quinta-feira, 4 de novembro de 2010

LEGAL, PROMOVA!


Vocês já repararam nas “promoções” do orkut?

Em um espaço de destaque, logo no canto superior, onde costumava ficar sua lista de amigos, agora você pode encontrar esse espaço informativo, no qual qualquer pessoa pode escrever o que quiser e fazer a mensagem ficar passando nos orkuts de seus amigos.
A criatividade é imensa. É possível encontrar desde citações de Clarisse Lispector (a musa do orkut), campanhas de combate à violência, à fofoca, à crueldade contra animais, até frases de identificação e reafirmação entre tribos urbanas (como “É nóis” ou “ATOOOORON PERIGON”).
A idéia é que, se vc clicar em LEGAL, PROMOVER!, a mesma promoção que alguém te enviou, vc pode enviar a mais pessoas...



E AS PESSOAS PROMOVEM!!!!

Isto é bom, se vc pensar do ponto de vista da preocupação social e da união, da pequena amostra de ativismo que é enviar para os amigos uma mensagem em que se acredite. É lógico, tudo isso se a mensagem não for uma citação do chaves traduzida em “miguxês”.
Mas por alguma canalhice de minha parte, algumas promoções do orkut me incomodam imensamente.... E o fato de elas me incomodarem, é o que mais me incomoda. Vou explicar:
Eu não devia ficar incomodada porque volta e meia entro em meu orkut SM e vejo a seguinte promoção:

EU ME IMPORTO COM A ÁFRICA!

Eu não sei... de alguma forma ler esse texto me soa como uma acusação. Eu vejo “EU ME IMPORTO COM A AFRICA”, mas leio algo mais ou menos assim:

“VIU SÓ? EU ME IMPORTO COM A AFRICA!!VOCÊ NÃO!!! A NÃO SER QUE VOCÊ CLIQUE EM *LEGAL, PROMOVA* AÍ, VC FARÁ PARTE DO SELETO GRUPO DE PESSOAS SUPERIORES QUE DE FATO SE PREOCUPAM COM A ÁFRICA”

Eu me preocupo com a África. A situação das crianças, em especial, é algo que me toca imensamente. Só pensar na quantidade de crianças, já desnutridas e em condições miseráveis, que perderão suas vidas para a fome, ou seus pais para a AIDS nos próximos anos, dói, machuca, deprime.

Eu sou o tipo de pessoa estranha que chora por isso. Que ajuda quando tem oportunidade. Mas acabo me sentindo mal por ser lembrada deste e de tantos outros problemas tão sérios pelo meu orkut SM, o tempo todo. Eu entro ali em outro clima...
Também não gosto de quem abandona animais. Também não uso casaco de pele. Também sou contra centenas de coisas, e a favor de outras milhares...
Nem todas eu acho que precisam ser promovidas assim.
A gente perde tanto tempo repetindo clichês e não fazendo nada!
Outra coisa que eu não entendo é por que as pessoas clicam em promover eventos já realizados. Daqui a pouco vamos ver algo assim:

“SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. EU SOU CONTRA!”

Ah, enfim... esse negócio de promover ou não promover é algo muito pessoal. Uns promovem com convicção. Outros promovem por que se sentem pressionados. Uns não promovem só pra causar. Uns criam “promoções” humanitárias e outros mandam gírias. Tem gente que clica em evento que já foi. Tem gente que não clica. Tem gente que promove o próprio nome, escrito em maiúsculas, com espaços entre as letras (literalmente ou não).

E vc? Gosta das promoções? Já criou alguma? Já se sentiu pressionado a promover? Se você gostou desse post, clique em comentar e responda essas perguntas... sem pressão...

rs..
=)



Uma nota bem pessoal: Eu ia fazer um post sobre a Annye... Sobre aquela alegria, aquele humor, aquela leveza que ela sempre transmitia. Mas acho que isso é algo que todos que tiveram a sorte de conviver um pouco com ela conhecem bem. Deixo meu abraço pra todos que sentiram a dor e o choque desta perda. Tenho lembranças lindas dela.... Acho que é nisso que quero pensar agora...

sábado, 30 de outubro de 2010

About your freedom



Que faço se ainda ouço teus passos
No vazio da noite, no meio
De todos os teus medos infundados?


Eu. Apenas eu. Por perto...


Longe de todas as jaulas de concreto
Que restringem os teus saltos,
Deito, sinto o chão, te beijo, chamo...


Eu vejo a sombra dos teus cabelos
Nas esquinas. Sinto o teu frio no vento
Forte que te leva sem destino


Eu ilumino o teu caminho
Com um desejo.


