sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

SETE - Parte 7 - O meio


O mês de julho terminou silencioso. Eu voltei naquela mesma madrugada, para a minha casa. Não esperei por ordens ou despedidas. Apenas peguei meus poucos pertences e as chaves de meu carro. JOSHUA me abraçou enquanto as entregava para mim, pessoalmente.

- Armand está preocupado com você. Ele me pediu pra te entregar isso caso você fosse embora.

JOSHUA passou um pequeno bilhete para as minhas mãos.

- Obrigada – falei, e guardei o bilhete na bolsa.

- O que você quer, menina?

- Eu não sei – respondi, honestamente.

- Desistiu de ser minha?

- Sim, Senhor.

- E por que?

- Porque o Senhor tinha razão sobre mim. Eu não sou uma submissa pura. Tem algo em mim que vai além. Eu falhei vergonhosamente no teu teste.

- E quem disse que você falhou? Você fez o que eu achei que faria, a princípio. Confesso que no meio do caminho eu tive minhas dúvidas. Achei que você pudesse não ser tão complexa quanto eu havia imaginado no começo.

Ele riu.

- Teria sido bom, sabe? Se eu estivesse errado sobre você, teria sido bom te ter na minha coleira. Mas da forma como as coisas se mostram, se eu te aceitasse como minha, em poucos meses você estaria frustrada e começaria a falhar comigo, me frustrando também. Você levaria algum tempo pra se dar conta de que eu não sou o que você precisa. É normal as pessoas se perderem em meio a tantos papeis. E quando elas entram em relacionamentos no BDSM sem saber exatamente quem são, nunca termina bem. Eu tenho orgulho de quem você é. Uma pena que você ainda não saiba.

- Não está decepcionado comigo?

- De forma nenhuma, criança. Você é uma pessoa incrível.

Sorri, confusa.

- Eu entendo que você queira ir. Talvez você precise disso agora. Mas as portas estão abertas. Fique, se quiser, e se descubra aqui.

Eu me afastei.

- Eu não posso. Logicamente eu te entendo. E não tem nada do que eu possa formalmente te acusar, mas...

- Continue.

- Dentro de mim... Eu sinto algo... Eu sinto raiva e dor.

- É natural. Mas saiba que aqui você tem amigos com quem pode contar. E saiba também que eu me sinto um tanto responsável por você. Não se surpreenda se eu achar uma forma de te proteger, mesmo que a distância. É a minha natureza.

Era verdade. Eu sabia. E me sentia honrada.

Cheguei em casa. Tomei um longo banho. Liguei a televisão. Já era dia. Mas não fazia diferença pra mim. Dormi o dia todo, e a noite inteira também. Era como se meu corpo precisasse disso.

Nos dias que se seguiram, meu telefone raramente tocava. Meus pensamentos me deram uma trégua. Eu apenas existia, jogada no meu quarto, andando pela sala como se procurasse o meu lugar.

Com o tempo, me dei conta de que minha casa não mais me refletia. Tony havia decorado seu ambiente de forma brilhante e tão contestadora quanto sua personalidade. JOSHUA tinha poucos móveis, mas tudo que era dele refletia seu bom gosto incontestável. Armand tinha espelhos vaidosos como ele espalhados por todo o ambiente. Quem era eu? O que eu devia ter? Minha casa dizia muito pouco sobre mim.

Em agosto tranquei minha matrícula na faculdade de Direito e fui estudar música. Comprei um piano. Fui aos poucos, assumindo as rédeas de minha vida, antes sempre tão jogadas ao acaso. Fiz amigos. Frequentei festas. De alguma forma tudo o que passei havia me ensinado muito. Consegui um emprego compondo pequenos arranjos musicais para peças de teatro. Havia um mundo comum, seguro e completo em suas terríveis rotinas tão temidas por mim, que foi, ironicamente, o que me acolheu quando meus sonhos se desfizeram. E eu, aos poucos, parecia encontrar o meu lugar, de pessoa comum, nesse mundo preto e branco.

Mas a verdade é que havia noites em que eu me deitava e lembrava do galpão. Eu sonhava com as celas, com a dor, com as marcas, com o cheiro do couro e o barulho dos chicotes. Mais de uma vez, cortei minha própria pele, e deixei o sangue sair de mim como se ele pudesse levar com ele o meu desejo de ser usada com sadismo. Não era a mesma coisa. Apenas atenuava a falta que eu sentia. Marcada pelo meu próprio punhal, eu ainda dormia insatisfeita.

