sábado, 17 de março de 2012

SETE - Parte 9 - JOSHUA, Tony e Druída


Eu devo ter praticamente invadido a casa um.


- Você sabia disso! Como você pode fazer isso comigo?

- Você está na minha casa, escrava. Veja como fala.

- Eu confiei em você, JOSHUA. Você não podia ter escondido isso de mim!

Tony, que estava na clareira com uma nova escrava, ouviu a gritaria e seguiu para a casa um.

- JOSHUA, está tudo bem? Precisa que eu escolte a princesa de volta pra casa do Romeozinho?

- Não Tony. Armand está aqui. Está tudo sob controle. Scarlet está tendo um pequeno problema em absorver algumas informações sobre o Druída.

Tony imediatamente assumiu uma certa moderação em seu tom de voz.

- Então ela sabe?



JOSHUA sinalizou que sim.



- Deve ser um pouco complicado pra você compreender, princesa. Seu pai é um Dominador muito respeitado por todos nós. E um grande amigo. Eu e o JOSHUA o conhecemos há muitos anos. Muito antes disso aqui existir. Ele foi parte da idealização desse lugar. Tudo que aqui foi construído carrega muito das idéias dele. O Druída é uma das pessoas mais inteligentes e mais teimosas que eu conheci. Você se parece muito com ele.



Eu não consegui sorrir.



- JOSHUA, você me deve uma explicação – exigi.



Armand, que assistia a tudo, calmamente sentado no sofá, levantou-se e caminhou em minha direção.



- Scarlet, eu não sei como você descobriu. De qualquer forma, você não ficou simplesmente me esperando, como eu mandei que ficasse. Você entrou na casa de um TOP, transgredindo minha ordem, gritando e exigindo explicações.



Eu o olhei, assustada. Armand passou a mão pelo meu rosto e me beijou demoradamente. Depois, quando eu menos esperava por isso, agarrou meus cabelos e me puxou pra baixo, obrigando-me a permanecer ajoelhada, com o rosto praticamente encostado no tapete. Eu senti a sola do seu coturno em minha face. Olhei pra cima, furiosa, e notei a expressão de Armand, gloriosa, refletindo seu poder. Eu queria odiá-lo. Eu estava frágil. Eu precisava de um abraço do homem. Ao invés disso, quem ali interagia comigo era o Dominador. E ele fazia questão de expressar seu poder sobre mim de forma até mesmo simbólica. Eu entendi que lhe era extremamente importante que eu olhasse de uma posição mais baixa. Não havia como eu descer mais do que aquilo. A distancia hierárquica entre nós estava muito bem marcada. O conforto de que eu necessitava, me havia sido negado. Eu era escrava. Ele soube fazer com que eu me sentisse exatamente assim, perante os membros mais importantes do grupo do qual eu era também faria parte. Eu queria sentir tanto ódio dele. Mas o amei por isso. O amei ainda muito mais do que antes.



- Você quer entregar sua coleira agora?

- Não, Senhor. Eu não quero.

- Beije os pés de JOHUA. E peça perdão.



Eu o fiz, sem pensar muito. Eu estava magoada e com milhões de duvidas a serem sanadas. Eu nem sabia mais se era minha vontade ser parte dos sete. Mas eu pertencia ao Armand. E eu tinha medo de que ele desistisse de mim.



- JOSHUA, minha escrava será punida pela desobediência a mim na próxima play.

- Sem problemas. Teremos tempo pra isso.

- Não é o tempo que me preocupa. Eu preciso que boa parte da Masmorra esteja revestida.

- Falarei com as meninas – disse JOSHUA.



Armand me puxou novamente pra cima e me apontou o sofá, para que eu me sentasse.



- Vou deixar você e JOSHUA conversarem.



Armand e Tony se retiraram. JOSHUA novamente me serviu algo pra beber. Então começou a longa explicação.



- Bom... o Frank... Eu o conheci em um campeonato de xadrez entre universitários. Eu já andava com o Tony na época. Eu cursava Direito e Tony era da engenharia. É lógico que Tony não tinha nenhum talento ou paciência pra xadrez, mas eu havia ficado entre os finalistas. Seu pai também. A universidade patrocinou nossa estada nos alojamentos pouco confortáveis de uma escola. Não demorou para que nos tornássemos inseparáveis. O Frank era inteligente o suficiente pra me parecer um amigo apropriado, e era divertido o suficiente pra que o Tony apreciasse sua presença. Seu pai era um dos alunos mais brilhantes do curso de Medicina. Brincávamos com o fato de que cada um de nós cobria uma área do conhecimento. Mas pra mim, isso não era coincidência. Era muito mais que isso.