Me perco, não como, não durmo, jamais
Me cubro de neve e deliro
Eu juro que não te quero
E ainda grito teu nome
Em sonho... eu morro um pouco
Mas não te sigo.


Tu cortas os laços, serras os punhos
Todas as noites e dias
Em nome de algo ainda sem nome
Que sentes na alma e que eu bem conheço...


Tu pagas o preço do recomeço
E quem pode dizer que tu erras?


Ainda que saibas que ao te sentir
Passando... passando por mim... me firo,
Não pares. Prossiga e abrace
Tua liberdade que eu abomino
E admiro


domingo, 10 de outubro de 2010

LIKE A VIRGIN


Eu sinto em mim.. Em toda parte minha. A minha voz já se moldou pra isso... Meu corpo está pronto e pede coisas a que antes eu me negaria... Ou ao menos, aceitaria relutante... Agora eu quero. Eu peço. Eu preciso!

Acho interessante que para muitos de nós, que vivemos o SM, existam tantas fases. Há fase de se entregar cegamente. Há fase de questionar. Há fase de desejar secretamente... E há fase de realizar. Alguns medos que eu tinha estão sumindo. É bom sentir que, depois de anos provando a dor e o prazer que esse universo inusitado traz, ainda tenho pra onde olhar, ainda tenho desejos que me fazem ficar acordada um pouco mais a noite, imaginando...Tem alguma coisa em mim que inquieta como uma paixão adolescente. Por algum motivo, hoje recebi uma “ameaça” que me deixou nas nuvens. Eu estou aberta, entregue e exultante.


Quem me conhece um pouco sabe que estou no meio há mais ou menos 5 anos. Tenho experiências masoquistas até mesmo antes disso. Conheço por experiência spanking, bondage, waxing, dogplay, as liturgias goreanas, agulhas, cortes, mumificação, eletroestimulação, humilhação, bloodplay, knife play, golden shower, rape fantasy, tortura genital, asfixia erótica... Teve um momento em que eu achei que não havia mais novidade. A ausência de novidade, pra mim, não é algo muito fácil de aceitar. Então eu vivi um tempo um pouco anestesiada. Eu não sei se essa fase foi algo meu, ou se mais pessoas que vivem o BDSM há muito tempo passaram pelo mesmo. A dor passou a ter menos efeito em mim... eu agüentava muito e ia muito longe, e sempre era bom, mas eu sentia que algo havia mudado.


Me fechei. Eu participei de plays com a mente longe... Eu estive em lugares pela metade.


Então o tempo agiu em mim... Eu perdi um bom tanto da minha resistência. Para uma masoquista, acreditem, isso é uma pequena tragédia. Porque vc continua desejando a dor, apesar de não estar mais tão apto a recebe-la. Lembro de uma sessão na qual meu Dono apenas pingou algumas gotas de cera em minhas costas. Eu senti a dor como nunca havia sentido antes, mesmo quando ele derramava muita cera em mim. Imaginei que a vela estivesse muito perto do meu corpo... Abri os olhos. Eu estava deitada no chão. Ele estava em pé e segurava a vela, do alto. Eu quis chorar. Como eu podia estar sentindo tanta dor?


É que eu mudei tanto, que é como se eu tivesse renascido. E foi então que eu vi a grande vantagem nisso tudo. EU VOLTEI A VIVER CADA CENA COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ. Eu voltei a sentir adrenalina correndo no meu corpo. E todas as práticas que eu já conhecia, viraram um novo e estimulante desafio. Será um mecanismo de defesa do meu próprio corpo pra que eu possa viver novamente aquela fase deliciosa das descobertas? Eu não sei... O fato é que logo mais, Dono vai fazer uma coisa comigo. Uma coisa que ele já fez há algum tempo e que hj ele disse que vai fazer outra vez. E eu estou com medo. Eu estou com um medo absolutamente delicioso!!!

