertencia ao Armand. E eu tinha medo de que ele desistisse de mim.



- JOSHUA, minha escrava será punida pela desobediência a mim na próxima play.

- Sem problemas. Teremos tempo pra isso.

- Não é o tempo que me preocupa. Eu preciso que boa parte da Masmorra esteja revestida.

- Falarei com as meninas – disse JOSHUA.



Armand me puxou novamente pra cima e me apontou o sofá, para que eu me sentasse.



- Vou deixar você e JOSHUA conversarem.



Armand e Tony se retiraram. JOSHUA novamente me serviu algo pra beber. Então começou a longa explicação.



- Bom... o Frank... Eu o conheci em um campeonato de xadrez entre universitários. Eu já andava com o Tony na época. Eu cursava Direito e Tony era da engenharia. É lógico que Tony não tinha nenhum talento ou paciência pra xadrez, mas eu havia ficado entre os finalistas. Seu pai também. A universidade patrocinou nossa estada nos alojamentos pouco confortáveis de uma escola. Não demorou para que nos tornássemos inseparáveis. O Frank era inteligente o suficiente pra me parecer um amigo apropriado, e era divertido o suficiente pra que o Tony apreciasse sua presença. Seu pai era um dos alunos mais brilhantes do curso de Medicina. Brincávamos com o fato de que cada um de nós cobria uma área do conhecimento. Mas pra mim, isso não era coincidência. Era muito mais que isso.

- Equilíbrio – interrompi

- Sim. Equilíbrio. O Frank sempre fez muito bem o papel de diluir as diferenças entre eu e o Tony. Ele, como você, scarlet, conseguia acompanhar meu raciocínio em conversas abstratas intermináveis, e no momento seguinte, ter uma conversa leve e animada com o Tony, sobre musica ou filmes.

- Quem ganhou?

- O que?

- O campeonato. Eu duvido muito que alguém seja capaz de vencer meu pai no xadrez – eu desafiei.

- Está vendo aquele troféu ali no canto?



Eu nunca tinha reparado nele antes, mas ele estava ali.



-Sim.

- Eu levei o troféu aquele dia.

- Estranho – respondi.

- Realmente. Aconteceu algo inesperado. Eu venci meus adversários. Frank venceu os dele. E na final, erámos eu e ele, olhando para o tabuleiro. A situação era desconfortável. Já éramos melhores amigos. Seu pai sabia o quão importante era pra mim vencer aquele campeonato. Foi então que ele deitou seu rei, na frente de mais de mais de duzentos estudantes.

- Ele deitou o rei? Ele desistiu do jogo?

- Sim. Ele permitiu que eu ganhasse. Eu já tinha planos e sonhos de criar algo especial. Eu sabia que seu pai sempre havia sido um dominador em seus relacionamentos. Eu já o admirava. Quando ele fez isso, eu soube que ele faria parte do que quer que eu criasse. Ele permitiria a minha liderança. Não por ser intelectualmente inferior, mas por reconhecer que eu tenho mais interesse do que ele em administrar.

- E minha mãe? Ela sabe disso tudo?



JOSHUA sorriu.



- Sua mãe não apenas é submissa, mas também é uma treinadora de escravas. Várias vezes eu submeti até mesmo as minhas meninas para que ela as instruísse. O Ventríloquo também. A nina não é linda em sua postura? Ela foi aluna da melhor treinadora que tivemos, a gia.

- Gia... Gia quer dizer rainha. Isso é uma ironia?

- É mais um reconhecimento da dualidade do ser. Uma escrava pode ser gloriosa. As escravas daqui, tem orgulho de serem o que são.

- Gia... Rainha... É por isso que o Tony me chama de princesa?

JOSHUA riu

- Até que tudo isso faz um certo sentido... – constatei -  O comportamento dos dois sempre foi muito diferente do comportamento habitual dos casais. Mas eu nunca imaginei...  Meu pai tem outras escravas?

- Às vezes. Seu pai tornou-se hoje em dia um homem muito exigente. Quantidade não o move. Ele quer qualidade, excelência. Mas já teve muitas escravas, em outros tempos. Algumas delas entraram na sua vida, scarlet, como uma babá, ou uma amiga da família. Elas ficaram pouco tempo. Ele não se envolve emocionalmente com mais de uma garota. Ele sente carinho. Ele protege suas meninas. Mas ele ama uma delas, apenas. Gia. Acontece que são poucas as escravas puras, as mulheres que conseguem tirar tanto prazer de sua condição, que não precisam de uma vida comum também; um casamento, filhos, e o status de esposa. A maioria vive a escravidão em um momento da vida em que elas podem se dar ao luxo de faze-lo. Depois disso, suas outras necessidades vem à tona.