Eu me lembrava de tudo e todos que conheci naquele galpão. Mas a imagem de Armand era a mais presente em mim. E eu nem sabia se ele sentia culpa por ter brincado comigo daquela forma. Por muito tempo não abri o bilhete que ele me mandou através do JOSHUA. Eu tinha medo que suas palavras atenuassem minha raiva. E a raiva que eu sentia, era tudo que havia me restado. Era também uma estratégia minha pra fugir da tristeza, da mágoa, e do luto de um sentimento abortado antes que pudesse sequer ter se instalado em mim, em sua plenitude. Armand havia me roubado isso. Eu jamais saberia por que caminhos esse sentimento me levaria. Mas isso não importava! O que ele havia feito era errado. Ou pelo menos, havia sido feito para a garota errada!

Quando o desejo que me perturbava se tornou maior do que eu pude aguentar, pus uma roupa preta, provocante, e fui sozinha a uma das festas fetichistas do meio BDSM. Constatei que havia vida fora do galpão. Nem tudo acontecia mediante a aprovação de JOSHUA. Era difícil, porem, para quem havia aprendido tudo o que sabia dentro de uma estrutura tão organizada, compreender e aceitar tanta distorção do BDSM. Cenas de agulha em meio ao barulho e no escuro de uma pista de dança, escravas dando ordens a seus Donos, tendo crises publicas de ciúmes e possessividade, câmeras de TV filmando os rostos de quem por alí passava, piadas sendo feitas por curiosos que nem conheciam o sentido da palavra fetiche... Mas tinha ouro também, no meio de tanto falsas jóias. E eu, como o JOSHUA, também tinha notável habilidade para separar o joio do trigo. Sentei-me à mesa com as pessoas mais interessantes que por ali se encontravam.

Uma delas era uma Senhora de cabelos claros e curtos. Aparentava ter entre 45 e 50 anos de idade. Vestia-se em um impecável tailleur preto e belíssimos saltos. Seus comentários eram extremamente bem pensados e sempre acrescentavam uma visão experiente e sóbria à conversa. Minha admiração por ela foi imediata. Fiz perguntas e mais perguntas sobre BDSM, que ela pacientemente respondeu, com a devoção de quem ama o tema. Pessoas sentavam-se e deixavam a mesa, mas eu e Domme Clara permanecíamos, entretidas em uma das melhores conversas que já tive sobre dominação, até que ficamos sozinhas por alguns instantes.

- Como é seu nick, menina?

- Lady Scarlet – respondi, orgulhosa.

-Ah... Switcher?

- Não! – quase gritei - Sou Dominadora.

Domme Clara riu.

- Desculpe. É que vejo claramente essa necessidade de ser moldada em você. Não esperava por um “Lady” antes do seu nome.

Fiquei extremamente irritada.

- Pois saiba que quando eu era apenas scarlet, todo mundo me dizia o contrário.

- Todo mundo, quem?

- Todo mundo que importava – respondi.

- Scarlet, digo, Lady Scarlet, meu bem, você já mencionou o quanto detesta ser testada. Mas me permita testar-te de uma forma que eu prometo que você ira gostar?

Olhei desconfiada. Ela continuou.

- Veja, este a meus pés é o trovador, meu escravo. Você passou boa parte da noite dizendo o quanto é difícil ficar sem o SM. Pois bem, pegue a coleira dele em suas mãos. Você pode usá-lo à vontade sob a minha supervisão.

Eu sabia que aquela era uma grande honra. Eu deveria ter ficado contente, mas não fiquei.

- Bem, Domme Clara, eu...

- Quieta garota! Não terminei minha oferta!

- Sim, Senhora – respondi, sem perceber.

Ela continuou:

- Ou... Veja esse chicote em minhas mãos. Tem 3 metros. Eu andei treinando minhas habilidades apagando velas. O Trovador infelizmente não tem resistência para esse tipo de dor. Se você preferir exercitar seu outro lado, Lady Scarlet, o que eu tenho pra te oferecer é uma longa cena com esse chicote. Até o limite do que você possa suportar.

Eu não conseguia parar de sorrir. Domme Clara aceitou o sorriso como resposta. Tirou uma coleira de sua bolsa e a pôs em meu pescoço.