=)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

CELL PHONE TRAGEDIES


Quantos celulares você tem atualmente?
Eu tenho dois. Um com câmera de alta definição, touch screen, MP3, bluetoooth, que fala 5 idiomas e só falta voar, e um modelo porcaria da NOKIA, que me custou exatamente 107 reais.
Tem se tornado muito comum o hábito de ter mais de um telefone celular. Não podemos negar que o plano infinity da TIM mudou a vida de muita gente. Eu resisti bravamente à tentação de ter mais de um celular, por achar um exagero, até que isso aconteceu:


loira_delicia22@hotmail.com diz: Amei te conhecer... e então... vamos marcar um encontro pra gente por em prática algumas de nossas vontades? Estou louca pra ... (CENSURADO)
tavi_kajira@hotmail.com diz: Vamos... Nossa, também adorei te conhecer.
loira_delicia22@hotmail.com diz: Ótimo. Me passa teu telefone. Amanha te ligo do trabalho e combinamos o horário.
tavi_kajira@hotmail.com diz: Ok. 9222- 5555. Anotou?
loira_delicia22@hotmail.com diz: Anotado, gata. É TIM, né?
tavi_kajira@hotmail.com diz: Ah... não... é da claro...
loira_delicia22@hotmail.com diz: Entendi. Agora me passa o teu TIM. Eu só posso ligar de TIM pra TIM... É o plano infinity....
tavi_kajira@hotmail.com diz: Ah... é... o meu TIM... então....


Comprei meu segundo celular sem perguntar muito sobre os recursos por ele oferecidos. Na verdade a conversa com a vendedora foi praticamente essa:

-Oi, tem celular?
-Sim
-Ótimo. Me vê um barato.

E então eu já fazia parte do novo mundo. O mundo das pessoas que fazem uso do plano infinity. O mundo das pessoas que carregam bolsas um pouco maiores e dos homens que usam pochetes, pois um celular em cada bolso seria muita viadagem. E foi aí que muitos de meus problemas começaram....

Quem conhece o SENHOR ÁSGARÐ, sabe que eu moro com um perfeccionista que jamais sairia de casa sem checar que está levando tudo o que precisa. O nosso tempo médio pra sair de casa praticamente dobrou... a checagem tecnológica que já era grande, agora é mais ou menos assim:

-Pegou seu celular?
-Sim
-Meu celular?
-Sim
-O seu TIM?
-Sim, Senhor!
-Meu TIM?
-Sim, Senhor!
-GPS?
-Já está no carro.
-Chaves?
-Todas aqui!
-Cigarro?
-Sim.
-Isqueiro?
-Ai ai.... *cara de menina envergonhada*
*cara de puto da vida*

Você deve estar se perguntando se eu nunca ouvi falar em telefone celular que aceita mais de um chip. Eu descobri isso um dia depois de ter comprado meu modelo NOKIA porcaria. Depois, eu tenho aquela vontade de ser aceita pela sociedade. Assumo! E todo mundo que eu conheço anda por aí com 2, as vezes 3 celulares. Ah, eu queria fazer parte desse grupo de pessoas descoladas!!!

E todo mundo acaba tendo o mesmo modelo NOKIA porcaria que eu tenho. No começo eu achava divertido. Cada vez que alguém puxava da bolsa um celular igual ao meu eu sorria orgulhosa! Depois de um tempo, isso começou a me irritar.

Outra coisa que me irritou também, é que pessoas com quem eu não tenho muito assunto passaram a me ligar constantemente. Uma das vezes foi mais ou menos assim:


-Alo?
-Tavi?
-Oi.. quem é?
-É a Maria Clara.
-Maria Clara... ah sim.... Maria Clara.... então.. eu não to localizando....
-Maria Clara, tavi, fiz faculdade com vc. Morena... baixinha...
-Hãm.... é...
-A da pinta na cara, tavi!
-Ah, sim, Maria Clara.... lembro! Tudo bem?
-Tudo e vc?
-Tudo... Nossa quanto tempo, hein?
-Pois é né. Não dava pra te ligar. Vc só tinha celular da CLARO. A Sabrina me passou teu TIM. Agora por 0.25 centavos, podemos conversar por horas e horas!
-É... que bom....
-Ótimo!
-É.......... Então... quanto tempo, hein?

Sem dúvida, o mais irritante e constrangedor, é que outro dia fui almoçar com um amigo que tem o mesmo modelo NOKIA porcaria, e sem querer acabamos trocando os telefones. Cheguei em casa e percebi que a Maria Clara não tinha ligado. O meu CLARO tocou.

- Alo, Tavi... Eu to com o seu TIM e vc ta com o meu.

O Desespero tomou conta de mim. Eu me odiei muito. Não por ter trocado o celular por engano, mas por não ter apagado meses de mensagens do meu aparelho... Será que ele vai ler? Ai meu Deus, com certeza ele vai ler! Só iríamos destrocar os telefones no dia seguinte. Eu suava de nervoso. Eu guardo mensagens comprometedoras.