JOSHUA usou toda sua paciência e sabedoria pra me contar toda a história de uma forma leve e interessante. Ele manipulou minhas emoções pra que a satisfação da minha curiosidade fosse atenuante para o fato de eu me sentir tão machucada. Meu encontro com o JOSHUA, na internet não foi obra do destino. Meu pai, o Druída, percebeu que em mim havia a mesma essência dele e de minha mãe. Ele notava a minha solidão. Ele sabia que eu me sentia deprimida, por não encontrar meu lugar no mundo, e ele sabia, também, a que tipo de lugar eu pertencia. Da primeira conversa dele com JOSHUA sobre isso, até o dia que meu pai pediu que JOSHUA me tutorasse nessa descoberta, foram-se anos. O Druída precisou fazer a pazes com a constatação de que sua filha sentiria na pele os golpes do chicote. JOSHUA teve trabalho pra ensina-lo que, se ele acredita no BDSM, se ele opta por esse caminho e o abraça como algo que o faz bem, ele não devia permitir que seu próprio preconceito me impedisse de ser feliz. Era importante que eu encontrasse também o meu caminho.



Quando meu pai mudou-se para a Irlanda, a ideia era ele passar um pequeno período por lá, em pesquisa. Com o tempo, veio a noticia de que ele não mais voltaria a residir no Brasil. JOSHUA sabia que não haveria ninguém melhor para substitui-lo do que eu, seu próprio sangue. Mas algo estava no caminho. Nenhum membro dos Sete pode ser bottom. E eu me via apenas como escrava. JOSHUA testou outros candidatos, mas na verdade ele esperava que eu encontrasse o meu sadismo. Mistress Vera foi enviada por ele pra me ajudar nesse processo. Assim que eu abracei também minha essência de TOP, meu pai foi informado do desejo de JOSHUA, e consentiu que seu lugar fosse ocupado por mim.



Conversamos por horas. Todas as minhas perguntas foram respondidas. Faltava-me apenas saber por que o Druída não queria que o Armand fosse meu Dono.

O telefone de JOSHUA tocou enquanto falávamos nisso.



- Olá, Druída. Sim, eu sei. Não se preocupe. Estou tendo uma longa conversa com a scarlet. Ok. Ok. Quando? Sem problemas. Vou eu mesmo busca-lo no aeroporto.

Fui informada de que em dois dias o Druída estaria no Brasil.



- Mas e quanto ao Armand?

- Eu também não sei exatamente a que se deve essa resistência do Druída. Mas vou buscar entender.



Não havia mais nada a ser dito, e ainda, muitas duvidas povoavam minha mente. Eu me lembrei de cada lágrima que havia derramado no galpão. Era estranho que quem tivesse me enviado pra lá, pra que eu passasse por tudo isso, tivesse sido o Druída. Era difícil compreender como um pai podia ter sangue frio pra consentir que sua própria filha passasse por tanto sofrimento. Mas por mais difícil que fosse administrar essa verdade, no fundo eu sabia que ele o tinha feito porque suas convicções eram reais. Ele vivia o que acreditava, mas principalmente, acreditava no que vivia. E ele tinha a certeza de que eu seria mais feliz assim, em contato com minha essência e meus desejos, mesmo os mais sombrios.



O que realmente me perturbava era essa incoerência! Quando eu finalmente me encontrei nas mãos do homem a quem eu servia e amava, quando eu finalmente pude compreender quem eu era e encontrei prazer na posição a mim oferecida, ele, o grande responsável por me fazer chegar a tal ponto, era o único a se colocar entre mim e a realização plena de meus desejos.



Mas Armand havia preparado uma surpresa que me fez esquecer essas preocupações. Quando eu voltei para a casa 6, ele não estava só. Miss Catsy e sua bela escrava, naya, estavam lá.

Naya sorriu e sussurrou pra mim:



- Feliz que tudo tenha dado certo! É bom te ver feliz.. e com o Monsieur Armand...



Era impossível não sorrir vendo a alegria da garota que já havia até chorado por me ver tão mal. Naya era querida por mim.



- Que acha de colocarmos as meninas pra brincar, Armand? – Disse Miss Catsy

- É uma ideia... eu adoraria ver minha escrava em ação...



Eu sorri e disse:



- Se o Senhor me emprestar um chicote, eu adorarei ver a expressão de dor da naya...



Miss Catsy riu



- Menina, acho que não é isso que seu Senhor quer ver. Naya, explica pra scarlet...

