terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

SETE - Parte 8 - Duas Peças



 Foi bem diferente esse segundo despertar na casa seis. Meu corpo estava novamente dolorido e coberto pelas marcas que ele havia deixado em mim. Mas eu sabia quem eu era. E ele estava do meu lado.

Saí da cama com cuidado para não acordá-lo. Abri as janelas com vista para o centro do círculo formado pelas sete casas. Era a primeira vez que eu observava tão atentamente o que estava por cima do galpão. Andei até a clareira. Fiquei em pé, exatamente onde eu calculava que devia ficar o X.

- É um pouco mais à direita – eu ouvi

Virei-me assustada. JOSHUA caminhava em minha direção.

Sorri para ele, de uma forma mais livre, mais honesta, talvez. Eu me sentia realmente feliz.

- Espero que não seja um problema eu estar aqui.

- De jeito nenhum. Eu te disse que você seria sempre bem-vinda.

Ele sorria também. Com uma satisfação difícil de compreender.

- Vejo que Armand tem cuidado muito bem de você – ele disse, observando os cortes nos meus braços.

- Muito bem – respondi – Ele tem talento.

- Sim, não resta dúvida. Armand é um Sádico talentoso. Mas você... Todas as apostas apontam para você.

- Apostas?

- Sim. Eu imagino que a essa altura você já tenha uma boa noção da proposta que eu vou te fazer.

- Sim. Eu entendo agora. E tudo começa a fazer sentido. Coisas que antes eu ouvia... Mas não conseguia encaixar. Me faltava uma peça no quebra cabeças.

- Não, meu bem. Faltavam duas. Uma você encontrou quando submeteu o trovador com seu sadismo. A outra você ainda não faz nem ideia do que seja.

- Mas eu sei, JOSHUA. Sei de tudo. Sei o que quer de mim.

- Scarlet, eu nunca te vi como minha escrava. Sempre te olhei como uma possível parceira. Eu pude verificar que você tem o que acrescentar aos Sete. Você é a constatação personificada de que uma masoquista pode ser também uma excelente Dominanora. Eu pude te ensinar várias formas, técnicas, e conceitos. Alguns deles você aprendeu na prática. Outros por simples observação. A sua existência ensina muito aos outros membros do grupo. Além disso, eu sei da tua confiança em mim. Eu acredito que você, bem instruída, tem melhores condições de manter meus ideais do que qualquer outro candidato.

- Acha que eu estou pronta? – perguntei.

- Não. Ainda não. Mas o que te falta, te será ensinado. Lembra-se de quando você fez a escolha de comandar a cena entre o Tony e a angel, pela internet, ao invés de vir me servir?

- Lembro.

- Desde então eu estava convencido de que você carregava as duas vertentes do BDSM em você. Mas você só soube disso, de fato, na noite passada. Como TOP, você ainda está engatinhando. Em circunstâncias normais eu te treinaria longamente antes de fazer qualquer proposta. Eu não gosto de atropelar os momentos de descoberta. Mas o fato é que o Druída não deve retornar, a não ser para uma festa de despedida. E é importante que o grupo esteja completo.

Eu sorri

- Sim, eu entendo... Sei da sua preocupação com os números...

- Números não são só números. São agentes do equilíbrio. Eu não vou pregar minhas crenças que excedem o BDSM pra você. Eu sei que você acha tudo isso bobagem.

- Hey! Eu não sou cética. Apenas tenho minhas próprias crenças.

- Não foi uma crítica, Scarlet. Eu gosto da forma como você pensa. E acho que ela também é um agente de equilíbrio por aqui. Você, exatamente como é, se encaixa perfeitamente.

Ouví passos. Armand se aproximava. Ele passou seu braço esquerdo pela minha cintura e me beijou.

- Olá, JOSHUA.

- Bom dia, Armand. Eu estava justamente dizendo à sua garota o quanto eu gostaria de tê-la como membro dos Sete.

Armand sorriu. Era óbvio que o convite o havia agradado.

- Eu acho fantástico. Mas essa escolha tem que ser somente dela. Enquanto livre. O que ela decidir, terá minha aprovação.

- Bem – disse JOSHUA - Minhas intenções estão claras agora pra você. Mas o convite só será feito oficialmente em outro momento. Por enquanto eu gostaria que você já fosse refletindo sobre a ideia de ser parte do grupo. Como eu disse, é importante que você tenha todas as informações cabíveis antes de tomar uma decisão.

- Estou ciente. E honrada. E aguardo ansiosamente a última peça do quebra cabeças, JOSHUA.