Fui ao encontro dele já preparada pra ficar roxa... Ele não disse nada. Destrocamos o celular, falamos sobre a vida e o tempo, almoçamos e fomos embora. Alivio! Ta aí um cara discreto – pensei. Nos despedimos. No estacionamento do restaurante ele emparelhou o carro com o meu e buzinou. Olhei.

- Ah, tavi... só uma coisa...
- Diz.
- Manda um beijo pra loira_delicia22.... rsrsrsrsrssrsrsrs





=S

quarta-feira, 26 de maio de 2010

TEORIAS


- Alô
- Essscuuuuta essa! Você não sabe da melhor....
- Humm... conta..
- A Delia ta me provocando por orkut. Depois de tudo que ela falou sobre odiar isso, ta lá ela. Fazendo também.
- Ai, meu Deus!
- Aquela falsa
- Mas o que ela escreveu pra te cutucar?
- Ah, ela pos lá “Em cada 5, um não presta e me atrapalha a vida”
- hahaha... e vc achou que isso era pra vc?
- Claro que sim! Ontem estávamos na mesa... eu contei mentalmente, eramos exatamente 5. Eu sei que ela não gosta de mim. Isso vem de longa data. Só não entendo porque ela não me esquece. A Delia não perde uma oportunidade de me provocar.
- Você está viajando! Meu, não era nada disso.
- Ah, e vc tem uma teoria melhor?
- Sim, obviamente que essa foi pra mim.
- O que????
- É só vc pensar. Eu moro numa republica com mais 4 amigas. Quem morava aqui antes de eu chegar? A Delia. E se dava bem com todo mundo. Desde que eu cheguei ela não vem mais aqui nem visitar... isso é comigo.. só pode ser.
- Ah, não sei não... meio forçado isso...
- Forçado nada. Olha só, o Rafa me ligou agora há pouco pra comentar essa mesma frase da Delia. Ele estava meio constrangido porque... ah, você sabe,né? A Delia saiu com 5 caras da faculdade até hj. O último foi quem? O Rafa. E, tadinho... eu imagino que ele, a julgar pela cara de bonzinho, não deva ser exatamente uma “sex machine” né? Rsrsrs. Então. Ele tava achando que era pra ele, mas depois que eu contei a historia da republica, até ele disse que pode ser pra mim.
- Bom, sei lá... ainda acho que é pra mim. De qualquer forma, amiga, isso mostra o tipo de pessoa que ela é... fazendo provocaçãozinha pra todo mundo.
- Relaxa, amiga. Eu que não vou esquentar. Nem ligo pra isso. Na verdade eu nunca liguei nem um pouco pra o que os outros acham. Amanha vou por isso no orkut.
- Ah, sei lá... melhor não por. Se vc gasta seu tempo pra por no orkut que vc não liga pra o que os outros acham, alguém pode acabar viajando e achar que no fundo vc liga, se não, não teria posto nada.
- Ah é. Verdade. Bem pensado. Então não vou por nada que é pra todo mundo ver que eu não ligo.
- É isso aí... Assim que se fala!

Enquanto isso, em outro telefonema...

- Delia?
- Oi, linda... tudo bem?
- Tudo, e vc, ta sumida...
- Ah, ando trabalhando demais. Arrumei um emprego novo. Estamos tentando aumentar a aceitação do chiclete trident, no mercado....
- E como está sendo? Sucesso??
- Ah, mais ou menos, né? Por mais que a minha equipe se esforce, apenas 4 em cada 5 dentistas recomendam trident. Tem sempre um dentista do contra me atrapalhando a vida!

=)

E quem é que nunca suspeitou?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A LAGARTIXA

No começo se é criança, e a visão do bicho ousado subindo pela parede é devastadora. Não aceitamos, em nosso quarto, essa presença. Não contemos os gritos. Choramos por ajuda, até que alguém maior e mais forte, heroicamente, salve-nos do perigo e desespero, e atire o mal pela janela.

Depois, mais crescidos, decididos e inabaláveis adolescentes, mais ousados ainda que o inquietante animal, afirmamos com veemência que não o tememos. Ainda assim, pedimos socorro com olhar ausente e discreto. Não é medo – mentimos – é repulsa. Só isso. E ainda alguém nos livra da chateação.

Amadurecemos. Com o tempo aprendemos a matar nossas próprias lagartixas. A primeira nos traz a maravilhosa sensação de poder. A segunda, nos reafirma de nossa capacidade. A terceira, nos é indiferente.

E então, uma noite, somos seres independentes e solitários, olhando, no teto, a lagartixa que faz de nosso quarto, seu reino. No primeiro dia, ignoramos. Não contamos a ninguém que demoramos a dormir. Escondemos o fato de que por vezes, acorda-nos no meio na noite o coração violento, o corpo levemente tremulo e a mente em negação.