Naya andou até mim. A garota usava um robby preto, rendado, amarrado na frente. Ela gentilmente puxou um dos fios e deixou que a única peça de roupa que cobria seu corpo fosse ao chão. Eu não sabia o que fazer.



Armand andou até mim e deixou que seu peito tocasse minhas costas... seus lábios colados em meu ouvido se moviam, e eu sentia o ar quente de sua respiração na minha nuca.



-Scarlet... se deixa levar... a Naya é uma mulher muito bela, não é?

- Sim, Senhor. Muito.



Armand abriu o zíper da minha roupa e naya delicadamente tirou de mim o vestido que me cobria. Eu suspirei de desejo e de curiosidade. Naya tocou de leve o interior de minhas coxas e eu novamente suspirei, e dessa vez era clara a minha excitação. Por alguns minutos ela acariciava meu corpo e observava minhas reações. Depois, quando ela já tinha todas as informações de que precisava, me beijou com desejo e intensidade. Eu também a toquei. Eu queria sentir seu corpo, sua pele... Não houve mais necessidade de qualquer instrução. Eu me joguei sobre ela no tapete da sala de Armand. Eu a senti molhada nas minhas mãos. A penetrei e apreciei seus gemidos de prazer. Ela movia o corpo contra mim, pra que eu a penetrasse mais fundo... Ela dançava enquanto eu a sentia por dentro, quente, macia, apertando meus dedos em leves contrações. Eu queria muito mais. Eu queria ir até o fim. Eu beijei seus seios e apertei os mamilos com meus lábios. E os passei pelo seu corpo até chegar em sua coxa...Eu queria mergulhar minha língua em seu sexo e sentir seu gosto, mas Armand me segurou...



- Ainda não – e olhou para Miss Catsy, que com um movimento discreto, ofereceu a ele sua escrava.



Ele então despiu-se e deitou-se sobre ela, a possuindo com rapidez e violência. Naya fechou os olhos de dor. 



Miss Catsy me acomodou em um cavalete e saiu por uns instantes. Retornou sem seu vestido, mas ainda usando sua bela lingerie. Vestiu seu “strap on” e não fez qualquer pergunta... Apenas o forçou em meu sexo até que ele estivesse completamente dentro de mim. Ela movia-se com um vigor quase cruel, e eu, aos poucos ia deixando que o prazer tomasse conta de mim... Miss Catsy me ouviu gritar quando eu gozei e eu ouvi seu riso de satisfação.



Armand abandonou Naya no chão e me puxou...



- Agora sim... eu quero que você sinta meu gosto nela...



E eu, tremula, mas com a rapidez de quem cumpre uma ordem deliciosa, deixei que minha língua explorasse cada milímetro do sexo de naya. Eu a lambia e sugava, buscando encontrar meu jeito de faze-lo. Ela gemia com vontade e isso me excitava ainda mais. Armand me penetrou por traz enquanto eu me divertia explorando o corpo de naya. E um gozo ainda maior tomou conta de mim.



- Continua... enquanto eu te uso – ordenou Armand



E o gozo deles foi praticamente simultâneo. Eu fechei os olhos e senti a plenitude do momento. Eu havia sido o objeto de prazer de naya e Armand, ao mesmo tempo. E essa experiência foi simplesmente incrível... Eu já havia imaginado que um dia algo assim iria acontecer. Eu estava aberta para o novo. Mas em nenhuma de minhas fantasias isso havia sido tão extasiante quanto foi na realidade.



Miss Catsy e naya logo se recolheram para a casa 4. Armand agradeceu a visita das duas.

Eu estava bem e muito cansada. Deitei-me na cama de Armand.



- O que você está fazendo?

- Me deitando, Senhor... Eu estou morrendo de sono...

- Não... Aí não...



Armand me puxou e algemou meu pulso em um gancho aos pés da cama. Eu sorri. Apesar do desconforto que era deitar-me ao chão, eu, ali, me sentia totalmente dele. É lógico que eu seria dele também se estivesse deitada em sua cama macia... É lógico que eu seria escrava, ainda que ele me abraçasse a noite toda. Mas só uma mulher que sabe o que é passar uma noite inteira aos pés de seu Dono compreende que o poder é muito mais forte quando é exercido, nem que seja pra provar sua existência. É importante viver o fetiche, e não apenas dar uma permissão teórica para que ele possa vir a um dia acontecer. Armand fazia uso de seu poder. E isso me tornava cada vez mais consciente de que eu o pertencia... E foi sentindo isso que eu quase adormeci...



- Scarlet?

- Sim, Senhor.

- Você sabe que essa noite não muda nada... Você ainda será punida por ter invadido a casa de JOSHUA, não sabe?

