A semana que se seguiu foi cheia de acontecimentos. Eu tive pouco tempo para digerir tanta novidade. Mas a verdade é que isso, de alguma forma, era exatamente o que eu precisava.
Todos os dias eu acordava na casa três e descia para a masmorra. Tony era uma companhia cada vez mais interessante. Com ele eu treinava meus comentários ácidos e sarcásticos, que ele sabia retribuir como um verdadeiro Mestre. Mas também era verdade que boa parte do tempo eu apenas ouvia suas canções, e conversávamos amigavelmente sobre qualquer assunto que aparecesse. Ele passou a ser uma espécie de confidente. Era sem dúvida, meu maior aliado até então.
Na hora do almoço, recebíamos a visita de uma garota. Por um dos corredores nunca explorados por mim, descia naya, totalmente nua, e se dirigia à cozinha da masmorra. Não muito tempo depois, ela retornava a nossa presença trazendo uma bandeja prateada em mãos. Ela caminhava de maneira sensual. Os longos cabelos negros e brilhantes brincavam de cobrir e revelar os belos e volumosos seios da escrava. Seu andar era hipnotizante. A dedicação com a qual ela parecia realizar cada movimento me encantava.
- Serei assim – eu dizia ao Tony – quando eu pertencer ao JOSHUA.
- Não sonha alto demais... Não se pode ter tudo – ele respondia.
Naya ajoelhava-se aos pés de Tony. E dos seus lábios saia a mais sutil e delicada das vozes.
- Greetings, Master Tony. Naya pode te servir hoje?
Era engraçado ver o olhar satisfeito do homem que dizia abominar a liturgia.
Após Tony ter almoçado, a garota pedia permissão e as chaves para abrir minha cela e me levar algo para comer. Ela me servia de uma forma um pouco mais leve, mas igualmente delicada. E ali, encostada nas barras, ao meu lado, também fazia sua refeição.
Todo final de tarde, eu ouvia os passos de meu Dono chegando na masmorra. Mas de alguma forma, até o Senhor Ventríloquo já não era uma ameaça tão grande assim. Depois de ter provado uma pequena dose do sadismo do Tony, eu me peguei, mais de uma vez, desdenhando a dor. E até pedindo por mais.
Senhor Ventríloquo dizia que era o orgulho masoquista crescendo em mim. Algo que ele, particularmente, detestava. Mas que ele mesmo me confessou, era grande atrativo para muitos Sádicos e Dominadores, o JOSHUA, inclusive. Para o Senhor Ventríloquo, a fragilidade era estimulante. Ele causava a dor, física e emocional porque assim conseguia fácil acesso à essência vulnerável da feminilidade. Ele causava o “perigo”, o desconforto, para enxergar o ser entregue, e dependente de sua proteção. A verdade é que com o mesmo zelo com que ele se dedicava a criar a dor, ele também protegia cada uma de suas meninas. Por isso encomendava os imensos relatórios. Ele é um dos Sádicos mais responsáveis que já conheci. Ele estudava cada submissa em que tocava. Aprendia sobre sua vida e seu histórico médico. Testava a sanidade e a inteligência emocional de cada uma. Além de mim, havia mais duas garotas que portavam coleiras com suas iniciais. Quem as olhava juntas, imaginava que talvez fossem irmãs. As duas eram orientais e tinham corpos parecidos, com a única diferença que enquanto nina usava os cabelos em um corte reto, às vezes até mesmo jogado de lado, cobrindo parte do rosto, rebeca usava uma franja grossa e bem regular.
Conforme eu ia me tornando uma masoquista cada vez mais forte, mais o Senhor Ventríloquo tinha a necessidade de ter mais de uma garota a sua disposição. A verdade é que ele estava perdendo o interesse em mim. E a partir do dia em que eu consegui não derramar nenhuma lágrima durante a sessão, ele não mais me usou sexualmente. nina era sem dúvida a garota de sua preferencia. Uma escrava dócil, submissa ao extremo, mas com pouca resistência para qualquer tipo de sofrimento. Era fácil magoá-la. E ele obtinha muito prazer ao fazê-lo.
Eu estava contente. Tudo estava seguindo de acordo com o meu plano. Nesse ritmo, logo ele me devolveria ao JOSHUA e eu poderia viver tudo aquilo que havia sonhado. É verdade que eu temia o ciúmes da angel. É verdade que eu também temia o tipo de relato que o Senhor Ventríloquo faria ao JOSHUA sobre mim. Mas se eu não fosse ideal pra ele apenas por ter desenvolvido resistência a seu tipo de sadismo, não haveria nada desabonador a ser dito sobre mim. Apesar dos conselhos desanimadores de Tony, eu me sentia a cada dia mais próxima do meu objetivo.