Mas o cansaço vem chegando, ainda maior que o bicho... Ainda maior que o medo...

Na segunda noite, entramos em casa exaustos, com nossos uniformes, nossos contratos e nossas chaves de carro... Lembramos do bicho. Olhamos pro teto. Pensamos em pegar a escada escondida numa pequena despensa do apartamento, mas caímos no sono antes disso. As vezes, sentimos calafrios e os ignoramos.

O terceiro dia é o da decisão. Revoltados pelas noites mal dormidas, os olhos fundos, o corpo dolorido, entramos em casa e vamos direto ao nosso quarto, caminhando pesadamente, orgulhosos de uma força imensa que nos dá a certeza de que o bicho está com os minutos contados. Mas no teto – surpesa! – não há nada.

Arrastamos móveis. Obstinados, reviramos a casa. Abrimos gavetas, tiramos quadros do lugar. Nenhum sinal. Balançamos a cabeça. Dizemos a nós mesmos “ela se foi.” Mas sentimos ainda sua presença, como algo pessoal, quase sádico, nos torturando e causando pesadelos.

É lá pela quinta ou sexta noite que a reencontramos. No alto da parede. Tão alto, tão longe... Mas nossa força já se foi. O consolo dos travesseiros e a esperança do descanso derrota nosso desejo por auto-superação. Pensamos enfim em tudo que aprendemos sobre as lagartixas, tão inocentes e inofensivas. Pesamos prós e contras até que, deliciosamente rendidos à hipocrisia e ao alívio que ela nos traz, fechamos os olhos, sorrimos pra ela, até. Dormimos tranqüilamente.

É então que a lagartixa sorri para nós. E desce, vitoriosa, de sua parede. Contorna a cama, debochada. Toca os nossos dedos dos pés. Acaricia-nos a batata da perna. Caminha, segura de si pelas nossas coxas e sem acordar-nos de um sonho bom, penetra-nos o sexo, aninhando-se enfim em nossas entranhas.

Nunca mais a vemos. Ela agora é parte de nós.


terça-feira, 9 de março de 2010

O Dono da Chuva


Sempre tive verdadeiro fascínio pela chuva. Enquanto as pessoas a minha volta esperavam por um dia sem nuvens, eu torcia para que elas trouxessem uma linda tempestade de presente pra mim. Desde criança, sempre adorei olhar a chuva da janela do meu quarto, batendo no vidro, caindo soberana, envolvendo as pessoas em sua atmosfera estranha e em seu aroma único.


Morei por muitos anos em um apartamento no 22º andar. Era o último andar do prédio e havia uma boa área descoberta. Eu e meu irmão ficávamos ouvindo o vento e esperando a chuva chegar, para correr pra lá e ter o simples, mas eufórico prazer de tomar chuva. A roupa molhada, pesada e grudada no corpo, as poças no chão em que escorregávamos, a sensação de perigo e da iminência da bronca que levaríamos quando fossemos pegos, se fossemos, e a cumplicidade que toda essa situação fazia nascer em nós, foram detalhes da minha infância que eu jamais esqueci.
Fui crescendo, mas a chuva continuava me proporcionando aventuras. O maior frio que passei em toda a minha vida, foi andando de moto, na chuva, com um amigo, que nessa noite, passou a ser um pouco mais do que amigo. Tremíamos muito,e eu acho que nunca abracei alguém tão forte na vida... Quando chegamos, ele me beijou como se beija alguém com quem se sobrevive...rs. Beijo na chuva, parece mais intenso, mais significativo...

Sexo na chuva é simplesmente inesqueccível . Tive algumas experiencias mágicas. Sexo na chuva gostosa de verão... Sexo na chuva torturante do inverno.... Sexo no carro, proibido, com a chuva caindo na janela e acobertanto o delicioso delito. Sexo e chuva, sempre me pareceu uma perfeita combinação. A chuva tem um poder erótico sobre algumas pessoas. Pensei que fosse só em mim, mas recente descobri que outras mulheres sentem o mesmo. De qualquer forma, esses foram momentos marcantes pra mim.