- Sim, Senhor. Eu sei.  – respondi – não vejo a hora de ter tuas marcas em mim.

- Então prepare-se. É obvio que uma punição não pode ser algo que te de prazer. Não se preocupe. Eu saberei fazer com que você se arrependa do que fez. Boa noite, minha scarlet.



O sono me abandonou. E eu levei algumas horas até finalmente adormecer.

(continua...)



terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SETE - Parte 8 - Duas Peças



 Foi bem diferente esse segundo despertar na casa seis. Meu corpo estava novamente dolorido e coberto pelas marcas que ele havia deixado em mim. Mas eu sabia quem eu era. E ele estava do meu lado.

Saí da cama com cuidado para não acordá-lo. Abri as janelas com vista para o centro do círculo formado pelas sete casas. Era a primeira vez que eu observava tão atentamente o que estava por cima do galpão. Andei até a clareira. Fiquei em pé, exatamente onde eu calculava que devia ficar o X.

- É um pouco mais à direita – eu ouvi

Virei-me assustada. JOSHUA caminhava em minha direção.

Sorri para ele, de uma forma mais livre, mais honesta, talvez. Eu me sentia realmente feliz.

- Espero que não seja um problema eu estar aqui.

- De jeito nenhum. Eu te disse que você seria sempre bem-vinda.

Ele sorria também. Com uma satisfação difícil de compreender.

- Vejo que Armand tem cuidado muito bem de você – ele disse, observando os cortes nos meus braços.

- Muito bem – respondi – Ele tem talento.

- Sim, não resta dúvida. Armand é um Sádico talentoso. Mas você... Todas as apostas apontam para você.

- Apostas?

- Sim. Eu imagino que a essa altura você já tenha uma boa noção da proposta que eu vou te fazer.

- Sim. Eu entendo agora. E tudo começa a fazer sentido. Coisas que antes eu ouvia... Mas não conseguia encaixar. Me faltava uma peça no quebra cabeças.

- Não, meu bem. Faltavam duas. Uma você encontrou quando submeteu o trovador com seu sadismo. A outra você ainda não faz nem ideia do que seja.

- Mas eu sei, JOSHUA. Sei de tudo. Sei o que quer de mim.

- Scarlet, eu nunca te vi como minha escrava. Sempre te olhei como uma possível parceira. Eu pude verificar que você tem o que acrescentar aos Sete. Você é a constatação personificada de que uma masoquista pode ser também uma excelente Dominanora. Eu pude te ensinar várias formas, técnicas, e conceitos. Alguns deles você aprendeu na prática. Outros por simples observação. A sua existência ensina muito aos outros membros do grupo. Além disso, eu sei da tua confiança em mim. Eu acredito que você, bem instruída, tem melhores condições de manter meus ideais do que qualquer outro candidato.

- Acha que eu estou pronta? – perguntei.

- Não. Ainda não. Mas o que te falta, te será ensinado. Lembra-se de quando você fez a escolha de comandar a cena entre o Tony e a angel, pela internet, ao invés de vir me servir?

- Lembro.

- Desde então eu estava convencido de que você carregava as duas vertentes do BDSM em você. Mas você só soube disso, de fato, na noite passada. Como TOP, você ainda está engatinhando. Em circunstâncias normais eu te treinaria longamente antes de fazer qualquer proposta. Eu não gosto de atropelar os momentos de descoberta. Mas o fato é que o Druída não deve retornar, a não ser para uma festa de despedida. E é importante que o grupo esteja completo.

Eu sorri

- Sim, eu entendo... Sei da sua preocupação com os números...

- Números não são só números. São agentes do equilíbrio. Eu não vou pregar minhas crenças que excedem o BDSM pra você. Eu sei que você acha tudo isso bobagem.

- Hey! Eu não sou cética. Apenas tenho minhas próprias crenças.

- Não foi uma crítica, Scarlet. Eu gosto da forma como você pensa. E acho que ela também é um agente de equilíbrio por aqui. Você, exatamente como é, se encaixa perfeitamente.

Ouví passos. Armand se aproximava. Ele passou seu braço esquerdo pela minha cintura e me beijou.

- Olá, JOSHUA.

- Bom dia, Armand. Eu estava justamente dizendo à sua garota o quanto eu gostaria de tê-la como membro dos Sete.

Armand sorriu. Era óbvio que o convite o havia agradado.

- Eu acho fantástico. Mas essa escolha tem que ser somente dela. Enquanto livre. O que ela decidir, terá minha aprovação.