- Equilíbrio – interrompi

- Sim. Equilíbrio. O Frank sempre fez muito bem o papel de diluir as diferenças entre eu e o Tony. Ele, como você, scarlet, conseguia acompanhar meu raciocínio em conversas abstratas intermináveis, e no momento seguinte, ter uma conversa leve e animada com o Tony, sobre musica ou filmes.

- Quem ganhou?

- O que?

- O campeonato. Eu duvido muito que alguém seja capaz de vencer meu pai no xadrez – eu desafiei.

- Está vendo aquele troféu ali no canto?



Eu nunca tinha reparado nele antes, mas ele estava ali.



-Sim.

- Eu levei o troféu aquele dia.

- Estranho – respondi.

- Realmente. Aconteceu algo inesperado. Eu venci meus adversários. Frank venceu os dele. E na final, erámos eu e ele, olhando para o tabuleiro. A situação era desconfortável. Já éramos melhores amigos. Seu pai sabia o quão importante era pra mim vencer aquele campeonato. Foi então que ele deitou seu rei, na frente de mais de mais de duzentos estudantes.

- Ele deitou o rei? Ele desistiu do jogo?

- Sim. Ele permitiu que eu ganhasse. Eu já tinha planos e sonhos de criar algo especial. Eu sabia que seu pai sempre havia sido um dominador em seus relacionamentos. Eu já o admirava. Quando ele fez isso, eu soube que ele faria parte do que quer que eu criasse. Ele permitiria a minha liderança. Não por ser intelectualmente inferior, mas por reconhecer que eu tenho mais interesse do que ele em administrar.

- E minha mãe? Ela sabe disso tudo?



JOSHUA sorriu.



- Sua mãe não apenas é submissa, mas também é uma treinadora de escravas. Várias vezes eu submeti até mesmo as minhas meninas para que ela as instruísse. O Ventríloquo também. A nina não é linda em sua postura? Ela foi aluna da melhor treinadora que tivemos, a gia.

- Gia... Gia quer dizer rainha. Isso é uma ironia?

- É mais um reconhecimento da dualidade do ser. Uma escrava pode ser gloriosa. As escravas daqui, tem orgulho de serem o que são.

- Gia... Rainha... É por isso que o Tony me chama de princesa?

JOSHUA riu

- Até que tudo isso faz um certo sentido... – constatei -  O comportamento dos dois sempre foi muito diferente do comportamento habitual dos casais. Mas eu nunca imaginei...  Meu pai tem outras escravas?

- Às vezes. Seu pai tornou-se hoje em dia um homem muito exigente. Quantidade não o move. Ele quer qualidade, excelência. Mas já teve muitas escravas, em outros tempos. Algumas delas entraram na sua vida, scarlet, como uma babá, ou uma amiga da família. Elas ficaram pouco tempo. Ele não se envolve emocionalmente com mais de uma garota. Ele sente carinho. Ele protege suas meninas. Mas ele ama uma delas, apenas. Gia. Acontece que são poucas as escravas puras, as mulheres que conseguem tirar tanto prazer de sua condição, que não precisam de uma vida comum também; um casamento, filhos, e o status de esposa. A maioria vive a escravidão em um momento da vida em que elas podem se dar ao luxo de faze-lo. Depois disso, suas outras necessidades vem à tona.



JOSHUA usou toda sua paciência e sabedoria pra me contar toda a história de uma forma leve e interessante. Ele manipulou minhas emoções pra que a satisfação da minha curiosidade fosse atenuante para o fato de eu me sentir tão machucada. Meu encontro com o JOSHUA, na internet não foi obra do destino. Meu pai, o Druída, percebeu que em mim havia a mesma essência dele e de minha mãe. Ele notava a minha solidão. Ele sabia que eu me sentia deprimida, por não encontrar meu lugar no mundo, e ele sabia, também, a que tipo de lugar eu pertencia. Da primeira conversa dele com JOSHUA sobre isso, até o dia que meu pai pediu que JOSHUA me tutorasse nessa descoberta, foram-se anos. O Druída precisou fazer a pazes com a constatação de que sua filha sentiria na pele os golpes do chicote. JOSHUA teve trabalho pra ensina-lo que, se ele acredita no BDSM, se ele opta por esse caminho e o abraça como algo que o faz bem, ele não devia permitir que seu próprio preconceito me impedisse de ser feliz. Era importante que eu encontrasse também o meu caminho.