O tempo foi passando, e em 2008 me dei conta que nunca mais havia andado na chuva. Para mim, foi uma constatação frustrante... Eu ainda amo a chuva e todos os seus sons, seu cheiro, e as lembranças que ela trás pra mim. Eu namorava. Pedi ao meu namorado na época pra me levar passear na chuva. Mas eu andava um tanto doente, com uma tosse interminável, e ele, que não se animou nada com a idéia de ficar molhado por esporte, me lembrou da minha tosse, da minha saúde andava frágil.... O Namoro durou 2 meses e os 2 meses eu passei esperando a oportunidade irrecusável pra ele, pra que pudéssemos correr por uma tempestade. Foi um fim de ano seco.

Um ano depois, eu entrava em uma D/s. Passei a usar a coleira do SENHOR ÁSGARÐ e ele é testemunha do meu empenho pra levar alguém pra chuva... Fiz de tudo que é decente e indecente. Mas ele batia o pé e meu esforço virava uma competição entre nós, típica de nosso relacionamento, pra ver quem tem sua vontade satisfeita. Ele não cede, nesses casos. Pra ele - ele dizia - importa mais que só uma parte minha fique molhada... De fato, tem um lado meu que me faz molhar quando sou contrariada... Mas depois do gozo, a chuva continua... e eu me pego novamente irritada de não poder sair pra me molhar.

Um relacionamento acaba, outro começa, e ninguém quer andar na chuva comigo! – gritava a criança em mim.
Puxa, por que será que é tão difícil para um homem entender o sentido de tudo isso, ou, mesmo sem entender nada, por que um homem simplesmente não faz minha vontade??? Pra me agradar... pra me ver feliz! Essas coisas me passavam pela mente enquanto eu olhava as gotas se formando na janela. Eu estava triste. Eu estava frágil. A chuva era um antídoto, e eu estava envenenada. Eu seria capaz de chorar por isso. Eu ficaria deprimida. Eu dormiria o dia todo.

Foi então que ele segurou minha mão e disse:

- Vamos sair na chuva? – e sorriu seu melhor sorriso.

Eu olhei pra baixo, perplexa.
E ele insistiu:

- Mãe, por favor, só essa vez, vai... a gente pode ir andar na chuva?

Era verdade! Aquele 1.07 metro de gente tinha dentro dele a mesma vontade que gritava em mim. Ta certo, ele não era um namorado... não haveria beijo, nem desejo, nem romance.... Mas haveria diversão e haveria riso!

Fiz cara de quem diria não, mas ao mesmo tempo, abri a porta e puxei meu filho pelas mãos. Ele não acreditava. Nunca vou esquecer em sua expressão, o misto de surpresa e felicidade que vi aquele dia. Corríamos os dois, dançando na rua deserta e abandonada para que apenas nós fizéssemos uso da tempestade, digna de um dilúvio, que molhava nossas roupas e nossos cabelos. Ríamos. Éramos livres ali, para sentir alegria em sua manifestação mais eufórica e tola. Éramos tolos correndo na chuva, e adorávamos isso! Tinha que ser com ele. Mesmo que algum namorado tivesse me levado andar na tempestade, satisfazendo uma vontade minha, não teria sido tão divertido. Tinha que ser com ele. A chuva era dele, tanto quanto sempre foi minha. Ele era o Dono da chuva. A criança molhada, segurando minha mão, lembrava muito a criança que sorria dentro de mim.

- Mãe, a gente tá vivendo uma aventura – ele gritou.



Eu amo a chuva. Ela costuma ser o cenário de momentos muito preciosos pra mim.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ELES...



Eu não tive escolha. A porta foi trancada assim que passei por ela, e a chave, um deles levou consigo para algum cômodo da casa, e retornou já sem ela em mãos. Ele sorria quando disse:
- Agora pra ir embora vc terá que me pedir.

Desviei o olhar. Tentei pensar em algo pra dizer.


Um deles sempre me deixava assim: tímida, sem reação, muito consciente de mim mesma e de todos os meus atos. O outro eu queria sempre agradar, mimar, queria sempre correr as mãos em seus cabelos e fazê-lo compreender todos os sentimentos que ele fazia nascer em mim. Mas a minha capacidade de me expressar era absolutamente reduzida por aquelas duas presenças inquietantes.


Um sabia claramente do meu desejo pelo outro. Eles compartilhavam minhas vontades e as discutiam de forma leve quando jantavam juntos. Um deles dizia que eu era excêntrica. O outro sabia que eu era especial.
Um me fazia sentir acolhida, manuseada com cuidado como uma pedra preciosa de um brilho fora do comum. O outro me deixava tensa e ansiosa, e sabia disso. E gostava disso.


- Quer beber alguma coisa? – um deles perguntou.
- Vinho – foi tudo o que consegui dizer.


Mas o vinho chegou e a bebida parava na minha garganta.