Porém, certa tarde, o Senhor Ventríloquo não desceu à masmorra. Ao invés disso, mandou que eu subisse ao seu quarto à noite.
- Senhor? Estou aqui – disse. E ajoelhei-me a seus pés com as pernas separadas, exatamente como Nina havia me instruído para fazer.
- Ótimo, scalet. Você se lembrou de dar noticias a seus pais?
-Não, Senhor. Serei punida?
- Por mim não. Mas quero que ligue para eles agora mesmo. Pode usar meu telefone.
-Sim, Senhor.
Ele permitiu que eu me sentasse na cama. Tirei o telefone do gancho. Era difícil discar. Eu me sentia já tão mudada... E voltar a entrar em contato com o mundo baunilha não era uma tarefa das mais fáceis. Eu sentia culpa por estar ali. Sentia-me suja por ter que mentir para os meus pais. Se as vezes eu me pegava acreditando que cada um tem o direito de viver sua vida da maneira que escolher, quando eu pensava o quanto minha escolha poderia machucar minha família, minha falsa noção de liberdade caía por terra.
- Alô?
- Pai? Que saudade!
- Filha, você está bem? Sua mãe tentou ligar algumas vezes e...
- Estou, pai. Desculpa. Eu viajei com uns amigos e me esqueci de avisar. Mas eu estou bem. E como estão vocês?
- Tudo seguindo muito bem... Melhor que o esperado. Mas tenho algo pra te contar. Eu recebi uma proposta muito boa por aqui. Estou pensando seriamente em não voltar para o Brasil. Eu sei que você logo termina a faculdade. E andei pensando... Eu quero que você considere a possibilidade de vir morar aqui na Irlanda, conosco.
- Pai, mas, eu não posso voltar tão cedo. Eu tenho planos...
- Eu sei, eu sei que é meio inesperado. Mas você terá tempo pra tomar a decisão correta. Eu enviei um valor a mais pra sua conta, este mês. Já deixe separado para as despesas com a viagem caso você queira vir. Eu entenderei se você não vier. Mas quero que saiba que todos nós sentimos sua falta. E eu me preocupo muito com você. Mas se você tem um bom motivo pra não vir...
- Pai... Eu... Na verdade eu tenho alguns motivos pra não ir agora...
- Sei... Imagino que estejamos falando de um amor.
- Talvez. Mas não é bem isso. É difícil explicar. Mas eu estou bem. Eu tenho... pessoas..
- Pessoas? Você quer dizer amigos?
- Sim... Amigos.
Ele riu
- Filha, você sabe que você não precisa ser sempre tão impessoal, não sabe? Chamar amigos de pessoas! Só você! Onde quer que você esteja eu quero que você saiba que eu confio muito em ti. E que tem algo que você deveria fazer.
- O que? O que eu deveria fazer?
- Divirta-se. Você tem mania de levar tudo a sério demais. Você está em São Paulo?
- Obrigada pai. Foi um bom conselho. Mas, agora eu tenho que ir. Devo passar ainda um tempo viajando, mas logo eu ligo pra dar noticias. Beijos, pai. Te amo muito.
- Beijos. Te amo mais! Fica bem!
Eu desliguei o telefone e não consegui conter o choro. E me permiti chorar na frente do Senhor Ventríloquo. Eu temia o que isso podia fazer com ele. Eu estava sentada em sua cama, frágil, vulnerável. O que eu sentia era uma mistura de culpa, saudade, desejo e tensão. Eu chorava porque eu não era igual às garotas da minha idade. Chorava porque meus sonhos e meus desejos eram condenáveis. Chorava por que mentir para o meu pai tinha tirado um pedaço de mim. E também porque compreendia que na cultura em que eu vivia, alguém como eu dificilmente seria aceita e respeitada pelo que é. Uma submissa, jamais seria vista nesta sociedade como alguém normal. Especialmente uma que entrega seu corpo e sua dor, que faz e aceita que façam com ela tudo o que for necessário para que um homem perceba sua submissão. Aos olhos do mundo, eu era uma traidora da moral, uma rebelde, e, pior que isso, alguém que não pertence, não se encaixa, não cabe em nenhum rótulo ou previsão. Eu era uma estranha. E naquele momento, essa noção me fazia muito mal.