Quando meu pai mudou-se para a Irlanda, a ideia era ele passar um pequeno período por lá, em pesquisa. Com o tempo, veio a noticia de que ele não mais voltaria a residir no Brasil. JOSHUA sabia que não haveria ninguém melhor para substitui-lo do que eu, seu próprio sangue. Mas algo estava no caminho. Nenhum membro dos Sete pode ser bottom. E eu me via apenas como escrava. JOSHUA testou outros candidatos, mas na verdade ele esperava que eu encontrasse o meu sadismo. Mistress Vera foi enviada por ele pra me ajudar nesse processo. Assim que eu abracei também minha essência de TOP, meu pai foi informado do desejo de JOSHUA, e consentiu que seu lugar fosse ocupado por mim.



Conversamos por horas. Todas as minhas perguntas foram respondidas. Faltava-me apenas saber por que o Druída não queria que o Armand fosse meu Dono.

O telefone de JOSHUA tocou enquanto falávamos nisso.



- Olá, Druída. Sim, eu sei. Não se preocupe. Estou tendo uma longa conversa com a scarlet. Ok. Ok. Quando? Sem problemas. Vou eu mesmo busca-lo no aeroporto.

Fui informada de que em dois dias o Druída estaria no Brasil.



- Mas e quanto ao Armand?

- Eu também não sei exatamente a que se deve essa resistência do Druída. Mas vou buscar entender.



Não havia mais nada a ser dito, e ainda, muitas duvidas povoavam minha mente. Eu me lembrei de cada lágrima que havia derramado no galpão. Era estranho que quem tivesse me enviado pra lá, pra que eu passasse por tudo isso, tivesse sido o Druída. Era difícil compreender como um pai podia ter sangue frio pra consentir que sua própria filha passasse por tanto sofrimento. Mas por mais difícil que fosse administrar essa verdade, no fundo eu sabia que ele o tinha feito porque suas convicções eram reais. Ele vivia o que acreditava, mas principalmente, acreditava no que vivia. E ele tinha a certeza de que eu seria mais feliz assim, em contato com minha essência e meus desejos, mesmo os mais sombrios.



O que realmente me perturbava era essa incoerência! Quando eu finalmente me encontrei nas mãos do homem a quem eu servia e amava, quando eu finalmente pude compreender quem eu era e encontrei prazer na posição a mim oferecida, ele, o grande responsável por me fazer chegar a tal ponto, era o único a se colocar entre mim e a realização plena de meus desejos.



Mas Armand havia preparado uma surpresa que me fez esquecer essas preocupações. Quando eu voltei para a casa 6, ele não estava só. Miss Catsy e sua bela escrava, naya, estavam lá.

Naya sorriu e sussurrou pra mim:



- Feliz que tudo tenha dado certo! É bom te ver feliz.. e com o Monsieur Armand...



Era impossível não sorrir vendo a alegria da garota que já havia até chorado por me ver tão mal. Naya era querida por mim.



- Que acha de colocarmos as meninas pra brincar, Armand? – Disse Miss Catsy

- É uma ideia... eu adoraria ver minha escrava em ação...



Eu sorri e disse:



- Se o Senhor me emprestar um chicote, eu adorarei ver a expressão de dor da naya...



Miss Catsy riu



- Menina, acho que não é isso que seu Senhor quer ver. Naya, explica pra scarlet...

Naya andou até mim. A garota usava um robby preto, rendado, amarrado na frente. Ela gentilmente puxou um dos fios e deixou que a única peça de roupa que cobria seu corpo fosse ao chão. Eu não sabia o que fazer.



Armand andou até mim e deixou que seu peito tocasse minhas costas... seus lábios colados em meu ouvido se moviam, e eu sentia o ar quente de sua respiração na minha nuca.



-Scarlet... se deixa levar... a Naya é uma mulher muito bela, não é?

- Sim, Senhor. Muito.