- Não se preocupe. Essa não quer dizer nada. Apenas que você me servirá esta noite. Agora, venha comigo. Vamos por ordem nessa festa maluca.

Ela caminhou e eu a segui.

- Não, não, não, não, Lady. Assim não. De quatro!

Eu ri nervosamente. Achei que ela estivesse brincando. Mas não estava. Eu pus os joelhos e as mãos no chão e a segui até o outro lado da boate.

Domme Clara falou com algumas pessoas. A luz do palco foi imediatamente acesa. A música eletrônica foi trocada por algo mais apropriado. E alí, diante de centenas de olhares, senti a dor de cada golpe do chicote incessante daquela Sádica maravilhosa. Era um momento mágico. Quase instantaneamente, ela trouxe a tona a masoquista quase esquecida em mim. E essa faceta minha voltou bem mais segura, mais ousada, bem mais consciente de seu próprio poder. O masoquista é, de uma certa maneira, glorioso também.

Foi então que eu novamente senti o seu olhar em mim. Armand, entre os presentes, observava minha cena. Depois de um tempo eu pude localiza-lo. Ele não parecia contente. Isso intensificou enormemente o meu prazer. Cada gemido, agora, tinha ganhado um novo sentido.

Foi atingida por 100 golpes do novo instrumento de tortura de Domme Clara. Ela sorria. Era uma cena que seria lembrada por muito tempo. No final, pessoas que eu nem mesmo conhecia se aproximavam pra me dar os parabéns. Eu devia muito a ela, mas via-se claramente em seu olhar que ela também devia muito a mim. Um Sádico precisa do masoquista capaz de dar asas aos seus desejos, trazendo-lhe não apenas o principal, que é o prazer de exercer o sadismo, mas também o reconhecimento, que para um TOP, frequentemente é parte considerável do prazer total do BDSM.

Fui uma das últimas pessoas a ir embora. Domme Clara me apresentou para mais gente do que me era possível registrar. Trocamos telefone. Aquela noite nascia uma amizade com toques de parceria, e eu conheci o SM puro, sem pretensão de pertencimentos, sem desejos que vão além. Eu havia sido dela em cena. E nada mais que isso. É verdade que eu contei com seus conselhos durante um bom tempo, mas a responsabilidade dela sobre mim também terminava ali. Era um jogo possível e agradável e que, apesar de ser pouco pra mim, naquele momento, servia-me perfeitamente.

Na saída, Armand se aproximou.

- Scarlet, espera, quero falar com você.

- É Lady Scarlet. E eu não quero falar com você.

- JOSHUA te entregou meu bilhete? Você chegou a ler?

-Não. Eu rasguei o bilhete assim que o recebi.

Ele pareceu irritado. Mas conteve-se.

- Não podemos começar de novo? – ele tocou meu braço – Prazer, Armand – e sorriu.

- Prazer, Lady Scarlet – eu disse, oferecendo as costas de minhas mãos para que ele a beijasse. Ele apenas sorriu e não tocou minha mão.

- Viu? Não podemos começar de novo. Nós tivemos uma chance e você a jogou fora em nome de um teste bobo. Agora eu não sou mais quem eu fui, Armand. É tarde demais.

- Podemos ao menos ser amigos? – ele perguntou.

Eu sorri.

- Podemos – respondi, já entrando no carro. Saí dalí o mais rápido que pude.

Esse havia sido o primeiro de muitos sábados em que o meu rosto (e boa parte do meu corpo, também) foi visto pelas festas do circuito fetichista da cidade. Com o meu conhecimento, meu masoquismo, e o apoio de algumas pessoas escolhidas a dedo por mim, antes mesmo de trocarmos o primeiro olá, eu em pouco tempo me tornei um dos nomes mais comentados do meio. Eu era admirada. Criei perfis em redes sociais. Eles rapidamente se enchiam de amigos, pretendentes e wannabes. Era como estar em hollywood. Dominadores e Sádicos reconhecidos no meio derramavam diante dos meus ouvidos criticas a qualquer pessoa que, segundo o julgamento deles, tivesse chance de me conquistar. Recebi conselhos diversos. Alguns se ofereciam para me proteger, como se eu fosse uma criança indefesa, sem nenhuma chance de conseguir dizer um não pra quem eu não quisesse. Outros diziam que eu não deveria frequentar o meio para evitar fofocas, como se qualquer comentário maldoso fosse capaz de ferir meus sentimentos a ponto de me impedir de ir onde eu quisesse estar. Algumas coleiras me foram oferecidas. Um Dominador muito respeitado chegou até a oferecer uma “ajuda de custos” para que eu aceitasse o seu domínio. Eu seguia achando tudo muito divertido, porém não me deixava facilmente impressionar. As únicas propostas que eu aceitava, eram para cenas públicas, com os Sádicos sabidamente mais radicais. Isso sim, me era irresistível. A dor era muito mais importante do que as relações mantidas com quem quer que a causasse em mim. E meu exibicionismo era cada vez mais evidente. Eu era um ícone do cenário atual. E todo mundo já havia ouvido histórias sobre mim e sobre as minhas cenas. Homens que eu jamais havia cumprimentado juravam que haviam me atingido com seus chicotes. Eu apenas sorria e os deixava dizer o que quisessem. Eu era parte da fantasia deles. E, desta forma, as minhas supostas aventuras seriam parte das fantasias de Armand.