Senhor Ventríloquo tocou meu pescoço. Levantei a cabeça. Imaginei que ele fosse me deixar sem ar, mas ele apenas retirou de mim sua coleira. E me deitou em sua cama, ao seu lado. Essa noite ele passou comigo. Não houve sexo, e não houve dor. Mas conversamos sobre tudo que havíamos feito. Sobre a hipocrisia desse mundo. Sobre ele e sobre mim. E sobre o JOSHUA, também. Já era impossível não tocar no nome dele. E foi falando nele que eu adormeci nos braços do Senhor Ventríloquo, um ser humano fantástico e tão incompreendido quanto eu; um Sádico emocional eficiente e responsável. E toda a dor que ele já havia me trazido, essa noite inesperada curou. De manhã ele me disse:
- É hora de você voltar para o JOSHUA.
-Eu sei. Perdi a graça para o Senhor, não perdi? – eu sorri.
- Você bem que tentou – ele respondeu – Mas eu ainda teria dois ou três truques na manga pra ver sua carinha de choro.
- Então... Mas então por que...
Ele me interrompeu:
- O JOSHUA te quer de volta. Ele me disse que viria hoje.
- Ele vem? Vem por mim? Eu não acredito no que estou ouvindo!
- Não se anime tanto assim. Você não sabe o que ele tem pra te oferecer. Talvez não seja como você imagina. Agora vá se arrumar.
Tomei um banho rápido e quando retornei para o quando, o Senhor Ventríloquo já tinha partido. Em seu travesseiro, um bilhete endereçado a mim dizia “Encontre o JOSHUA na masmorra. V.”
Enquanto eu caminhava ansiosa, lembrava-me da suavidade de naya. Eu imitava seu jeito de andar, seu tímido e contido sorriso. Mas alguns passos depois eu já era eu mesma. Scarlet. Com meu andar confiante, minha alegria mais intensa, e um desejo mais forte do que eu, que já me controlava totalmente.
Ele já estava no hall. Me esperava ao lado do X de madeira. Ajoelhei-me a seus pés. JOSHUA ofereceu sua mão para que eu me levantasse. Eu me senti absolutamente entregue quando ele encostou-me na madeira. Li outra vez o mesmo texto: “Mea Culpa. Mea Maxima Culpa” logo acima do X. Mas agora essas palavras pareciam ter ganhado um novo sentido.
-Não olhe para trás – ele disse.
- Não vou olhar, Senhor.
Tudo me excitava. O ambiente pouco iluminado, o cheiro delicioso e inconfundível de couro, o toque frio do chicote, acariciando minhas pernas... E a respiração de Joshua em meu pescoço. Fechei os olhos. Então senti os primeiros golpes atingindo minha pele. Era incrível. Quando era ele quem me atingia, não havia separação entre a dor e o prazer. Tudo vinha dele. Tudo parecia perfeito. Poucas pessoas são capazes de entender o que eu senti.
Ouvi passos se aproximando. Alguém assistia à cena. Mas isto de forma nenhuma me afetou.
O som dos golpes era cada vez mais intenso. E ecoava por toda a masmorra. Eu tentava conter o meu desejo de puxá-lo pra mim e implorar para que me tomasse, ali mesmo, com a urgência de quem não consegue conter seus impulsos. Eu queria que ele soubesse que meu sexo estava molhado, que eu estava pronta, e que eu faria qualquer coisa que ele desejasse. Ele então segurou meus cabelos e disse em meu ouvido:
- Scarlet, eu sei o que você quer.
JOSHUA puxou minha mão para trás e deixou que eu o tocasse. Ele também estava pronto, tão excitado quanto eu. E essa constatação era tudo que eu precisava.
- Dono... me toca? Deixa eu me virar?
Mas então JOSHUA me soltou como se solta um brinquedo que não se quer mais.
- Dono? Eu nunca disse que eu era seu Dono. Ainda você não tem minha coleira em seu pescoço. E novamente se atreve a me chamar assim?
- Desculpa, Senhor. É que... O Senhor Ventríloquo me disse que o Senhor me queria de volta. Eu pensei que agora eu já...
- Vire-se – ele ordenou.
Então eu a vi. Ela estava aos seus pés, ajoelhada. Nua. E mais bela do que nunca. E em seu pescoço o nome JOSHUA brilhava.
A um simples comando de seu Dono, Angel o despiu. E beijou seu membro rígido. Ele se forçou na boca delicada de sua escrava que o sugava com avidez. Ela parecia saber exatamente como aumentar o seu prazer. E também quando parar para prolongar o momento e a minha tortura. Ela me olhava com ousadia. E fazia com ele tudo o que eu só poderia sonhar em fazer. Foi a ela que ele entregou seu gozo. Ela bebeu cada gota, com voracidade. Ele então mandou que ela nos deixasse a sós.
