terça-feira, 15 de julho de 2008

SEX SHOP



Entro. Destemida.
Sorrio e digo bom dia à recepcionista, uma moça já vestida e tatuada adequadamente para passar a impressão de que entende do que fala. Toco meu piercing como que para ter certeza que ele continua lá. Ok. Piercing em posição. Sou do meio. Veterana. Sigo tranqüila.
A morena tatuada se aproxima lentamente enquanto olho as fantasias... enfermeira, diabinha, dominatrix... Ela acha a brecha pra puxar aquele papo explicativo:

- Essa ia ficar linda em você. Você tem um jeito de mulher mais confiante... mais... dominadora!

Eu rio, discretamente.

- Tem alguma de empregadinha?

Enquanto ela se inclina procurando a fantasia, diga-se se passagem, um pedaço de pano ruim se fazendo de avental e um vestidinho preto curtíssimo, desses que tenho uns 20 jogados no armário, eu vejo a tatuagem mal feita em sua batata da perna. Duas anjinhas, se beijando, com as pernas entrelaçadas. A brincadeira acaba de ficar mais interessante...

Rejeito a fantasia... sigo para o corredor de cosméticos. Cremes, óleos e todo tipo de gel com todo o tipo de efeito.

- Esse aí...
- Esquenta – interrompo – acido faz isso
Rimos...

- Ah, esse é fantástico... óleo de massagem..
- Comestível... tenho alguns... Tem de manga?
- Hummm.... não... morango... laranja... kiwi vc conhece?
- Hum rum... já tenho também. Só falta mesmo o de manga.
- Esse vou ficar te devendo.

Vejo as camisinhas. De vários sabores, modelos, marcas e tamanhos. A que brilha no escuro, a estriada, para seu prazer. Tudo parece continuar inalterado no cenário dos preservativos. Vejo que a morena sorri imaginando que tem uma novidade:

- Uma coisa interessante é que temos também a camisinha feminina. Não sei se já ouviu falar. E está em promoção por 12 reais apenas!
- Ah, sim, a reality? Essa que vende em farmácia mesmo?
- Vende? Já? Não sabia...
- Sim. Tem na Drogasil, por seis reais.
- Ah... – ela sorri desconcertada.

- Por acaso você tem meia arrastão?
Os olhos dela se enchem de um brilho feliz.
- Tenho, tenho sim. Muito boa a marca... veja...
Eu olho... olho...
- é boa... mas eu quis dizer arrastão 7/8
- Nossa... dessas no Brasil eu nunca vi!
- Eu compro sempre...É até fácil de achar mas imaginei que como estava aqui podia já levar algumas....
Ela baixa a cabeça... e arruma o piercing do umbigo.

Largo as meias no balcão e caminho para o fundo da loja... e encontro enfim, a ala sadomasoquista do estabelecimento. Agora sim estou em casa. Mas ela insiste em me seguir. Meus olhos que já brilhavam de prazer agora molham em um sadismo delicioso. Vejo os chicotes, se é que se pode chamar aqueles produtos mal acabados de chicotes... e vejo ao meu lado a morena tatuada, malhada, bronzeada e perfurada... provavelmente já enfadada de tantos filmes pornôs de baixo orçamento. Confiante, segura de que nada mais haveria no mundo fascinante dos acessórios eroticos que a pudesse impressionar. Meu sorriso já é de gato de Alice, a vendo prestes a entrar um mundo tão alem de sua imaginação.

- Você tem algum flogger?
- Um o que?
- Chicote de tiras...
- Não.. mas temos esse, estilo tiazinha.
- A chibatinha?
- Sim, acho que sim.
- Tem alguma longa? Mais resistente? Chibata de verdade?
- Não... de verdade acho que não.
- Tem paddle?
- O que?
- Palmatória.
- Tipo... de madeira mesmo?
- Borracha... ou madeira mesmo. Você tem?
- Não.
- Tem longo?
- Consolo?
- Não, chicote. De 3 metros.
- Nossa. Não.
- Tem cane?
- O que?
- Deixa pra lá...

Eu sei, eu realmente deveria ter ido devolta à selaria, mas eu não queria escandalizar ninguém... É, não queria, mas a oportunidade se lançou a meus pés como uma submissa desesperada por coleira, e eu não poderia, de forma alguma, dizer não a ela.