Era interessante observar a vulnerabilidade em um TOP. Na imaginação de muita gente, TOPs são pessoas avessas a sentimentos intensos. Na verdade, o que em geral não condiz com a personalidade de um TOP é o sentimentalismo em excesso. Porem, esses deuses quase sempre idealizados são mais carnais do que parecem. E se magoam também. E tem também seus dilemas e inseguranças. Isso, de forma nenhuma, os diminui em seu papel. Armand era extremamente sensível, sagaz e introspectivo. Ele analisava à exaustão cada fato. Era tão fácil magoá-lo. E o prazer que isso me causava, era novidade para mim.

- Scarlet, você não acha que está exagerando? – Armand me disse, em uma das festas.

- Não, Senhor – respondi – Estou apenas começando.

- Então seja minha essa noite. Você sabe que nenhuma de suas cenas aqui é comparável ao que podemos fazer juntos.

Armand se aproximou mais do que deveria. E parte de mim só queria fugir... Outra parte, queria se render... E eu não sabia mais qual das duas era mais forte.

O trovador então se colocou entre nós. Eu nunca havia o visto em pé. Era um homem imenso.

- Armand, A Lady Scarlet está sob a proteção da Domme Clara. E, portanto, sob minha proteção!

Armand parecia prestes a explodir em raiva. Mas ele sabia que trovador estava apenas cumprindo seu papel. Essa interrupção me permitiu criar coragem. Segurei a guia da coleira do trovador. Busquei o olhar de Domme Clara. Ela imediatamente compreendeu minhas intenções e acenou positivamente, me dando liberdade de ação, embora torcesse os lábios, demonstrando não achar que o que eu faria era exatamente uma boa idéia. Eu caminhei para o palco, conduzindo o trovador. Armand me olhava com reprovação e balançava a cabeça, descrente do que estava vendo.

Olhei trovador, de cima a baixo

- De quatro! – eu disse, com voz firme, mas sutil.

Ele imediatamente me obedeceu. Fiz com que ele subisse os degraus até o X. Não foi difícil pra mim usar algumas cordas para amarra-lo alí. Eu havia observado aquelas amarrações sendo feitas nos meus punhos por várias vezes. Domme Clara mandou que uma submissa com quem ela conversava me levasse uma mala recheada de chicotes, velas, clamps, e todo o equipamento que ela usava em cena. Nos seios nus da submissa, ela havia me escrito uma mensagem:

Bem-vinda, LADY Scarlet. Use o que quiser. Divirta-se! DC

Eu sorri. Era gostoso sentir o poder que vinha de mim. Algo me mudava. Eu respirava como se me enchesse de mim mesma. Eu caminhava como se tudo à minha volta me pertencesse. Eu não era uma personagem simplesmente. Uma parte de mim, nem sempre visível, assumia o controle do meu corpo e de minhas emoções. E foi essa parte que escolheu a cane de madeira entre milhares de opções, e com ela, e apenas com ela, açoitou por diversas vezes o corpo entregue e delirante de trovador. Ao mero som da cane cortando o ar ao seu redor, ele se contorcia em dor e ansiedade, ora desejando, ora temendo o meu toque cruel e libertador. Eu ria alto quando o acertava e o via tremer. Descobri que eu, quando me vejo perante a submissão, sei fazer dela bom uso. E me torno deliberadamente sádica e impiedosa. Eu me perguntava se não era assim com todo mundo. Talvez todos tenham um lado sádico. Será que desenvolve-lo ou não não depende das circunstancias? Será que ter alguém completamente a seu dispor não possa ser o gatilho para novos desejos e sensações? Eu demorei a aceitar que o que eu sentia não era apenas circunstancial. Eu demorei a entender que eu, assim como JOSHUA, também tinha em mim o raro desejo de dominar, de controlar, de causar dor...