JOSHUA se retirou para a casa 1 e Armand e eu permanecemos na clareira. Nossa alegria era imensa. Eu era livre de todos os enganos e fixações que me impediam de ser dele. Ele, por sua vez, podia finalmente me desejar como escrava, sem que isso pudesse ser interpretado como desrespeito ao líder de seu grupo. Ele me levou até o meio da clareira. Era a hora. Eu sabia o que ele esperava de mim. E era também minha vontade que aquele fosse o momento.

Ajoelhei-me aos pés daquele que eu havia elegido como meu Senhor. Um pouco tremula, cruzei os braços estendidos e baixei o olhar.

- Diga. Diga o que eu quero ouvir – ele ordenou.

Sorri. Eu precisava dessa confirmação. Ele me deu segurança para continuar. Minha voz demorou a sair, mas cada palavra foi pronunciada com convicção.





- Eu, conhecida como scarlet, me submeto aqui, em tudo, a ele, conhecido como Armand, para ser sua escrava, sua menina, um artigo de sua propriedade, para que ele faça comigo o que bem desejar.

Não havia coleira ali. Ele riu ao constatar o fato. Mas isso era muito pouco para impedir que tudo fosse consumado. Armand rasgou um pedaço de sua camisa e a amarrou no meu pescoço.

Estávamos achando o nosso jeito. A minha coleira era leve. Nós gostávamos dessa leveza, do riso, da sensação de que tudo ia além da escravidão. Eu era dele. Eu faria tudo por ele. É verdade que, muitas vezes, relutantemente. Mas ele sabia muito bem o que o esperava. E era, sem duvida, apto para lidar com uma escrava como eu.

- Sobre a coleira improvisada, é menos do que você merece. Mas você é uma escrava. Vai ter que compreender – ele riu.

- Sua escrava – completei.

- Sim. Minha! – ele disse, com orgulho.

Voltamos para a casa seis e tivemos uma tarde simplesmente fantástica.

Eu ainda estava nua na cama de Armand quando o telefone tocou. Ele atendeu prontamente:

-Sim. Druída? Quanto tempo!

Ele ajeitou-se na cama como quem leva um susto.

- Ah, sim. Sim, ela está aqui. Mas é importante que você entenda... Ela é minha agora. Isso não é uma aventura nem qualquer tipo de desrespeito. Tudo foi acontecendo aos poucos mas ... Não... Definitivamente não é isso.

Armand tentava se explicar, mas ficava a cada instante mais nervoso e apreensivo.

- Olha, eu entendo, mas isso não te dá o direito de falar assim comigo. É melhor você baixar o tom.

Era obvio que eu era pivô dessa discussão. Armand ouviu algo que o irritou a ponto de bater o telefone no gancho.

- Que aconteceu, Armand?

- O Druída. Ele não aprova o que a gente tem. Detestou a ideia de você ser minha escrava.

- E quem é ele pra aprovar ou desaprovar qualquer coisa por aqui? Volta pra cama comigo... Mostra pra ele quem manda em mim...

Armand desvinvulou-se de mim com um movimento brusco. Eu me assustei.

- Você não entende... E eu não posso explicar, mas o Druída tem um certo poder de decisão sim.

Armand se vestiu rapidamente.

- Onde você vai?

- Falar com o JOSHUA.

- Eu vou com você.

- Não. Me espere aqui.

- Armand, eu estou indo com você. Eu tenho direito de saber o que está acontecendo.

O olhar dele mudou em menos de um segundo.

- Você tem o que?

- Direito – eu repeti, incerta.

- Você tem o direito de me obedecer.

Joguei o travesseiro em cima do rosto. Era a primeira vez que eu realmente sentia o peso da coleira.

Esperei que Armand entrasse pela porta da casa um e peguei o telefone. Não foi difícil achar a lista dos últimos números que haviam discado para ele. O telefone tocou na casa do Druída. Eu o ensinaria a nunca mais tentar decidir o que aconteceria ou não na minha vida.

- Hello?

- Who is it?

- Frank here. Who would you like to speak to?

Eu estava absolutamente perplexa. Sentei-me novamente na cama, tremula, perdida, confusa...

- Pai? Foi você que ligou pro Armand? Você é o Druída?

 
(continua...)

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Um comentário:

([{mila}])MAGNO disse...

tavi, eu to esperando o final surpreendente deste conto interessante e gostoso de ler.
nao demora nao, a dias eu to esperando a continuação rsrsrs

tavi