Armand abriu o zíper da minha roupa e naya delicadamente tirou de mim o vestido que me cobria. Eu suspirei de desejo e de curiosidade. Naya tocou de leve o interior de minhas coxas e eu novamente suspirei, e dessa vez era clara a minha excitação. Por alguns minutos ela acariciava meu corpo e observava minhas reações. Depois, quando ela já tinha todas as informações de que precisava, me beijou com desejo e intensidade. Eu também a toquei. Eu queria sentir seu corpo, sua pele... Não houve mais necessidade de qualquer instrução. Eu me joguei sobre ela no tapete da sala de Armand. Eu a senti molhada nas minhas mãos. A penetrei e apreciei seus gemidos de prazer. Ela movia o corpo contra mim, pra que eu a penetrasse mais fundo... Ela dançava enquanto eu a sentia por dentro, quente, macia, apertando meus dedos em leves contrações. Eu queria muito mais. Eu queria ir até o fim. Eu beijei seus seios e apertei os mamilos com meus lábios. E os passei pelo seu corpo até chegar em sua coxa...Eu queria mergulhar minha língua em seu sexo e sentir seu gosto, mas Armand me segurou...



- Ainda não – e olhou para Miss Catsy, que com um movimento discreto, ofereceu a ele sua escrava.



Ele então despiu-se e deitou-se sobre ela, a possuindo com rapidez e violência. Naya fechou os olhos de dor. 



Miss Catsy me acomodou em um cavalete e saiu por uns instantes. Retornou sem seu vestido, mas ainda usando sua bela lingerie. Vestiu seu “strap on” e não fez qualquer pergunta... Apenas o forçou em meu sexo até que ele estivesse completamente dentro de mim. Ela movia-se com um vigor quase cruel, e eu, aos poucos ia deixando que o prazer tomasse conta de mim... Miss Catsy me ouviu gritar quando eu gozei e eu ouvi seu riso de satisfação.



Armand abandonou Naya no chão e me puxou...



- Agora sim... eu quero que você sinta meu gosto nela...



E eu, tremula, mas com a rapidez de quem cumpre uma ordem deliciosa, deixei que minha língua explorasse cada milímetro do sexo de naya. Eu a lambia e sugava, buscando encontrar meu jeito de faze-lo. Ela gemia com vontade e isso me excitava ainda mais. Armand me penetrou por traz enquanto eu me divertia explorando o corpo de naya. E um gozo ainda maior tomou conta de mim.



- Continua... enquanto eu te uso – ordenou Armand



E o gozo deles foi praticamente simultâneo. Eu fechei os olhos e senti a plenitude do momento. Eu havia sido o objeto de prazer de naya e Armand, ao mesmo tempo. E essa experiência foi simplesmente incrível... Eu já havia imaginado que um dia algo assim iria acontecer. Eu estava aberta para o novo. Mas em nenhuma de minhas fantasias isso havia sido tão extasiante quanto foi na realidade.



Miss Catsy e naya logo se recolheram para a casa 4. Armand agradeceu a visita das duas.

Eu estava bem e muito cansada. Deitei-me na cama de Armand.



- O que você está fazendo?

- Me deitando, Senhor... Eu estou morrendo de sono...

- Não... Aí não...



Armand me puxou e algemou meu pulso em um gancho aos pés da cama. Eu sorri. Apesar do desconforto que era deitar-me ao chão, eu, ali, me sentia totalmente dele. É lógico que eu seria dele também se estivesse deitada em sua cama macia... É lógico que eu seria escrava, ainda que ele me abraçasse a noite toda. Mas só uma mulher que sabe o que é passar uma noite inteira aos pés de seu Dono compreende que o poder é muito mais forte quando é exercido, nem que seja pra provar sua existência. É importante viver o fetiche, e não apenas dar uma permissão teórica para que ele possa vir a um dia acontecer. Armand fazia uso de seu poder. E isso me tornava cada vez mais consciente de que eu o pertencia... E foi sentindo isso que eu quase adormeci...



- Scarlet?

- Sim, Senhor.

- Você sabe que essa noite não muda nada... Você ainda será punida por ter invadido a casa de JOSHUA, não sabe?

- Sim, Senhor. Eu sei.  – respondi – não vejo a hora de ter tuas marcas em mim.

- Então prepare-se. É obvio que uma punição não pode ser algo que te de prazer. Não se preocupe. Eu saberei fazer com que você se arrependa do que fez. Boa noite, minha scarlet.



O sono me abandonou. E eu levei algumas horas até finalmente adormecer.

(continua...)



tavi