Ele tomou a taça de minhas mãos e bebeu o líquido adocicado. O outro deixou o copo de água sob a mesa e me beijou. Eu saboreava seus lábios quentes, os sorvia, os desejando profundamente em cada centímetro do meu corpo. Em seu jeito de beijar, ele deixava claros sentimentos guardados por tanto tempo. Eu sentia a suavidade de seu cuidado comigo, e sabia que ele esperara muito por esse momento. E no auge, quando o beijo não bastava mais em si, o outro me virou com força, interrompendo, se impondo, escorregando a língua em minha boca sem pedir licença, me invadindo, conquistando espaço em mim com uma facilidade que me humilhava. Eu não resistia. Eu permitia. Eu não tinha escolha. Que beijo estranho! Incomodo... e ainda assim, irresistível. O beijo dele era o desejo em sua forma mais simples. Luxuria pura. Poder... o poder dele em mim.


Eles brincavam comigo. Me passavam de um para o outro e eu admirava cada um, em sua habilidade de me mover, de fazer meu corpo responder aos toques das mais variadas formas. Eu estava entregue e perdida neles. Sentia o gosto de cada um. Um tinha gosto de mel e o outro de sangue. E os gostos se misturavam em minha boca. Eu não sabia mais quem era quem. Eu os via como dois seres diferentes e ao mesmo tempo como um só. Eles se fundiam, de vez em quando. Penetravam meu sexo como um único ser e lá dentro se dividiam... Eu explodia em prazer como nunca antes... Eu gritava pra ouvir minha própria voz e ter certeza de que eu não derretera e me tornara um com eles. Não. Eu permanecia. Eles... eles, como vultos incertos, é que as vezes entravam na mesma sombra e sorriam satisfeitos, orgulhosos de me deixarem absolutamente confusa e feliz.



Ficou na minha memória o gosto doce e seco dessa noite. E nunca pude saber ao certo se sonhava ou se vivia.... Se eram dois ou apenas um, separados por alguma divindade jocosa, e enviados pra me provocar, pra divertir, pra me salvar do tédio dos dias e das pessoas constantes, das divisões exatas dos seres tão exatos. Ou ainda - e havia essa possibilidade – se era um só e minha mente o dividia. Se eu sentia, com ele, um mundo de alternativas e caminhos tão opostos.


terça-feira, 19 de janeiro de 2010

CONT@TO



Antigamente, o contato direto, olhos nos olhos, permitia ao ser humano analisar melhor cada situação e cada pessoa, e dava-nos a certeza de que a linguagem corporal, como uma forma de permanecer em pé, ou um movimento muscular, como um franzir de testa, denunciaria sentimentos, tanto nossos, como de nossos interlocutores. Era tudo mais simples. Tudo mais direto. Tudo um pouco mais preto no branco.


A internet abriu um mundo de possibilidades. Ela nos trouxe a vantagem de que através dos comunicadores, dos sites de relacionamentos, e salas de chat, podemos retomar contato com pessoas que, em outros tempos, povoariam apenas as nossas lembranças. A Avó antiga contava aos netos histórias sobre o idealizado primeiro namorado. A avó atual, conta aos netos sobre o primeiro beijo. Eles perguntam: Foi com aquele careca no teu Orkut que vive enviando correntes? Nossa, que homem chato!
Também podemos facilmente matar as saudades de nossos queridos que residem em outros estados, ou até mesmo outros países. A internet abriu muitas portas e simplificou, sem duvida, nossas vidas.

Mas também é verdade que o contato virtual traz consigo alguns perigos. Uma falha de conexão em um momento delicado de uma conversa mais acalorada, pode ter sérias conseqüências. “Como ele pode simplesmente desligar o MSN na minha cara?” – você pensa, enquanto no Rio Grande no Norte, seu amor virtual olha pra janela, angustiado, torcendo pra que a tempestade acabe logo e a conexão retorne e possa lhe fazer uma jura de amor eterno, ou então, dar-lhe finalmente o “Foda-se” que lhe ficou entalado na garganta. Ou melhor, nos dedos.......

E dedos não são confiáveis. Quem já digitou por mais de três horas, bem o sabe. Uma letra em lugar errado e pronto, perdemos um amigo, um afeto ou um possível relacionamento. É como o caso de um amigo meu que havia conseguido finalmente o MSN da menina que ele tem admirado por muitos anos. Na sua saudação, ela havia escrito uma mensagem, dizendo que estava triste. Ele foi mostrar solidariedade:

Rogério: Jéssica, não fica triste assim.... Vem cá... Encosta sua cabecinha no meu pinto e se abre pra mim.
Rogério: ooops... pinto não, PEITO. Eu não quis dizer pinto, não...
Rogério: e o “se abre pra mim” não foi o pareceu.... RS... do lado de pinto pareceu coisa de tarado mas não era não
Rogério: Jéssica? Cadê você?