Era tudo muito novo. Eu ainda não sabia como o sadismo era motivado em mim. Tony era um sádico relativamente puro. JOSHUA causava dor para ter controle. Armand era completamente viciado em fazer verter o sangue, em deixar suas marcas, como se ao abrir a pele ele tocasse o intimo da masoquista. Ventríloquo, com a dor que causava, levava as mulheres a um estado de fragilidade emocional no qual ele podia protegê-las. Miss Catsy machucava pra se impor também, de forma mais sutil e quase maternal. Mas era difícil analisar a mim mesma. O fato é que cada gemido de trovador me excitava. Sobretudo quanto o meu olhar e o de Armand se encontravam enquanto eu atingia aquele submisso. Chegou a passar pela minha mente que eu talvez estivesse apenas usando o trovador pra me vingar. Todo o meu sadismo podia ser direcionado apenas a Armand, e estar projetado naquele que me servia. Mas o fato é que eu fui, aos poucos intensificando os golpes. E quando o trovador perdeu o apoio das pernas, já cansadas e fragilizadas pela dor, eu imediatamente cortei as cordas, deixando que ele caísse ao chão. Andei até ficar de frente pra ele. Levantei seu queixo com a cane. Trovador, como um garotinho encolhido, beijou meus pés e disse:

- Senhora! Piedade, Senhora!

Ele me olhou. E nesse olhar, eu soube que eu, enquanto Sádica, era exatamente como Armand. Eu queria deixar minha marca na alma. Eu queria ser lembrada pelo meu poder. Eu queria, mesmo que por um momento, reinar soberana na mente de quem ousasse entregar seu corpo aos meus cruéis cuidados.

Desci do palco. Recebi alguns rápidos cumprimentos. Procurei Armand. Ele não estava mais por perto.

- Lady Scarlet? – disse Domme Clara

- Obrigada – eu disse – Por tudo. Especialmente por ter me mentorado nessa descoberta.

- Me agradeça depois. Agpra vá atrás de Armand.

- Como assim? Por que eu faria isso?

- Por que agora vocês estão quites. Você o fez sofrer. Agora seu orgulho já vai permitir que você lute por ele. E acredite, você vai precisar lutar.

- Lutar? Eu não entendo...

- Hoje você ganhou sua vingança. E perdeu os sentimentos de Armand por você. Não sei se ainda pode recuperá-los, mas se quiser tentar, é bom se apressar.

Eu ri nervosamente

- Sentimentos? Do que você está falando? – perguntei, confusa

- Ah, você não chegou a ler o bilhete? Uma pena!

Abri minha bolsa. Em uma minúscula repartição, peguei o pequeno pedaço de papel. Hesitei. Mas eu sabia que era hora. Desdobrei o bilhete de Armand e o li:

“Scarlet, eu fiz o que eu tinha que fazer. Mas eu não menti. Tudo que eu te disse é verdade. Eu sinto que você é perfeita pra mim. E eu sei que eu posso te dar o que você mais precisa. Se você puder me perdoar, me procura. Estarei esperando.”

Depois dessas palavras havia apenas o número do celular de Armand.

- Como você sabia do bilhete? – questionei Domme Clara

- Ah, garota, vai dizer que você ainda não sabe quem esteve te mentorando esse tempo todo! Nas festas fetichistas eu sou conhecida como Domme Clara. Em um outro local, bem mais interessante, eu sou quem eu realmente sou: Mistress Vera! E não fui eu quem tomou conta de você por aqui.

- o JOSHUA! – eu disse – Voce é uma dos Sete!

Ela riu.

- Como se o JOSHUA fosse deixar uma pedra preciosa como você abandonada à própria sorte!

- Então você conhece bem o Armand. Me diz, Mistress, é verdade o que ele escreveu? Ele se importa comigo?

- Mais do que você possa imaginar.

Eu a abracei forte ao ponto de deixa-la constrangida. Mistress Vera desamassou sua blusa com as mãos. Mas sorriu com certa timidez.

Eu saí o mais rápido que pude e entrei no carro. Liguei varias vezes para o celular de Armand. Depois da quarta ou quinta tentativa, ele atendeu.