A morena suspirava baixinho. Se fosse outra, a essa altura já teria me abandonado no meio de todo aquele couro mole, mas não. Ela permaneceu. E se permaneceu até então, senti que talvez houvesse nela o mesmo orgulho e o mesmo brilho no olhar que havia em mim. Talvez ela também fosse uma apaixonada pelo conhecimento alternativo, e buscasse, tanto quanto eu, despertar nas pessoas uma certa admiração, um certo reconhecimento pela experiência de vida em um cenário ainda tão restrito e criticado. Porque não é qualquer um que ama o sexo e o desejo a ponto de contra todos os preconceitos e constrangimentos, ir em busca de aprender sobre filmes, dildos, óleos de massagem, fantasias e chicotes. Nem toda mulher sabe prender meia na liga, embora a maioria saiba muito bem criticar uma mulher que saiba prender meia na liga... Somos raras, que se atrevem a provar antes de dizer “não gosto”, tesouros que sabem ter prazer de tantas formas, pérolas que aceitam o novo e que sabem exatamente como tocar outras pérolas, e também desvendar os mistérios do sexo oposto, e que gozam de verdade. E que se não gozam, reclamam e pedem mais. E nem sabemos as vezes que somos perolas, porque àquelas que nos cercam, ensinamos a nossa liberdade, e transmitimos esse dom, como se um dom se transmitisse, e fazemos o impossível: Quebramos as pedras do preconceito, da limitação, e da cultura.

Ou talvez fosse outro o motivo. Mas o fato é que ela continuava ali.

Peguei uma algema... ela corou... era coberta de pelúcia rosa. E pra piorar não trancava. Fui compassiva. Não disse nada.

Suspirei... Ela sorriu solidaria.

- Bom... mas temos coisas boas...
- Cordas para bondage?
- Não trabalhamos com corda.
- Aparelhos de eletroestimulaçao?
- Isso não. Mas já ouvi falar.

Então fiz o que uma mulher deve fazer quando se sente completamente desestimulada. Caminhei para o corredor dos vibradores, na mesma velocidade que se caminha para a forca.

- Esse, o que faz?
- Potencia máxima! E tem essa pontinha pra estimular o clitóris.
Liguei... doía até na mão e fazia um barulho dos infernos.
- Esse outro aqui.... é seguro?
Apontei para um consolo preto de proporções imensas, descrito como acessório de dilatação sexual.
- É sim... se usado com carinho, né?
Como meu estilo não é exatamente carinhoso, passei para outro.
- Esse aqui você enche de água e poe para congelar. É o nosso best seller!
Era bom, realmente... mas eu já tinha. E fui olhando. E era tanta coisa, mas as idéias eram as de sempre. Devo ter olhado uns vinte tipos quando algo me chamou a atenção.

Ele era de tamanho médio. Cor da pele. E se destacava como um mistério no meio de tanto pau revolucionário.

- Esse. Esse aqui... o que faz? Fala?

Ela riu.
- Não. É um modelo antigo. Um consolo de borracha, tamanho médio.
- Mas ele não faz nada?
- Não. Nem vibra nem nada.
- Sei, mas... e como usa?
Os lábios dela finalmente então se moveram satisfeitos
- Esse você introduz onde preferir e imita os movimentos mecânicos de uma relação sexual tradicional.
- Uma o que?
- Uma relação sexual tradicional.
Achei original.
- Vou levar. Quanto é?
- 15 reais.
- Passa no debito pra mim?

E assim, fiz minha mais recente aquisição em uma sex shop. E a compra foi perfeita. Como um bom sexo baunilha. Primeiro eu tive prazer. Depois foi a vez da vendedora. Nada de estrepulias, nada de meia nove pra encurtar caminho. Eu tive meu momento, ela teve o dela.

Mas claro que.... isso estava tradicinal demais pra mim. Ela me levou até a porta e puxou um assunto qualquer. Conversa vai, conversa vem, eu resolvi leva-la pra casa experimentar o meu novo brinquedinho sexual...

4 comentários:

branca disse...

Eu aqui lendo e já triste pq nada do que esperava aconteceu, quer dizer, quase não aconteceu...rsrs

Segurou minha atenção,surpreendeu no final e ainda atiçou a minha imaginação.

Lindo...adorei!

Beijos meu amor

rayanah{CSoG}

Sarinha disse...

*Rindo muito*

Tavi, amei seu post. Sei exatamente o que passou nesse seu passeio, pois sou uma consumidora assídua (quase viciada) de sex shops.

Realmente, comprar produtos SM em sex shop é coisa de quem realmente não quer o efeito que desejamos hahaha...

Agora, tem algumas coisinhas interessantes como os óleos que esquentam, queimam, gelam, dançam e fazem café rs. Os vibradores, plugs e etc etc...

E fico feliz ao ver esse sua história da mulher ouvindo sobre o que procurava, pois não me sinto sozinha nesse mundo hahahaha... Poxa, as vezes sinto que as vendedoras dessas lojas devem pensar "que vadia" rs.

Bom, amei seu post (e desejo que tenha passado nas mesmas lojas que eu, para que vejam que não sou a única rsrsrs

E... O final do post foi incrível hahahahaha...

Um beijo amorrrr

Sarinha

- quero mais posts hein!!!! hehehe

Anônimo disse...

Oi pequena,

Adorei teu post. Um texto gostoso de ler, que nos prende e nos atiça a querer saber como vai terminar. E o final então? Simplesmente um desfecho delicioso!

Parabéns querida!

Beijos deste que te adora muito!!
Pépe

Anônimo disse...

Gostei do post,pareceu um trecho de um livro,prendeu do início ao fim a leitura...beijos
Do leitor assíduo

tavi