Há também a infelicidade das coincidências.... Em seu Orkut, numa tarde ensolarada, meu irmão conta que mudou sua “Status Message” para “OH HAPPY DAY”, o que expressava seu sentimento de felicidade naquele belo Domingo de sol. Dois dias depois, recebeu o seguinte e-mail mal educado de seu melhor amigo:

Você não precisava ter feito isso. Eu sei que você nunca gostou muito da minha mãe, sei que ela não te tratava muito bem e sei que vc, como todos os meninos do prédio a apelidaram de Dona Doida. Eu concordo que minha mãe era uma mulher geniosa, mas nunca esperei que você colocasse em seu ORKUT a frase “Oh happy Day” no dia em que minha mãe faleceu. Que falta de consideração. Estou te deletando do meu Orkut.


Deletar alguém do Orkut hj em dia, equivale a um assassinato. É algo grave, que machuca o ser deletado, as vezes mais que o ser traído. Conheço um casal que já não andava bem. A namorada trocou seu nome por três pontinhos, numa tentativa de exteriorizar a sua dor. O namorado se conectou e viu entre seus amigos alguém sem nome e sem foto. Não teve dúvidas. Deletou o ser misterioso. Horas depois recebeu uma ligação da namorada. Ela gritava:

- Você me traiu, e eu podia até passar por cima disso. Mas me deletar do ORKUT? O que meus amigos vão pensar? Alem de ter me traído, você me ignora e me DELETA. Pois bem, Delete-me de sua vida.

E lá se foi um namoro de dois anos.

E muitos e muitos namoros se vão por falta de cautela no ambiente virtual. Antigamente os infiéis não mantinham listas de contato, revelando todos os possíveis casos amorosos extra-conjugais que aguardavam sua vez. É comum, hj em dia, a amante, por “descuido” enviar uma mensagem de duplo sentido a seu querido, noivo de outra, sabendo que a oficial sempre passa pelo site de relacionamento de seu amado noivo, simplesmente pelo prazer de ali deixar uma mensagem de bom dia.

Os mais críticos, neste ponto, podem estar ressentidos com os infiéis. Não se deve dar-lhes razão, mas é preciso dar-lhes o atenuante de que a internet cria um ambiente absolutamente propicio às traições. Alguns recursos da rede a tornam parecida com um grande mercado de pessoas, que qualquer um pode freqüentar em seus pijamas, desde que tenha uma boa foto tirada em frente ao espelho para disponibilizar. E quem, sendo absolutamente honesto, pode afirmar que não tem em sua lista um amigo, um ex namorado, um conhecido do escritório que, vez por outra, envia um emoticon não muito apropriado? Ou demonstra uma preocupação ou um carinho levemente excessivo? Resumindo, todos nós somos desejados, ao menos moderadamente, tendo ou não consciência disso. Considerando que todo ser desperta desejos, qualquer um que tenha mais de 50 pessoas em sua lista, não poderia, sem fazer uso de hipocrisia, negar que é bem possível haver um certo numero desses, aguardando uma chance de demonstrar que nutrem por nós, alem de amizade, o famoso “algo mais”.

A grande vantagem disso tudo, é que aprendemos a conviver com a humanidade dos seres. Fica explicito que não existe perfeição, nem na conduta, nem no uso do Português. Fica inegável que gostamos de ser admirados, que amamos falar de nós mesmos, que temos momentos de fúria e de profunda solidão. Tiramos conclusões precipitadas. Somos capazes de lidar com o fato de que outras mulheres desejam nossos namorados, e de que somos desejadas pelos namorados alheios. São sentimentos. Não precisam virar atitudes. Podem ser negados, escondidos na ausência da tecnologia. Mas com a modernidade, vem a necessidade de nos olharmos mais no espelho, de nos assumirmos mais, de nos compreendermos melhor. A internet causa grandes mal entendidos, que, se analisados, esclarecem muito sobre a natureza humana. Cabe a cada um, quando cruzar com os defeitos alheios em qualquer sala de chat, exercitar a compreensão, ter um pouco mais de paciência... e apenas em ultimo caso, e frente à certeza da má intenção do outro, clicar alguém para fora de nossas vidas modernas.

=)

tavi