- O que você quer?

- Falar com você. Por favor...

- Pensei que você fosse sair da festa com o sub da Clara...

- Não faz isso. Você sabe que eu não iria...

- Eu não sei de nada. Eu nem sei quem você é.

- Eu também não sei! É tudo novo pra mim. Onde você está?

- Indo pro galpão. Parei no acostamento

- Ok... ok... eu te encontro. Me espera...

Desliguei o telefone. Eu nunca tinha dirigido de forma tão irresponsável. Mas ele não podia estar muito longe, e se ele chegasse ao galpão antes de mim, eu não sabia se ele iria me receber.

Avistei a moto de Armand. Parei no acostamento. Ele entrou no carro.

- Me desculpa – eu disse – Eu estava muito machucada.

Eu não conseguia esconder meu medo de que ele simplesmente partisse.

Armand parecia distante. E frio.

- Certo. Eu posso compreender, scarlet, posso até te desculpar. Mas eu preciso saber quem você é. Você precisa saber quem você é.

Respirei fundo. Era difícil admitir

- Armand, eu sou muitas. Nesse mundo novo, uma Switcher, alguém com desejos e habilidades em várias direções. Eu amo a dor. Causá-la, e sentí-la. Eu amo o poder. Obtê-lo ou estar sob ele. Eu sou scarlet, e Lady Scarlet, e também sou quem eu era antes de conhecer tudo isso. E eu acho que de certa forma você tem todas elas...

- E o que você quer de mim? Eu certamente não vou me submeter a você! – ele disse, firmemente.

- Eu sei... Eu sei... E nem é isso que eu queria.

Armand me olhava de forma impaciente. Eu sabia muito bem o que eu queria. Apenas não sabia como pedir. Para um switcher a submissão não vem sem certa luta interna. Orgulho e desejo estão sempre muito presentes, opondo-se e confundindo. Eu queria ser mais simples. Como nina. Ela era simplesmente uma escrava. E divinamente treinada. Completamente segura e orgulhosa de sua submissão. Ela certamente saberia o que fazer. Sem pensar duas vezes, ela se lançaria aos pés do homem a quem quisesse servir. E de forma direta e graciosa ela se diria dele. Mas pra mim, tudo aquilo parecia difícil demais. Ou fácil demais pra ele. Eu queria ve-lo tomar posse de mim, e não aceitar uma entrega pronta e discreta.

Armand me compreendeu em um olhar. Ele me beijou e nesse beijo era impossível que ele não soubesse o quanto esse momento havia sido desejado. Eu o puxava pra mim, até ser impossível chegar mais perto. Ele moveu os bancos pra trás e se deitou sobre mim. Eu estava assustada. A qualquer momento alguém podia chegar. Eu não sabia que tipo de problemas poderíamos ter. Tentei fazer ele parar, mas ele grudou no meu cabelo, me deixando imóvel com seu peso e sua força.

- Armand, aqui não...

- Você é minha? – ele perguntou.

- Sou. Sou sua. – respondi, sem hesitar.

- Então fica quieta, enquanto eu tomo posse do que é meu.

E no carro parado no meio da estrada, no escuro da noite, mesmo assombrada por todos os meus maiores medos, eu sei que eu faria qualquer coisa que ele quisesse, porque ele saberia me levar a isso. Não havia um limite sequer. Todos eles ele havia conquistado com o estranho efeito que ele tinha em mim. Eu era só desejo e entrega. E ele tirava de mim a dor e o prazer com a mesma facilidade. Eu o sentia me penetrando com violência, e movia meu corpo contra o dele. Sentia a adrenalina correndo em mim. Meu gozo foi incontrolável quando ele disse:

- Minha scarlet! Você me pertence... Eu faço o que eu quiser com você!


(continua...)





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4 comentários:

luna disse...

Oba!!!!!!!!!! Queria tanto que ela ficasse com ele!!!!! rs. Quero mais, quero mais!!!!!!

docealiz disse...

Nossa o que e isso ... menina não consegui parar de ler esqueci da vida aqui ... parabensssss

bjosssss meus

{docemorena}_Doutrinador ®

tavi disse...

luna,

pois é... mas isso não é o fim, ainda... rsrsrsr

tavi disse...

doce morena,

ah.. que gostoso!!!
Hj postei a parte 8... espero que agrade tb... rs

tavi