- Scarlet, eu preciso saber se você ainda quer continuar.
- Eu quero. É difícil me machucar hoje em dia – respondi.
- Que bom – ele disse – Mas importa que você tenha total consciência de que se quer pertencer a mim, o caminho será longo. E mesmo assim, não existem garantias. Tudo vai depender muito da natureza que eu encontrar em você. Mas não fique aí tão séria, criança. Hoje à noite haverá uma festa. Logo estaremos quase todos reunidos. Você tem pessoas para conhecer. Melhore esse rosto. Faça isso por mim.
JOSHUA arrumou meus cabelos com as mãos. Era impossível eu não me sentir grata por esse ínfimo, mas tão raro gesto.
Tony não demorou a descer. E logo a bela naya cuidou de que fossemos servidos. Após a refeição, os dois Senhores permaneceram no Hall do X e JOSHUA sugeriu que eu fosse ajudar naya com os afazeres.
A cozinha não era muito grande. Naya me apresentou a despensa, rapidamente. Mostrou-me onde encontrar taças de cristal de todos os tamanhos e formatos, louças para diferentes ocasiões, guardanapos de pano, bandejas, talheres e tudo o que podia ser necessário. Mostrou-me também a lista do que deveria ser preparado para a festa. Não era uma grande variedade, mas tudo parecia sofisticado e trabalhoso. Felizmente, naya era um tanto eficiente na cozinha. E logo nina e rebeca juntaram-se a nós, agilizando o trabalho.
- Naya, qual a ocasião? – perguntei.
Ela respondeu sorrindo enquanto preparava um suco.
- É o aniversario da minha Dona.
- Dona? Então entre os Sete existe uma mulher?
- Qual o problema nisso? Miss Catsy é mais apta a Dominar do que muitos homens.
- Não estou duvidando. É só que... Eu não imaginei. Estou realmente surpresa. BDSM pra mim ainda está muito ligado com o erótico, com o sexual.
Naya lançou-me um olhar quase ofendido.
- Ah, scarlet. Por que você pensa que servir outra mulher não pode ser erótico? É erótico. Eu também a sirvo sexualmente.
- Então você ...
Naya riu.
- Sim. Eu gosto de mulheres. Apenas de mulheres. Sempre foi assim.
Rebeca passou com taças nas mãos, por trás de naya, roçando seus seios nas costas dela, com um sorriso malicioso nos lábios e disse:
- É isso mesmo scarlet... e a naya vive se aproveitando das pobres e inocentes escravas heterossexuais...
Nina puxou o cabelo de rebeca:
- Comporte-se!
Olhei para naya. E começamos a rir.
- Não liga, scarlet. Se eu fosse tirar casquinha de alguém, com certeza não seria da becky, que é a mais sem sal daqui!
-Eu? Sem sal? Posso não ter seios lindos e imensos como os seus, mas tenho mais atitude do que você e a nina juntas.
- Então deixa eu entender – eu disse – a naya é lesbica. E vocês duas são heterossexuais?
As três riram. Nina explicou:
- Olha, nós servimos. Somos escravas. Nós vamos fazer o que nos for ordenado. Mas se você perguntar pra mim, eu não gosto de mulheres me tocando. Já a becky...
- A becky gosta de qualquer coisa! – disse naya.
- Mas e você? Scarlet... scar-let... Isso é nome de putinha ninfomaníaca.
-Becky! – disse nina- Já te falei pra não usar esses termos.
Eu ri. E demorei um pouco pra responder.
- Eu gosto de gente. Eu poderia amar um homem, ou uma mulher. Eu não limitaria meus sentimentos a um gênero. Mas atualmente, o sentimento que eu tenho em mim é submissão. Isso é maior até que o amor. Mais nobre. Menos egoísta. E é um homem que me tem.
As meninas aplaudiram, jocosamente.
Nesse momento, angel entrou na cozinha. E sua presença nos calou. Passamos o resto da tarde em silencio, eu, a bela naya, nina e rebeca, cumprindo as ordens de angel, que, eu descobri com o tempo, estava um degrau acima de nós na hierarquia das escravas dos Sete.
(continua...)
4 comentários:
Quero mais, quero mais, quero mais!!!!!!!! Muito ansiosa pra continuação!!!!! Amandoooooooooooo!!!!
=)
Muito feliz com isso!
Beijos!
tavi eu sou apressada tá.
esse conto acaba em 2011????
o conto está otimo e muito emocionandoe e eu adorando aqui quero ver logo o final .....
mas uma sugestão.... escreve outros contos, sabe que sou sua fã
beijos
ih, mila, vai ainda um tempinho até terminar...
=)
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