- Bem – disse JOSHUA - Minhas intenções estão claras agora pra você. Mas o convite só será feito oficialmente em outro momento. Por enquanto eu gostaria que você já fosse refletindo sobre a ideia de ser parte do grupo. Como eu disse, é importante que você tenha todas as informações cabíveis antes de tomar uma decisão.

- Estou ciente. E honrada. E aguardo ansiosamente a última peça do quebra cabeças, JOSHUA.

JOSHUA se retirou para a casa 1 e Armand e eu permanecemos na clareira. Nossa alegria era imensa. Eu era livre de todos os enganos e fixações que me impediam de ser dele. Ele, por sua vez, podia finalmente me desejar como escrava, sem que isso pudesse ser interpretado como desrespeito ao líder de seu grupo. Ele me levou até o meio da clareira. Era a hora. Eu sabia o que ele esperava de mim. E era também minha vontade que aquele fosse o momento.

Ajoelhei-me aos pés daquele que eu havia elegido como meu Senhor. Um pouco tremula, cruzei os braços estendidos e baixei o olhar.

- Diga. Diga o que eu quero ouvir – ele ordenou.

Sorri. Eu precisava dessa confirmação. Ele me deu segurança para continuar. Minha voz demorou a sair, mas cada palavra foi pronunciada com convicção.





- Eu, conhecida como scarlet, me submeto aqui, em tudo, a ele, conhecido como Armand, para ser sua escrava, sua menina, um artigo de sua propriedade, para que ele faça comigo o que bem desejar.

Não havia coleira ali. Ele riu ao constatar o fato. Mas isso era muito pouco para impedir que tudo fosse consumado. Armand rasgou um pedaço de sua camisa e a amarrou no meu pescoço.

Estávamos achando o nosso jeito. A minha coleira era leve. Nós gostávamos dessa leveza, do riso, da sensação de que tudo ia além da escravidão. Eu era dele. Eu faria tudo por ele. É verdade que, muitas vezes, relutantemente. Mas ele sabia muito bem o que o esperava. E era, sem duvida, apto para lidar com uma escrava como eu.

- Sobre a coleira improvisada, é menos do que você merece. Mas você é uma escrava. Vai ter que compreender – ele riu.

- Sua escrava – completei.

- Sim. Minha! – ele disse, com orgulho.

Voltamos para a casa seis e tivemos uma tarde simplesmente fantástica.

Eu ainda estava nua na cama de Armand quando o telefone tocou. Ele atendeu prontamente:

-Sim. Druída? Quanto tempo!

Ele ajeitou-se na cama como quem leva um susto.

- Ah, sim. Sim, ela está aqui. Mas é importante que você entenda... Ela é minha agora. Isso não é uma aventura nem qualquer tipo de desrespeito. Tudo foi acontecendo aos poucos mas ... Não... Definitivamente não é isso.

Armand tentava se explicar, mas ficava a cada instante mais nervoso e apreensivo.

- Olha, eu entendo, mas isso não te dá o direito de falar assim comigo. É melhor você baixar o tom.

Era obvio que eu era pivô dessa discussão. Armand ouviu algo que o irritou a ponto de bater o telefone no gancho.

- Que aconteceu, Armand?

- O Druída. Ele não aprova o que a gente tem. Detestou a ideia de você ser minha escrava.

- E quem é ele pra aprovar ou desaprovar qualquer coisa por aqui? Volta pra cama comigo... Mostra pra ele quem manda em mim...

Armand desvinvulou-se de mim com um movimento brusco. Eu me assustei.

- Você não entende... E eu não posso explicar, mas o Druída tem um certo poder de decisão sim.

Armand se vestiu rapidamente.

- Onde você vai?

- Falar com o JOSHUA.

- Eu vou com você.

- Não. Me espere aqui.

- Armand, eu estou indo com você. Eu tenho direito de saber o que está acontecendo.

O olhar dele mudou em menos de um segundo.

- Você tem o que?

- Direito – eu repeti, incerta.

- Você tem o direito de me obedecer.

Joguei o travesseiro em cima do rosto. Era a primeira vez que eu realmente sentia o peso da coleira.

Esperei que Armand entrasse pela porta da casa um e peguei o telefone. Não foi difícil achar a lista dos últimos números que haviam discado para ele. O telefone tocou na casa do Druída. Eu o ensinaria a nunca mais tentar decidir o que aconteceria ou não na minha vida.

- Hello?

- Who is it?

- Frank here. Who would you like to speak to?

Eu estava absolutamente perplexa. Sentei-me novamente na cama, tremula, perdida, confusa...

- Pai? Foi você que ligou pro Armand? Você é o Druída?

 
(continua...)

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