terça-feira, 9 de março de 2010

O Dono da Chuva


Sempre tive verdadeiro fascínio pela chuva. Enquanto as pessoas a minha volta esperavam por um dia sem nuvens, eu torcia para que elas trouxessem uma linda tempestade de presente pra mim. Desde criança, sempre adorei olhar a chuva da janela do meu quarto, batendo no vidro, caindo soberana, envolvendo as pessoas em sua atmosfera estranha e em seu aroma único.


Morei por muitos anos em um apartamento no 22º andar. Era o último andar do prédio e havia uma boa área descoberta. Eu e meu irmão ficávamos ouvindo o vento e esperando a chuva chegar, para correr pra lá e ter o simples, mas eufórico prazer de tomar chuva. A roupa molhada, pesada e grudada no corpo, as poças no chão em que escorregávamos, a sensação de perigo e da iminência da bronca que levaríamos quando fossemos pegos, se fossemos, e a cumplicidade que toda essa situação fazia nascer em nós, foram detalhes da minha infância que eu jamais esqueci.
Fui crescendo, mas a chuva continuava me proporcionando aventuras. O maior frio que passei em toda a minha vida, foi andando de moto, na chuva, com um amigo, que nessa noite, passou a ser um pouco mais do que amigo. Tremíamos muito,e eu acho que nunca abracei alguém tão forte na vida... Quando chegamos, ele me beijou como se beija alguém com quem se sobrevive...rs. Beijo na chuva, parece mais intenso, mais significativo...

Sexo na chuva é simplesmente inesqueccível . Tive algumas experiencias mágicas. Sexo na chuva gostosa de verão... Sexo na chuva torturante do inverno.... Sexo no carro, proibido, com a chuva caindo na janela e acobertanto o delicioso delito. Sexo e chuva, sempre me pareceu uma perfeita combinação. A chuva tem um poder erótico sobre algumas pessoas. Pensei que fosse só em mim, mas recente descobri que outras mulheres sentem o mesmo. De qualquer forma, esses foram momentos marcantes pra mim.




O tempo foi passando, e em 2008 me dei conta que nunca mais havia andado na chuva. Para mim, foi uma constatação frustrante... Eu ainda amo a chuva e todos os seus sons, seu cheiro, e as lembranças que ela trás pra mim. Eu namorava. Pedi ao meu namorado na época pra me levar passear na chuva. Mas eu andava um tanto doente, com uma tosse interminável, e ele, que não se animou nada com a idéia de ficar molhado por esporte, me lembrou da minha tosse, da minha saúde andava frágil.... O Namoro durou 2 meses e os 2 meses eu passei esperando a oportunidade irrecusável pra ele, pra que pudéssemos correr por uma tempestade. Foi um fim de ano seco.

Um ano depois, eu entrava em uma D/s. Passei a usar a coleira do SENHOR ÁSGARÐ e ele é testemunha do meu empenho pra levar alguém pra chuva... Fiz de tudo que é decente e indecente. Mas ele batia o pé e meu esforço virava uma competição entre nós, típica de nosso relacionamento, pra ver quem tem sua vontade satisfeita. Ele não cede, nesses casos. Pra ele - ele dizia - importa mais que só uma parte minha fique molhada... De fato, tem um lado meu que me faz molhar quando sou contrariada... Mas depois do gozo, a chuva continua... e eu me pego novamente irritada de não poder sair pra me molhar.

Um relacionamento acaba, outro começa, e ninguém quer andar na chuva comigo! – gritava a criança em mim.
Puxa, por que será que é tão difícil para um homem entender o sentido de tudo isso, ou, mesmo sem entender nada, por que um homem simplesmente não faz minha vontade??? Pra me agradar... pra me ver feliz! Essas coisas me passavam pela mente enquanto eu olhava as gotas se formando na janela. Eu estava triste. Eu estava frágil. A chuva era um antídoto, e eu estava envenenada. Eu seria capaz de chorar por isso. Eu ficaria deprimida. Eu dormiria o dia todo.

Foi então que ele segurou minha mão e disse:

- Vamos sair na chuva? – e sorriu seu melhor sorriso.

Eu olhei pra baixo, perplexa.
E ele insistiu:

- Mãe, por favor, só essa vez, vai... a gente pode ir andar na chuva?

Era verdade! Aquele 1.07 metro de gente tinha dentro dele a mesma vontade que gritava em mim. Ta certo, ele não era um namorado... não haveria beijo, nem desejo, nem romance.... Mas haveria diversão e haveria riso!

Fiz cara de quem diria não, mas ao mesmo tempo, abri a porta e puxei meu filho pelas mãos. Ele não acreditava. Nunca vou esquecer em sua expressão, o misto de surpresa e felicidade que vi aquele dia. Corríamos os dois, dançando na rua deserta e abandonada para que apenas nós fizéssemos uso da tempestade, digna de um dilúvio, que molhava nossas roupas e nossos cabelos. Ríamos. Éramos livres ali, para sentir alegria em sua manifestação mais eufórica e tola. Éramos tolos correndo na chuva, e adorávamos isso! Tinha que ser com ele. Mesmo que algum namorado tivesse me levado andar na tempestade, satisfazendo uma vontade minha, não teria sido tão divertido. Tinha que ser com ele. A chuva era dele, tanto quanto sempre foi minha. Ele era o Dono da chuva. A criança molhada, segurando minha mão, lembrava muito a criança que sorria dentro de mim.

- Mãe, a gente tá vivendo uma aventura – ele gritou.



Eu amo a chuva. Ela costuma ser o cenário de momentos muito preciosos pra mim.

tavi